É difícil ver uma escritora tão bem sucedida quanto J.K.Rowling, porque o mundo sempre preferiu homens no mercado de trabalho, o que é um absurdo, ainda bem que J.K conseguiu prosperar em um mercado machista e misógino. O sucesso dela não é à toa, poucas pessoas conseguem criar um universo tão rico e independente, contextualizar este universo com a filosofia, gerar um estudo imenso de personagem e ainda entreter.
Com o fim de “Harry Potter”, a maioria das pessoas pensou
que nunca mais iria vislumbrar o universo bruxo em algum filme inédito,
felizmente, com “Animais Fantásticos e Onde Habitam” dirigido por David Yates o
público ganha mais uma forma de penetrar no mundo instigante criado por
Rowling.
Sempre usando o mundo das ideias concebido por Platão e a
lei moral de Kant -intencionalmente ou não - como forma de fazer a sociedade
bruxa ser logica e mais real do que a nossa, a historia contada aqui é a de
Newt Scamander, um zoólogo que usa uma maleta na qual carrega vários animais
para estuda-los e divulgar para a sociedade a sua teoria. Scamander vai para
Nova York, onde após um acidente alguns dos animais da maleta se perdem pela
cidade, então, a estadia do rapaz tem como missão recuperar as criaturas.
Com uma historia totalmente independente de “Harry Potter”,
em “Animais Fantásticos”, não temos uma metáfora infanto juvenil inserida em um
contexto adulto - e mesmo quando tínhamos isso não era ruim -, aqui temos uma
historia adulta contada de forma a ser usada como comparação com a sociedade
atual. Esta comparação é o grande mérito do filme, vemos a mídia dando atenção
demais a um candidato a presidência, vemos intolerância e propagação do ódio
usando a religião como desculpa e ainda é passada uma mensagem sobre
preservação do ambiente e depressão.
Todos os aspectos citados acima são enriquecidos e bem
transmitidos graças a uma fotografia escura e que adota os mesmos tons de “Harry
Potter”, alternando entre preto e cinza e com predileção ao clima nublado, e
também pelo elenco, que é muito competente, cada ator ou atriz é perfeito para
seu respectivo papel. A montagem ajuda a historia a ser orgânica e fácil de
acompanhar, chega até mesmo a ser leve de ver o filme, mesmo sendo uma historia
pesada e conturbada.
Os efeitos especiais que conceberam os animais da maleta de
Newt e os habitats naturais de cada um deles são belíssimos e condizem com o
amor que o personagem tem por cada bicho que vive ali, as cores de cada
ecossistema varia de acordo com o animal, então, quando vemos animais que não
apresentam nenhum tipo de risco as cores são claras e vivas, da mesma forma que
animais que são mais agressivos são apresentados em ambientes escuros, cinza,
ou apenas monocromáticos, como é o caso do Obscurial, que a meu ver, é uma
metáfora física para a depressão, depressão que faz vitimas tanto na obra aqui
analisada quanto na vida real.
Com isso, “Animais Fantásticos e Onde Habitam” é um filme
muito bem dirigido, que gera reflexões importantes e que coloca de volta nas
telonas o universo altamente multifacetado que foi brilhantemente concebido por
J.K. Rowling. É bom termos reflexões tão serias sendo passadas de forma tão
didática e até mesmo divertida no cinema.
Nenhum comentário:
Postar um comentário