Imagem: DIVULGAÇÃO |
Texto que faz parte da cobertura da edição 2021 do Festival Fantasia
É inevitável, ao assistirmos “Ghosting Gloria”, não
lembrarmos das comédias do Almodovar, principalmente aquelas do início de
carreira do diretor espanhol, que acabaram por ter seu auge em “Mulheres a
beira de um ataque de nervos”, filmes que combinavam drama, romance e rotina,
dentro de um ambiente de comédia.
A obra dirigida por Mauro Sarcer e Marcela Matta é, de uma
maneira inconsciente e talvez por isso, original, uma homenagem aos filmes do
diretor espanhol, a diferença é que aqui, não apenas a comédia está presente,
mas também o terror. A protagonista, Gloria, é uma mulher que se apaixona por
um fantasma, após se mudar para uma casa onde esse fantasma em questão morreu.
Ela se apaixona, principalmente, devido aos orgasmos que esse fantasma dá a
ela, uma mulher solteira e sozinha.
Por isso o filme funciona, por essa relação e quebra de carência e solidão. Gloria, uma mulher jovem, bonita, com um bom emprego (apesar do chefe chato), se sentia vazia e, muito por isso, solitária. Essa sensação de espaço vago é mostrada muito bem através do próprio espaço onde a protagonista se encontra e como esse é preenchido por outras coisas que não fazem parte da rotina de Gloria.
Na cena da festa, é preenchido pela música que ela não
gosta, no trabalho, é preenchido por livros que ela não lê e pela amiga
extremamente expansiva, que não para de falar em nenhum momento, no
apartamento, é preenchido pelo casal vizinho, que não deixa ela dormir devido
ao barulho que fazem enquanto transam e, claro, na casa nova (onde mora o
fantasma pelo qual se apaixona), é preenchida finalmente pelo que ela deseja:
uma companhia e orgasmos.
Talvez por isso, a comédia no filme seja efetiva e torne a
obra leve, pois a ideia é tratar a carência da protagonista sem o peso de um melodrama clássico. Por mais que seja possível identificar
aspectos do melodrama, principalmente de algo mais próximo a novelas (algo
muito característico de filmes latinos de comédia ou drama), o filme não se
prende a isso e brinca com o que o terror pode oferecer a ideia principal.
Isso é possível de ser visto na cena em que o fantasma deixa
uma mensagem escrita no pó, algo que é muito comum em filmes de terror e é
visto, para citar um exemplo recente, em “Atividade Paranormal” (quando vemos
as pegadas). Esse tipo de escolha dos diretores, além de funcionar para o filme
em si, expõe como o cinema oferece várias possibilidades para brincar entre os
gêneros de forma simples, mas efetiva.
Logo, a atmosfera construída em “Ghosting Gloria” é leve
devido a escolhas feitas pelos seus diretores, que optam por expor as dúvidas
de sua protagonista (dúvidas comuns a todos, inclusive) de maneira mais próxima
de causar o riso, ou de ao menos de deixar um sorriso no espectador, através da
identificação que as pessoas, principalmente as que são ou se sentem sozinhas,
terão com a personagem principal.
“Ghosting Gloria” fala sobre os medos de cada um de nós que culminam na solidão e faz o público acreditar que essa sensação não é eterna... ao menos não é eterna para Gloria, o que já tá de bom tamanho.
Texto que faz parte da cobertura da edição 2021 do Festival Fantasia
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