4/09/2018 05:03:00 PM

Crítica: “Detroit em Rebelião”

Detroit em Rebelião
Imagem: Divulgação / Imagem Filmes
Kathryn Bigelow é uma diretora que sabe como expor a ação dentro de um filme, de maneira a não ficar confuso aos olhos do espectador e não causar dúvidas sobre o que acontece na cena, sem ser muito rápida nos cortes, porém, sem ser muito devagar também, temos um meio termo perfeito.

Mas não é apenas isso, nunca temos uma sequencia simples de ação, acontecendo apenas para mostrar alguma coisa para quem assiste, sempre tem um objetivo, uma mensagem por trás. Fora a tensão embutida em cada quadro, é impossível se sentir bem vendo um filme de Bigelow, e não tem problema, essa é a intenção.


Assim como em “Guerra ao Terror” (filme que lhe deu o Oscar de Melhor Diretora, a primeira mulher a conquistar esse feito) e em “A Hora Mais Escura”, temos uma história real sendo contada. “Detroit em Rebelião” foca nas rebeliões na cidade norte-americana do titulo ocorridas no ano de 1967.

Na história do filme, é destacado o abuso policial cometido contra os negros no período retratado e ainda temos a concentração dos fatos na história do Hotel Argel, invadido por policiais e pela guarda nacional. Após uma noite de tortura contra os negros (como documentos, matérias jornalísticas e o próprio filme mostram), três jovens foram mortos.

E essa concentração sobre os acontecimentos no hotel fica bem clara devido a opção da diretora, dedicando mais de uma hora de projeção para mostrar o que ocorreu dentro do complexo e nos seus arredores, assim, se aprofundando em cada um dos personagens afetados, Anthony Mackie é um soldado que acaba de voltar da guerra, Hannah Murray (A Gilly da série televisiva Game of Thrones) é uma moça de visita a cidade, Jason Mitchell, Algee Smith, Jacob Latimore são hospedes do hotel que sofrem nas mãos dos oficiais e por fim, John Boyega é um segurança que vê tudo acontecer, acompanhando os policiais na ação, mesmo que não faça nada, para nenhum dos lados.

Nessa sequencia do hotel, a montagem e a posição da câmera contribuem para a criação da tensão. Poucos cortes são utilizados e aqueles usados são muito rápidos, para expor a velocidade dos acontecimentos e a violência destes, quanto mais rápido o corte, mais agressiva a atitude. Em relação a câmera, quase sempre ela está na mão, seguindo os personagens de perto.

E esse seguir de perto cria um ambiente claustrofóbico, pois diminui o quadro e essa redução acaba por gerar empatia, fazendo o espectador se colocar no lugar das vitimas e claro, quanto menor o ambiente, maior a tensão e maior a visualização da dor e do sofrimento ocorridos naquele local. 

Dor e sofrimento retratados logo no fim das cenas no hotel, mostrando o ocorrido com as pessoas que sobreviveram aquilo e como toda aquela noite afetou a vida deles para sempre, um dos exemplos é o rapaz cantor, com um sonho de ser famoso e viver da música, ele acabou desistindo desse sonho, já que, na visão dele, o almejado representava um beneficio ao sistema e uma forma de continuar a fazer a roda girar.

Fora isso, a fotografia escura escolhida para retratar os cômodos da a entender como o retratado ali foi algo escondido, longe das câmeras da mídia e claro, sem as famílias das vitimas saberem daquilo. Logo, a opção de mostrar tudo, ou a maior parte dos fatos, com a câmera na mão, em luz quase natural (os cômodos de fato eram escuros, mesmo antes de tudo) e logo após mostrar as imagens reais veiculadas nas matérias jornalísticas da época, foi uma decisão corajosa de Bigelow.

Na verdade, o filme foi uma decisão corajosa da diretora, pois mostrar aquilo que acontece e ninguém sabe, ou fingem não saber, é um ato de protesto maior do que muitos daqueles vistos, disseminados e influenciados por aí hoje em dia.

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