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Texto que faz parte da cobertura da edição 2021 do Festival Fantasia
O símbolo disso em “Hand rolled cigarettes” é justamente o que
representa o título do filme, o cigarro enrolado a mão pelo protagonista
(interpretado por Gordon Lam). Ex membro do exército, ele se envolve com o crime
organizado e tráfico de drogas, o que o leva a conhecer
um jovem traficante que fez um negócio que deu errado e eles acabam se ajudando
de diversas formas.
Dirigido por Kin Long Chan, vemos a jornada desses personagens em busca de corrigir erros passados, que sabem ser impossíveis de serem 100% arrumados (como tudo na vida), mas tem consciência de que é possível seguir em frente e seguir em paz desde que façam algo para isso acontecer.
No caso do jovem, o principal motivo de sua redenção (ele
entrou para o tráfico como única opção de botar comida na mesa), é o seu irmão
mais novo, para quem deseja dar as oportunidades que ele mesmo não teve. Todo o
dinheiro que ganha, é destinado para a criação do irmão, por mais que seja um
dinheiro adquirido de uma maneira errada.
Mas, ao menos o motivo é justo e pelo menos ele tem a consciência
de sua profissão e de sua principal motivação. Por outro lado, se vemos no jovem
a certeza, a confirmação de que faz isso por uma boa razão, vemos no homem mais
velho uma confusão que parece eterna, assim como o caminhar daquela tartaruga
(comprada por ele no começo do filme), devagar, mas constante.
Isso porque ele vem carregando essa confusão desde jovem,
quando ainda era membro do exército (como o filme mostra logo de cara, expondo
o fato histórico que mudou a vida do exército de Hong Kong quando a cidade se
separou da China). As amizades que ele fez nessa época, ele não conseguiu
manter, por mais que ainda tenha contato com as pessoas, devido aos erros cometidos nesse meio tempo.
Claramente esse é o principal ponto de identificação do
público com o personagem e é o motivo de sua redenção ter o peso que tem, tanto
para a narrativa, quanto para o espectador. Por mais que o fator
originário do erro do protagonista seja algo meio distante do público (nem
todos nós somos ou fomos soldados), a persistência no erro é um ponto que em
algum momento de nossas vidas, nós fizemos com força o suficiente para afetar
nossas trajetórias nesse mundo de maneira considerável.
Talvez por isso esse personagem insista no cigarro feito a
mão, porque é o mesmo que ele fumava quando estava no exército, numa tentativa
rasa e até mesmo boba, de lembrar do que não fez ao invés de focar naquilo que
pode fazer, como muitos de nós já fizemos ou ainda faremos.
Assim, “Hand rolled cigarettes” apresenta essa redenção bem construída,
fazendo com que o público entenda coisas e veja algo em si mesmo que há muito
tempo pode ter abandonado. Talvez, como linguagem, o filme não apresente nada
de inédito ou algo assim, mas é bom ver a ideia da redenção centrada em uma
amizade de diferentes gerações e ambientes de crescimento.
Texto que faz parte da cobertura da edição 2021 do Festival Fantasia
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