11/25/2018 11:00:00 PM

Crítica: As Viúvas

As Viúvas
Imagem: Fox Film do Brasil / DIVULGAÇÃO
Se analisarmos toda a obra de Steve McQueen, “Fome” (2008), “Shame” (2011) e “12 Anos de Escravidão” (2013), vemos um certo padrão nas temáticas, os dois primeiros falam sobre os sofrimentos de um homem, em “Fome” algo que realmente aconteceu, assim como em “12 Anos de Escravidão” e em “Shame” sobre algo que acontece hoje em dia, mesmo que não saibamos disso.

Logo, ao assistir “As Viúvas”, sua nova obra, pode-se estranhar um pouco devido a mudança de padrão e mais do que isso, nos surpreendemos em como é feito um retrato social interessante e pertinente, mas, principalmente, pela desconstrução feita em filmes de assalto (heist movies, como são conhecidos), devido ao protagonismo feminino.

Acompanhamos Verônica Rawlings (Viola Davis), casada com Harry Rawlings (Liam Neeson), um ladrão conhecido e procurado na cidade de Chicago, a mulher precisa lidar com a perda do marido, após um assalto dar errado e matar não apenas Harry, mas também sua equipe. Neste "trabalho", Harry roubou dinheiro que seria usado na campanha de Jamal Manning (Bryan Tyree Henry) e o candidato a vereador da cidade vai cobrar de Verônica os dois milhões roubados. Assim, ela e as outras viúvas, Linda (Michelle Rodriguez) e Alice (Elizabeth Debicki) precisam realizar um golpe para conseguir o dinheiro.

Ou seja, se pararmos para pensar, a trama de assalto não tem nada de inédito, o novo é a desconstrução feita devido ao protagonismo feminino e negro, já que Verônica é a líder da operação. Logo, o filme se desenvolve em cima do planejamento e execução do assalto, o roteiro ajuda nesse aspecto, usando o som e a fotografia (de Sean Bobbitt), sempre mantendo a narrativa em um bom ritmo, surpreendendo o público nos momentos adequados, mesmo que com certa previsibilidade em algumas ocasiões.

Essas surpresas, se devem muito pelos bastidores tanto do planejamento do assalto, quanto do planejamento de campanha entre Manning e Jack Mulligan (Colin Farrell), já que vemos como o dinheiro, sejam os dois milhões que geram toda a história, ou aquele que se pode ganhar no futuro, influência nas decisões dos dois ambientes. Por um lado, as três mulheres têm suas vidas e precisam recomeça-las sem o “legado” deixado pelos maridos e o dinheiro pode ser útil nesse ponto, por outro, Manning precisa continuar sua campanha e Mulligan precisa se manter na liderança para ganhar a eleição de vereador e substituir seu pai (Robert Duvall) no cargo.

Por esses pontos, não é um filme de assalto comum, pois vemos mulheres no papel que comumente e na maioria das vezes (infelizmente) seria dado aos homens, e elas aproveitam esse protagonismo para ser o ponto alto do filme, pois o som aqui, apesar de servir para o mantenimento do suspense (como na maravilhosa cena de Jatemme – Daniel Kaluuya – e o rap), mas também para entendermos e contextualizarmos por nós mesmos, o que as mulheres estão sentindo durante o planejamento.

E todas elas sentem as coisas mais variadas, Alice sente que aquele plano é a única forma de ela conseguir recomeçar sua vida, já que ela pensa ser inútil e não saber fazer nada, Linda sente a necessidade de fazer aquilo, já que os filhos dela correm perigo e como maneira de recuperar sua loja e Verônica sente tristeza, por perdas irreparáveis e ódio, em parte pelo assalto ser a única alternativa que ela tem para conseguir recomeçar (assim como Alice) e por outro lado, pela culpa de ter que lidar com problemas que não seus.

Justamente isso que enriquece o filme, esses sentimentos e motivações originários do ponto de vista feminino, unido a isso, está a fotografia e os cortes que potencializam a ação, como por exemplo nos 10 minutos iniciais, onde o passado e o presente são alternados para fazer a ação, literalmente, explodir diante de nossos olhos, isso no primeiro ato, pois, no segundo e terceiro, os cortes são utilizados para aumentar (se é que é possível) a vilania de Jatemme, muito bem interpretado por Kaluuya.

Assim, “As Viúvas” ganha força em suas atuações, bem estabelecidas por um roteiro redondo, escrito por McQueen e Gillian Flynn (autora de “Garota Exemplar”), amparado pela trilha de Hans Zimmer e pela montagem de Joe Walker e claro, pela desconstrução realizada de um subgênero de sucesso feita por um diretor seguro, talentoso e que sabe muito bem o que está fazendo.

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