Falar de uma banda como os Beatles não é uma tarefa fácil,
por vários motivos, alguns deles são a história longa que protagonizaram por
anos, suas músicas e entrevistas e a abrangência do público que era atingido
por eles, não por conta das pessoas e sim por conta da época de tensão por
causa da Guerra Fria e da segregação racial nos Estados Unidos.
Logo, a tarefa que Ron Howard assumiu é desafiadora, pegar
tudo aquilo descrito acima, e utilizar para contextualizar a história de quatro
garotos músicos. Tarefa essa que foi cumprida com maestria nesse “Eight Days a
Week”, que consegue contar a história da banda para quem não a conhece e
agradar o fã saudosista que sabe de tudo o que foi divulgado até hoje.
E isso poderia ser feito de diversas formas, porém, a
escolha de Ron Howard é a de utilizar imagens de arquivos de pessoas da banda
ou próximas a ela, intercaladas com depoimentos, sejam esses antigos, como no
caso do produtor, de John Lennon e de George Harrison, ou de novos, como as
atrizes Sigourney Weaver e Whoopi Goldberg, críticos de música e o jornalista Harry Kane, que acompanhou uma
das turnês feitas nos anos 60.
O trabalho de pesquisa aqui feito é magnifico, e maior do
que isso é o trabalho feito na disposição dessa pesquisa no filme, pois,
conseguimos perceber como a banda foi abrangente – Goldberg deixou bem claro
isso em sua entrevista – e ainda vemos certa independência nos dados, pois, se
o filme fosse apenas as imagens das turnês e as músicas ainda assim conheceríamos
a historia, se o filme fosse apenas os depoimentos dos entrevistados e o de
pessoas já falecidas, ainda conheceríamos a historia, e claro, se o filme fosse
apenas as musicas, definitivamente conheceríamos a historia da banda.
Pois, a riqueza de detalhes das turnês são expostas por uma
montagem que facilita o entendimento de algo complexo sem muita confusão, o
contexto no qual os rapazes viviam é exposto pelas imagens, e ainda percebemos
como um sistema capitalista, acabou por prejudica-los, porque pessoas que tem
sensibilidade e senso de inclusão, como percebemos pela negação da banda em
tocar em espaços segregacionistas, comumente acabam sendo destruídos pelo
sistema. Claro que os Beatles não foram destruídos, mas, o público foi
prejudicado.
Prejudicado porque na “Fase Séria” - quando as letras sobre se apaixonar pararam de ser predominantes - da banda, que coincidiu
com o auge da Guerra do Vietnã e da segregação nos Estados Unidos, foi uma fase em que músicas que contem
letras, ou interpretações politicas como “I Am The Walrus”, e álbuns completos
com um contexto de protesto, não foram escutados ao vivo, porque os quatro
rapazes queriam apenas fazer música e não serem incluídos em um sistema que
preza o comercialismo.
E, convenhamos, quantas pessoas por ai apenas querem fazer
algo? Apenas fazer, e não terem a necessidade de ganhar dinheiro ou provar algo
para alguém? Pensando nisso (Acredito eu), Ron Howard dirige um documentário necessário
e esperançoso nos tempos difíceis que vivemos.
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