Na primeira temporada de 3%, primeira série brasileira da
Netflix (um motivo grande por si só para notarmos a importância dela), os
personagens principais - com exceção de Fernando - foram bem desenvolvidos, houve uma crítica social pertinente
dentro do confronto “Maralto x Continente”, mas ficou aquela sensação de que
mais coisas poderiam ser feitas e outros elementos da narrativa deveriam ter
sido melhor aproveitados.
Felizmente, a segunda temporada da série fez isso e ainda
fez muito mais, aprofundando a história dos personagens, acrescentando novos
elementos tanto aos arcos de cada um, quanto a crítica social inerente. Isso deixa
a série mais complexa e principalmente, mais completa.
Continuando a história da primeira temporada, Rafael
(interpretado por Rodolfo Valente) e Michele (Bianca Comparato) passaram no
processo e tentam se adequar a vida no Maralto, ambos ainda são da Causa e Rafael
está engajado em seu compromisso de destruir o Processo e o Maralto. Em
compensação, Joana (Vaneza Oliveira) não passou no Processo e volta ao Continente
como uma assassina procurada, Fernando (Michel Gomes) que também foi reprovado,
está desacreditado com o sistema no qual vive e é obrigado a
morar com o pai, pastor que prega a fé no Processo.
A história ganha complexidade por ousar na montagem, logo nos
primeiros minutos, a cena que o público pensa estar acontecendo no presente, na
verdade é um flashback. Isso ocorre com frequência e serve para mostrar como a
adaptação (ou não) de Rafael e Michele foi difícil. Essa ousadia é ainda mais
interessante quando aspectos da ficção cientifica são utilizados em favor da
estrutura do episódio, como a ótima cena do teste de Rafael no simulador e das
cenas que misturam tecnologia com realidade, essas ocorrendo no Continente.
Continente que é muito bem explorado graças a Joana e ao envolvimento
dela com a causa, que trouxe a série a camada de aprofundamento necessária ao
movimento revolucionário. Conhecemos a Causa pelo ponto de vista de Joana,
vemos como as pessoas aliadas ao movimento são desunidas e que esse é o motivo
de nenhuma das rebeliões planejadas saírem do papel.
Claro, isso é o que o Maralto quer, nada de protestos ou rebeliões
das pessoas, nesse aspecto, a série ousa ao manter a crítica social apoiada na
ficção cientifica como carro chefe para as motivações dos personagens. Então, é
compreensível o medo de Rafael de ter sido abandonado pela Causa, ao mesmo
tempo em que tem medo de não ser amado e morrer sozinho, ambos os sentimentos
muito bem transmitidos pelo ótimo ator que é Rodolfo Valente, que sabe explorar
bem o tempo de tela e passar as conotações certas nas suas falas. Assim como
Vaneza Oliveira, com a sua atuação intensa, passa bem ao público a raiva que
Joana sente, tanto pela vida dura que teve, quanto pelo sentimento atual de
querer mudar e ajudar as pessoas a terem uma vida melhor.
Porém, há alguns erros a serem corrigidos, exemplo, se o
capacete usado por Rafael no trabalho no Continente tem uma câmera, porque Marcela
(a chefe do rapaz) não o flagrou trabalhando contra o Maralto? Pois há certas
cenas em que ele está com o capacete quando faz algo sério. Ou o pai de
Fernando fez o que fez apenas pela atual rusga com o filho?
Além dos diálogos que continuam fúteis, não condizentes com a complexidade estrutural adquirida nessa temporada e o arco de Fernando que é mal desenvolvido, além do personagem não ser cativante, muito por conta da história dele não fazer diferença nas tramas dos outros, com exceção dos dois últimos episódios, os quais ele participa ativamente.
Foram 10 episódios nessa temporada, porém poderiam ter sido menos, isso aumentaria a agilidade da trama, cortaria as cenas desnecessárias - e são muitas - e também facilitaria em melhorar ainda mais a narrativa, tanto na qualidade do texto, quanto na da estrutura, sim, essa última já melhorou, mas pode ser melhor, sempre há espaço para ser melhor.
Além dos diálogos que continuam fúteis, não condizentes com a complexidade estrutural adquirida nessa temporada e o arco de Fernando que é mal desenvolvido, além do personagem não ser cativante, muito por conta da história dele não fazer diferença nas tramas dos outros, com exceção dos dois últimos episódios, os quais ele participa ativamente.
Foram 10 episódios nessa temporada, porém poderiam ter sido menos, isso aumentaria a agilidade da trama, cortaria as cenas desnecessárias - e são muitas - e também facilitaria em melhorar ainda mais a narrativa, tanto na qualidade do texto, quanto na da estrutura, sim, essa última já melhorou, mas pode ser melhor, sempre há espaço para ser melhor.
Mas, se a série percebeu os erros da primeira temporada e os
arrumou, construindo uma evolução notável na segunda temporada, é de esperar
que a terceira temporada (caso tenha) faça o mesmo, porque talento para tal atitude, esses
10 episódios provaram que existem. O otimismo está presente, assim como a Causa,
ele está sempre na espreita.
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