Toda pessoa tem, de tempos em tempos, vontade de esquecer de
si mesma, e por isso há vários aspectos na sociedade que são populares por
causar esse “esquecimento”, como drogas e álcool, arte e o trabalho. É
justamente o trabalho como mecanismo de alivio que é a força desse filme “Viajo
porque preciso, volto porque te amo”.
Dirigido por Marcelo Gomes e Karim Ainouz, a obra conta a
história de José Renato, interpretado por Irandhir Santos, que é geólogo, e
viaja a trabalho, trabalho esse que é a pesquisa de locais para a construção de
um canal, pertencente a uma represa. Essas construções ficarão localizadas no
interior do Pernambuco.
Todo o filme é em primeira pessoa, o que facilita o
entendimento da mensagem principal, que é expor a solidão do personagem
principal, por vermos o que ele vê, e por escutarmos sua voz, acabamos por
criar empatia com o personagem, mesmo que não o conheçamos completamente, a
câmera em primeira pessoa facilita o entendimento do sentimento do personagem,
que na maioria das vezes é de dor e solidão.
As cenas longas facilitam a criação da sensação de solidão
pelo espectador, e tudo isso fica integrado com o que foi descrito no paragrafo
acima, e também na montagem, cheia de cortes secos e as falas longas do
protagonista, porém cheias de sentimento, conseguem expor o isolamento do
personagem. Isolamento esse que unido ao fato de o filme todo se passar no
sertão, dão vida aos sons diegéticos que compõem sua trilha sonora.
E essa trilha sonora, junto com a montagem e com a atuação
perfeita de Irandhir Santos, mostram com exatidão como é possível ser feliz
sozinho, mas, é melhor ter alguém com quem compartilhar a felicidade, e é
justamente isso que José Renato descobre na sua viagem e no seu trabalho, que o
sentimento de dor e solidão dele vai passar, e quando passar ele vai aprender a
lidar com isso com mais maturidade, mas que compartilhar as coisas boas é
melhor do que guarda-las para si.
Marcelo Gomes e Karim Ainouz conseguem criar uma atmosfera
tensa, e que ao mesmo tempo causa curiosidade no espectador, durante as suas
uma hora e quinze de projeção ficamos o tempo inteiro pensando “Qual é o motivo
da viagem?”, “O que ele está tão desesperadamente tentando esquecer?”, e por
conta dessa atmosfera, de uma montagem acertada e de uma atuação competente,
“Viajo porque preciso, volto porque te amo”, é um filme dos mais profundos que
o cinema nacional já produziu.
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