8/30/2020 12:00:00 AM

Fantasia Festival - Crítica: Sanzaru

Sanzaru
Imagem: Fantasia Festival / Stills

Texto que faz parte da cobertura da edição 2020 do Festival Fantasia

This critic is part of Fantasia Festival 2020 coverage

Em um filme de suspense, comumente costuma se criar uma expectativa para, depois de um tempo, cumpri-la, de forma a dar para o espectador o que ele deseja e o que ele esperou enquanto a obra se desenrolava.

Não que Sanzaru, de Xia Magnus, não cumpra a expectativa que cria, mas ele demora tanto para isso, que em certas cenas e em boa parte dos momentos da projeção, pensamos que o filme esqueceu daquilo que prometeu explicar para o seu público e por mais que coisas explicadas sejam ruins, nesse caso era algo necessário.

O filme fala sobre relações e sobre um mistério de uma voz que fala com os moradores de uma casa em uma cidade pequena dos Estados Unidos. Eve (Aina Dumlao) é uma cuidadora, asiática, de uma mulher mais velha e com vários problemas de saúde chamada Dena. Ao mesmo tempo em que cuida de seu sobrinho Amos, ele, ela e sua paciente, escutam uma voz que não sabem o que é, mas que fala coisas diferentes para cada um.

Com essa voz o filme se estabelece como uma obra de relações e é nesse ponto que estão concentradas suas melhores cenas, já que vemos uma clara diferença de tratamento entre brancos (Dena e seus filhos) perante a Eve e Amos, de forma que a comparação entre o mundo atual e o racismo e a xenofobia cada vez mais presentes infelizmente é inevitável.

Porém, se a obra tem esses momentos, o espectador fica perguntando o tempo todo quem ou o que é a voz que constantemente fala com os personagens. Levando em consideração que o filme tem uma hora e meia de duração e essa voz não é de todo aprofundada até 50 minutos de projeção, a história fica um pouco arrastada.

Claro, a voz que dá título ao filme é uma presença constante, porém, se ela é irrelevante durante mais da metade da obra, o público pode se perguntar sobre o que de fato a obra fala, o que cria dúvidas incomodas que o filme demora para esclarecer, por mais que seja curto.

Justamente essa dúvida incomoda é o que era a expectativa criada pelo diretor. Chega um momento em que ela deixa de ser expectativa e se torna uma série de questionamentos feitos pelo próprio público. Porém, quando elucidados, vemos como o filme de fato é uma obra de relações e não apenas as citadas acima de forma breve.

Vemos como algo pode ser hereditário e pode estar tanto no passado quanto no presente com a mesma força, por mais que esse algo já não seja mais feito (ou debatido pelos envolvidos) e percebemos como certas coisas podem se tornar traumas para toda a vida.

Se pensarmos em “Sanzaru” desse jeito e focarmos nisso, temos sem dúvida um filme minimamente interessante. Porém, se ficarmos presos nos cinquenta minutos que é o tempo que demora para ser explicado de fato, talvez o público se decepcione, por mais que goste de como a obra trata as relações citadas.

Texto que faz parte da cobertura da edição 2020 do Festival Fantasia

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