8/28/2020 12:00:00 AM

Fantasia Festival - Crítica: Detention

Detention
Imagens: Fantasia Festival / Stills

Texto que faz parte da cobertura da edição 2020 do Festival Fantasia

This critic is part of Fantasia Festival 2020 coverage

Que o terror é um gênero que cria metáforas, tratando diversos assuntos através de diversas ferramentas, muita gente já sabe. Mas, ainda assim, é surpreendente o que o suspense e o terror podem fazer e os assuntos que podem ser tratados.

Sem dúvida, um bom exemplo disso é “Detention” (Detenção), dirigido por John Hsu, o filme conta uma história que se passa em Taiwan durante a Guerra Fria, onde a população não podia ler livros considerados comunistas ou com pensamentos de esquerda, devido a lei marcial vigente no país. Em uma escola, alunos e dois professores fundam um clube do livro clandestino e assim, passam a compartilhar histórias entre si.

Até que eles são denunciados para a polícia e presos. O filme acompanha a trajetória de um deles, Wei, que ao ser preso, torturado e ficar inconsciente, tem um pesadelo onde descobre o que de fato aconteceu. E é esse pesadelo que faz o filme se desenrolar.

Isso torna a obra interessante, já que comumente vemos o que acontece durante a prisão e o ato de prender em si e não o que ocorre na cabeça da pessoa que é presa. De forma que o pesadelo se torna uma metáfora complexa, mas não de difícil entendimento, pois compreendemos a história sem problema nenhum.

O filme é dividido em três capítulos, chamados “Pesadelo”, “Dedo duro” e “Aquele que vive”, onde vemos como as motivações de cada um dos membros do clube do livro é variada e mutável, assim como as pessoas são na vida real, já que a sociedade muda o tempo todo.

Porém, se essas mudanças são visíveis de forma geral e por motivos diversos, o principal motivo é a luta que a maioria dos personagens do filme tiveram por liberdade e não necessariamente liberdade para eles, mas também para as gerações futuras, de forma que eles não se esqueçam o que aconteceu para que eles chegassem até ali.

O passado é o que faz o presente e o futuro, para isso, precisamos lembrar do passado e agir no presente, assim, geramos um futuro e apesar de um problema de ritmo claro no meio da projeção (com cenas que poderiam ser cortadas sem nenhum peso na narrativa), a obra consegue transmitir esse pensamento de forma bem sucedida.

E se é bem sucedido, com certeza se deve ao fato dessa luta ainda não ter acabado, mas apenas ter mudado de panorama e de ferramentas. O terror na obra mostra bem isso, não é violento, mas é gráfico e na medida que os fatos vão sendo expostos, a construção da metáfora fica mais clara.

Assim, mesmo com a questão já citada do ritmo, “Detention” é um ótimo exemplo de um filme que sabe usar as ferramentas que tem, para construir uma metáfora real e falar de uma luta ainda (infelizmente) atual, usando o terror como principal artificio para isso.

Texto que faz parte da cobertura da edição 2020 do Festival Fantasia

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