4/22/2018 09:34:00 PM

Crítica: “A Ghost Story”

A Ghost Story
Imagem: Divulgação
Saudade é um sentimento dominante, quando pensamos que ela não está presente, ela está lá, quieta e insistente, pronta para atingir cada um de nós. Nisso, essa sensação se assemelha com o medo e a tristeza, e as três juntas formam algo indescritivelmente doloroso, que fere tão rápido quanto chega.

“A Ghost Story”, filme dirigido por David Lowery, trata justamente disso, de como nós agimos em relação a morte e também perante aos sentimentos descritos no parágrafo anterior. Porém, de uma maneira um pouco diferente para um filme de drama.


Um homem (Casey Affleck) mora com sua companheira (interpretada por Rooney Mara) em uma casa afastada da cidade. Esse rapaz morre em um acidente de carro, deixando sua mulher sozinha na residência. Ele volta como um fantasma, e faz isso com dois objetivos, o de consola-la e o de matar a saudade que o incomoda.

Vemos como Lowery foi ousado em contar uma história usando um outro ponto de vista, o do fantasma, comumente, a pessoa viva é a utilizada, mas aqui acompanhamos toda a história pelo ponto de vista do morto, isso explica diversas decisões acertadas do realizador, principalmente em relação ao som e a edição.

Na montagem, a obra conta com movimentos de câmera variados devido a projeção ter muita movimentação (pessoas andando principalmente), vemos como a organicidade é o dominante, principalmente levando em consideração o uso muito comum de cortes para gerar a impressão de mobilidade.

Já no aspecto sonoro, a projeção, por ser toda pelo ponto de vista do fantasma, tem apenas uma alternativa, usar o silêncio. E é justamente o que é feito, o silencio é dominante na obra, a maioria dos barulhos escutados pertencem ao ambiente onde as cenas se passam (em geral, as cenas ocorrem na casa), sem foco nos diálogos. Logo, para perceber quando o fantasma sente raiva, o diretor usa de movimentos de câmera para isso, para vermos algo que o fantasma viu e sabermos como ele se sentiu, muitas vezes ou o som é usado (e nesse caso, é alguma música), ou é alguma luz que surge ou desaparece, como, por exemplo, as inúmeras lâmpadas utilizadas em diversos momentos.

Além disso, o som serve como fator de exposição para a saudade sentida pelo protagonista, saudade de viver e saudade da esposa, ambos os aspectos podem servir de motivo para ele ter ficado na terra ao invés de passar para o outro plano logo de cara, para ele, buscar algo, seja dele ou da esposa é de suma importância, por isso ele leva tão a sério o bilhete deixado por ela.

A atuação de Casey Affleck (novamente em um papel difícil, assim como em Manchester a Beira Mar) e de Rooney Mara são excelentes, graças as suas expressões (ou falta delas) os sentimentos são passados ao público com maestria e o filme se torna um resumo do que deve ser o cinema, o acontecimento deve ser mostrado ao espectador, e não contado a ele através de diálogos expositivos.

Logo, “A Ghost Story” é um exercício ousado de estilo, que funciona graças ao seu elenco principal, a sua montagem inteligente e a uma trilha sonora diégetica (sons do ambiente) que substitui a trilha sonora dialogada com perfeição. E levando em consideração o sentimento do qual o filme trata, o silencio vale mais que mil palavras. 

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