“Sieranevada” não é um filme fácil por uma série de motivos,
porém, o que justifica essa frase inicial é justamente por tratar de uma
maneira real uma reunião familiar que acontece em um apartamento pequeno e que,
acredito eu, a grande maioria das pessoas já esteve em uma reunião assim.
Com foco no personagem Lary (Vivido por Mimi Brãnescu),
médico, e sua mulher, que, após a morte do pai dele, decidem por ir passar todo
um dia com a família, e isso era algo que o patriarca recém-falecido gostava de fazer. Por ter se afastado de toda sua família por opção própria, o médico
encontra pessoas e relembra acontecimentos que acabam por mudar sua
personalidade.
Dirigido pelo romeno Cristi Puiu, o filme conta com uma
inventividade técnica que é a sua maior qualidade. Com a duração de três horas,
a obra se mantém na maioria desse tempo no apartamento do personagem principal.
Para a história funcionar dentro do espaço mínimo de um apartamento comum são
necessárias algumas coisas, como: montagem e movimentos de câmera acima da
média.
Ambos os aspectos estão presentes na projeção, a montagem
com cortes secos é acertada para expor com funcionalidade a passagem de tempo.
Cada vez mais, no cinema, o tempo dos filmes passa mais rápido, dias duram
segundos, horas duram minutos e assim vai, os cortes secos em “Sieranevada”
expõem perfeitamente que a história do filme dura apenas um dia. Um dia, disposto através de poucos cortes e com movimentos de câmera que deixam bem
claro o momento do dia pelo qual passa
Movimentos de câmera que sendo fluidos mostram tudo o que
ocorre no apartamento, seguindo as pessoas que estão nele e não os aspectos
internos dos cômodos. Atrelando isso a montagem, é criada uma atmosfera
realista e, claro, com uma sensação mais real de passagem de tempo. O som
também é parte importante da construção da atmosfera, pois, a cada corte, o som
muda, um exemplo, em determinada cena, uma música está tocando, ocorre um corte
(Montagem), e a música muda, e assim, percebemos que já nos adiantamos um pouco
na história. Isso ocorre de formas diferentes, as vezes, com um corte seguido
de ausência de som, ou uma ausência – corte – presença de som, o que apenas
deixa bem claro como o filme é rico em aspectos técnicos e como usa esses
aspectos como forma de linguagem.
Riqueza essa que também está presente na realidade da
reunião de família retratada ali, que, é algo com o qual, como já dito no
primeiro paragrafo, a maioria das pessoas se identifica. Na reunião, ocorre
muita fala e pouca conversa real, falas e conversas essas que ocorrem entre
pessoas que se amam, claro, mas, ao mesmo tempo, são distantes uma da outra, e
nutrem essa distancia, seja de forma direta ou indireta.
No caso de Lary, percebemos pelos acontecimentos mostrados
justificativas pelo afastamento opcional do médico, e, as risadas dele durante
o momento da maior briga familiar do filme mostram como tudo o que aconteceu é
surreal. Aliando isso, com a montagem, som e movimentos de câmera, o público
acaba por se identificar com ele e claro, acaba rindo também.
Logo, “Sieranevada” conquista seu público através da
empatia, de um retrato da realidade e pela direção de Cristi Puiu, que
orquestra aspectos técnicos de forma a contar uma história difícil, mas, que
acaba se tornando bonita se observarmos bem.
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