Imagem: DIVULGAÇÃO |
This critic is part of Fantasia Festival 2021 coverage
O filme se passa por volta dos anos 1800 e após um desastre
no orfanato onde mora, Amaia é salva por uma vampira e mordida por esta. Assim,
ela está destinada a imortalidade desde que fique nas sombras e saia em dias nublados.
Acompanhamos a jornada dessa menina quando ela conhece Candido, um homem que perdeu
a mulher e a filha e encontra em Amaia uma segunda chance.
Essa segunda chance também é algo que o filme aborda usando o terror, como muitos filmes do gênero fazem. Para Amaia, é a chance de ter a família e a vida que nunca teve, para Candido, é a chance de destinar a alguém o amor que sente pela filha falecida, de maneira que mesmo ele sabendo o que a menina é, ele pouco se importa com isso, ele apenas precisa de alguém para fugir da solidão.
A solidão é algo que afeta a todos daquela vila. O menino
com o qual Amaia faz amizade, é uma criança sem amigos não por falta de
oportunidade, mas sim porque não há crianças naquele vilarejo, os mais velhos
em compensação tentam substituir o amor entre eles mesmos pelo amor a Deus, o
que não é ruim (cada um tem e busca o amor que acha o melhor para si), mas eles
se esquecem das pessoas que estão ali e se rendem facilmente ao padre, que usa
a dor como ferramenta para o convencimento.
Talvez por isso o local seja escuro daquele jeito, o que é
perfeito para Amaia por motivos óbvios, não apenas pelo clima, mas também pelas
pessoas que moram ali. A claridade vem do afastamento desse local, nas cenas na
floresta, por exemplo, ou até mesmo quando a lua, clara, brilhante e imensa é
mostrada em vários momentos.
É como se o que é bom estivesse longe dali e não ali. Amaia,
inconscientemente sabe que ali não é o lugar dela, pois não é ali que ela vai
encontrar a paz desejada em meio ao caos da sua vida, mas, sem querer
romantizar experiências ruins, foi ali que ela entendeu os problemas da vida
eterna e da falta de crescimento, físico e mental.
Ela viu o povo do local como pessoas preconceituosas e
limitadas, o que eles são, não pela religião, mas por outros motivos que o
filme expõe bem (só reparar no egoísmo deles e no isolamento imposto em relação ao novo) e viu que ela não podia viver para sempre, ela não podia
ver todas as luas (como foi dito a ela pela pessoa que a mordeu), porque
ninguém pode fazer isso e principalmente, ninguém deve fazer isso.
A morte é parte natural da vida e é de certa forma, como a
protagonista desse filme descobre o que significa viver. “All the moons” é um
filme sobre ciclos dentro da solidão efêmera que é a nossa passagem pela vida.
Triste ou não, é mais real do que parece.
Texto que faz parte da cobertura da edição 2021 do Festival Fantasia
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