9/02/2020 12:00:00 AM

Fantasia Festival - Crítica: Vertigo

Vertigo
Imagem: Fantasia Festival / Stills

Texto que faz parte da cobertura da edição 2020 do Festival Fantasia

Critic who is part of Fantasia Festival 2020 coverage

Ao ler o título “Vertigo” é quase inevitável que o público cinéfilo não pense no filme de Alfred Hitchcock, que no Brasil tem o título de “Um Corpo que cai”. Porém, as únicas coisas que o filme sul coreano, dirigido por Jeon Gye-Soo, tem em comum com o filme estadunidense são o medo de altura da protagonista (no estadunidense é o medo do protagonista) e o fato de tratar as trajetórias dos personagens como uma queda livre.

Acompanhamos Seo-Young, uma jovem mulher que é designer em uma empresa de tecnologia. Ela tem um problema de audição e está em um caso secreto com seu chefe. Porém, ela precisa lidar com a solidão de morar em uma nova cidade adicionada a não querer mais esconder o relacionamento citado.

O filme fala sobre relações de uma forma muito simples, sejam esses relacionamentos de amizade, os familiares ou os amorosos, a obra trata essas nuances com singeleza e principalmente com respeito as trajetórias dos personagens, pois tudo o que acontece ali tem um sentido metafórico e o racional.

Como o filme trata de relações, vemos como essas são uma queda livre que em geral aceitamos devido a uma vertigem e a necessidade (e certa obrigatoriedade), de falarmos com outras pessoas. Claro que todos nós temos a necessidade de sermos amados e aceitos, mas isso não significa que as relações não sejam uma queda livre.

É só reparar em como as pessoas naquele filme caíram de paraquedas na vida da protagonista e, em geral, saíram da vida dela tão rápido quanto chegaram. Com exceção da mãe dela, o chefe e uma colega de trabalho, personagens importantes foram embora após o que pode ser considerado um curto período.

O que fica claro de diversas formas, mas, principalmente, por uma fotografia simples, mas eficaz, baseada em quadros que colocam os personagens sempre no meio de alguma estrutura (como pilastras, cubículos, paredes) e quando não estão assim, os personagens são enquadrados através de reflexos gerados por espelhos, vidros de estabelecimentos, telas de computador, o que expõe a prisão metafórica na qual as pessoas ficam dentro das relações.

Mas, como dito, também podemos pensar em tudo isso de uma forma mais racional, no caso, as relações se transformam nos ciclos obrigatórios brevemente citados e a queda livre, a vertigem propriamente dita, é nada mais, nada menos, que uma consequência causada pelo problema de audição da protagonista, que como o espectador percebe, é possível e palpável, fora que justifica também a falta de equilíbrio da mesma em certos momentos.

Ainda assim, o filme funciona com base no que sentimos, no metafórico e não no racional, mas é a mistura dos dois que faz com que a direção de Jeon Gye-Soo seja efetiva, pois permite que o público pense do jeito que quiser e entenda do jeito que achar melhor para si.

Pessoalmente, eu prefiro o sentido metafórico do filme, pois nele o terceiro ato ganha força, que não existiria caso o espectador pense na forma racional que nos é oferecida, mas, mesmo com a inegável queda de ritmo entre os dois primeiros atos e o último, “Vertigo” é um filme bonito e um bom exemplar audiovisual da queda livre que as vidas das pessoas são.

Texto que faz parte da cobertura da edição 2020 do Festival Fantasia

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