Imagem: Fantasia Festival / Stills |
Texto que faz parte da cobertura da edição 2020 do
Festival Fantasia
This critic is part of Fantasia Festival 2020 coverage
Uma história como a contada em “The Columnist” (A Colunista) poderia tranquilamente acontecer no mundo real, principalmente se levarmos em consideração tudo o que gerou a trajetória de Femke (Katja Herbers) e coisas como aquilo acontecem na realidade diariamente com diversas pessoas, inclusive famosos.
No caso, me refiro a comentários de ódio nas redes sociais, que são cada mais frequentes. A história que é dirigida por Ivo van Aart começa justamente assim. A colunista Femke, não consegue deixar de ler os comentários de suas redes sociais, onde é atacada constantemente por homens. Após descobrir que um desses é seu vizinho, ela o mata por vingança, o que inicia uma trajetória de assassinatos.
Vemos, dessa forma, como o ódio pode ser cíclico e gerar mais ódio, a famosa frase “violência gera violência” cabe nesse filme, porém, van Aart não se prende a apenas isso, o que torna a obra multifacetada e evita o dualismo clichê de bem e mal, se é algo que pode ser considerado um “bem” na história.
Ele faz isso ao mostrar como o ódio é democrático, podendo estar em qualquer lugar, seja em uma pessoa ruim ou em uma pessoa boa e até mesmo em pessoas próximas da gente, como o exemplo citado na sinopse do vizinho. O diretor também expõe essa “democracia” ao fazer o ódio ser a maior inspiração de Femke para escrever sua coluna e seu livro.
De forma que vemos como a arte pode ter origem em diversos sentimentos, não se restringindo aos sentimentos bons mas se expandindo para sentimentos ruins, como o ódio que a protagonista sente e a alegria que ela sente a cada vítima que ela faz, o que a deixa em um estado de euforia que a faz escrever em alto grau de produtividade.
Vemos esse ódio, é claro, na própria protagonista e ela também é um exemplo desse sentimento estar presente em todas as pessoas, inclusive naquelas que fazem coisas boas e lutam pela liberdade de expressão. Afinal de contas, ela é uma boa mãe, uma boa profissional e ainda assim, é capaz de atos inimagináveis.
Por falar em liberdade de expressão, o filme é capaz de distorcer até esse conceito, pois Femke acredita que sua liberdade de expressão a permite matar pessoas de maneira livre, o que mostra a hipocrisia presente na protagonista, já que liberdade de expressão nunca vai fazer parte do ato de matar, por mais que quem mate pense que faz.
Essa profundidade é possível graças a atuação de Katja Herbers (da série Westworld), que muda sua expressão de maneira fácil e mostra a alegria que ela sente a cada absurdo que ela comete e como essa alegria é combustível para ela repetir cada vez mais o que ela faz.
Assim, “The Columnist” é um filme que mostra como o ódio além de ser presente, é algo muito mais próximo da gente do que nós imaginamos e que ele deve ser combatido, mas não da forma que a protagonista desse filme faz, claro.
Texto que faz parte da cobertura da edição 2020 do
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