4/17/2017 03:31:00 PM

Crítica: Eu, Olga Hepnarová

Eu, Olga Hepnarova


A vida pode ser um tanto quanto difícil, na realidade, a vida é difícil, porém, caso as pessoas não tenham uma força mental boa pode acabar se tornando impossível, e a sociedade que busca reprimir, ao invés de ajudar, contribui para isso.

Olga Hepnarová é justamente o retrato de alguém que a sociedade conseguiu destruir, muitos outros são considerados gênios, por terem usado a repressão como forma de buscar a arte, não no caso dela, aqui, foram gerados problemas psicológicos sérios, unidos a homofobia, machismo e bullying que a protagonista sofreu.





O filme, dirigido pelos documentaristas Tomás Weinreb e Petr Kazda, conta a historia de Olga, que, em determinado momento do ano de 1973 atropelou 20 pessoas, matou 8, confessou e foi condenada a morte. Os diretores aqui buscam contar a historia da moça, e expor os motivos que a levaram a fazer o que fez.

Motivos que, o filme mostra, podem ter sido causados não apenas pelos problemas psicológicos, mas, também, pela sociedade na qual a moça vivia. Porque, tudo de ruim que aconteceu foi gerado pela tentativa de algo bom que foi reprimido, quando tentou fazer terapia, foi parar no sanatório, e dentro do sanatório quando se envolveu romanticamente com uma moça, acabou por ser atacada pelas companheiras de dormitório, foi morar sozinha e a mãe acabou por proibir a independência total da garota, se apaixonou novamente, o relacionamento terminou por conta de Olga não se cuidar.

Essa sequencia de “ação e reação”, ou no caso “ação e repressão”, é muito bem exposta através de vários aspectos técnicos, a trilha sonora – no caso a falta dela – é de uma pontualidade absurda, os sons diegéticos acabam por expor a personalidade de Olga, e como a vida dela é vazia de afeto, a montagem, recheada de cortes secos confirma isso, e percebemos pelos vários cortes e falta de movimentos de câmera como a garota faz tudo o que faz e age como age justamente para esquecer de quem é e de seus problemas psicológicos, ela tem plena consciência de tudo, exemplo: primeiramente ela faz sexo buscando o prazer, e é levada pelo prazer a se relacionar com outras mulheres de forma intimista, porém, durante a relação, o olhar dela, e a aparente preguiça de fazer algo mostram que o motivo de ela estar ali não é puramente prazer e sim vontade de preencher sua vida, mesmo que seja com algo vago.

Essa secura, frieza, e aspectos que expõe a consciência de Olga não seriam possíveis se não fosse a atuação maravilhosa de Michalina Olszanska, que consegue passar os sentimentos – ou falta deles – de forma que assusta, não só pela eficácia, mas, e principalmente, pela empatia que a atriz consegue fazer o publico ter pela personagem, sempre evitando o olhar direto com o interlocutor, e sempre evitando qualquer tipo de contato físico que não seja aquele sexual ou o que leve ao sexo, fora que a timidez da garota é exposta também por seus ombros encurvados durante praticamente todo filme. A atriz ainda mostra com seu olhar distante, frio, que sabe aproveitar muito bem a fotografia em preto e branco da obra, já que a falta de cor aqui é uma metáfora para a falta de cor da vida de Olga, e claro, pela autoconsciência que a garota apresenta.

Com pleno domínio da direção, com aspectos técnicos que integram uma mensagem e também fazem parte da personagem, com uma das melhores atuações do ano passado de uma jovem atriz e com uma forte critica a sociedade, “Eu, Olga Hepnarová”, é um filme importante e consegue colocar o espectador na historia com uma facilidade que surpreende, até porque, a historia não é fácil. 

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