A vida pode ser um tanto quanto difícil, na realidade, a
vida é difícil, porém, caso as pessoas não tenham uma força mental boa pode
acabar se tornando impossível, e a sociedade que busca reprimir, ao invés de
ajudar, contribui para isso.
Olga Hepnarová é justamente o retrato de alguém que a
sociedade conseguiu destruir, muitos outros são considerados gênios, por terem
usado a repressão como forma de buscar a arte, não no caso dela, aqui, foram
gerados problemas psicológicos sérios, unidos a homofobia, machismo e bullying
que a protagonista sofreu.
O filme, dirigido pelos documentaristas Tomás Weinreb e Petr
Kazda, conta a historia de Olga, que, em determinado momento do ano de 1973
atropelou 20 pessoas, matou 8, confessou e foi condenada a morte. Os diretores
aqui buscam contar a historia da moça, e expor os motivos que a levaram a fazer
o que fez.
Motivos que, o filme mostra, podem ter sido causados não
apenas pelos problemas psicológicos, mas, também, pela sociedade na qual a moça
vivia. Porque, tudo de ruim que aconteceu foi gerado pela tentativa de algo bom
que foi reprimido, quando tentou fazer terapia, foi parar no sanatório, e
dentro do sanatório quando se envolveu romanticamente com uma moça, acabou por
ser atacada pelas companheiras de dormitório, foi morar sozinha e a mãe acabou
por proibir a independência total da garota, se apaixonou novamente, o
relacionamento terminou por conta de Olga não se cuidar.
Essa sequencia de “ação e reação”, ou no caso “ação e
repressão”, é muito bem exposta através de vários aspectos técnicos, a trilha
sonora – no caso a falta dela – é de uma pontualidade absurda, os sons
diegéticos acabam por expor a personalidade de Olga, e como a vida dela é vazia
de afeto, a montagem, recheada de cortes secos confirma isso, e percebemos
pelos vários cortes e falta de movimentos de câmera como a garota faz tudo o
que faz e age como age justamente para esquecer de quem é e de seus problemas
psicológicos, ela tem plena consciência de tudo, exemplo: primeiramente ela faz
sexo buscando o prazer, e é levada pelo prazer a se relacionar com outras
mulheres de forma intimista, porém, durante a relação, o olhar dela, e a
aparente preguiça de fazer algo mostram que o motivo de ela estar ali não é
puramente prazer e sim vontade de preencher sua vida, mesmo que seja com algo
vago.
Essa secura, frieza, e aspectos que expõe a consciência de
Olga não seriam possíveis se não fosse a atuação maravilhosa de Michalina
Olszanska, que consegue passar os sentimentos – ou falta deles – de forma que
assusta, não só pela eficácia, mas, e principalmente, pela empatia que a atriz
consegue fazer o publico ter pela personagem, sempre evitando o olhar direto
com o interlocutor, e sempre evitando qualquer tipo de contato físico que não
seja aquele sexual ou o que leve ao sexo, fora que a timidez da garota é
exposta também por seus ombros encurvados durante praticamente todo filme. A
atriz ainda mostra com seu olhar distante, frio, que sabe aproveitar muito bem
a fotografia em preto e branco da obra, já que a falta de cor aqui é uma
metáfora para a falta de cor da vida de Olga, e claro, pela autoconsciência que
a garota apresenta.
Com pleno domínio da direção, com aspectos técnicos que
integram uma mensagem e também fazem parte da personagem, com uma das melhores
atuações do ano passado de uma jovem atriz e com uma forte critica a sociedade,
“Eu, Olga Hepnarová”, é um filme importante e consegue colocar o espectador na
historia com uma facilidade que surpreende, até porque, a historia não é fácil.
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