8/15/2021 12:00:00 AM

Fantasia Festival: Hello, Tapir!

Hello, Tapir!
Imagem: DIVULGAÇÃO

Texto que faz parte da cobertura da edição 2021 do Festival Fantasia

This critic is part of Fantasia Festival 2021 coverage

Todos nós precisamos de afeto e em um mundo em que cada vez as pessoas estão mais distantes uma das outras (seja por distanciamento social ou porque desejam), afeto e esperança se tornam raros e muitas vezes acreditamos que eles deixaram de existir, o esquecimento de sentimentos assim pode acabar com uma sociedade.

Mas nunca esse sentimento vai ser inexistente em crianças, mesmo quando coisas muito ruins acontecem com elas, crianças sempre vão achar algo para se apoiar e para lidar com o sofrimento de maneira diferente de um adulto. Ah-Keat, o personagem principal de “Hello!, Tapir”, dirigido por Keoshvin Chee, é justamente um exemplo disso, uma criança que após o pai pescador desaparecer no mar, se apoia em uma história contada por ele, que há um animal na floresta que, durante a noite, dá voltas pela cidade tirando os pesadelos de todas as pessoas. Assim, o menino, que o viu antes, procura o animal (parecido com um javali) todos os dias com seus amigos, para ter esperança do retorno de seu pai.

O filme consegue desenvolver bem a ideia do afeto, pois a trata com a mesma leveza que uma criança leva a vida. Apesar de seus medos e inevitável confusão familiar (o menino mora com a avó e a mãe dele volta devido ao desaparecimento do pai), Ah-Keat tem em seus amigos e em Tapir, um sopro de esperança, uma luz no fim do túnel para se apoiar e superar a situação.

Essa relação de amizade é algo muito próximo aos filmes de Hayao Miyazaki (principalmente “Meu amigo Totoro” e “Ponyo”) e é bonito ver como esse sentimento pode ser transmitido ao público através do drama e não apenas através da animação, claro, na animação o foco no animal muito provavelmente seria bem maior.

Mas isso não é um problema, porque o foco aqui é na amizade que salva as vidas de todos ali e cria novos caminhos para os personagens (principalmente Ah-Keat), encontrem novamente o brilho tão desejado em suas vidas. O Tapir por si só e a esperança de vê-lo já é algo dessa reconstrução de trajetória.

Principalmente se levarmos em consideração o principal sinal de sua presença fora o tamanho, que é o brilho ao seu redor. O brilho dos cogumelos e das plantas, é o brilho que aquelas pessoas buscam ter em si mesmas e em suas vidas. É justamente isso que Ah-Keat ainda não perdeu e fez questão (do seu próprio jeito de criança) de dar para os seus amigos e família.

O brilho de nossos caminhos pode ficar ofuscado e apagado, mas ele nunca fica perdido, ou ao menos, é isso que Chee quer passar com seu filme. Ah-Keat e seus pesadelos passaram, tal qual George Harrison diz em sua música “All things must pass”, só é uma pena que, da mesma maneira que o que é ruim passa, aquilo que é bom também passa e na maioria das vezes acaba de vez.

Mas, “Hello! Tapir” passa a esperança de sempre ser possível reconquistar o que é bom. Nesse caso e nesse objetivo, isso é o importante nessa grata (e gentil) surpresa em forma de filme.

Texto que faz parte da cobertura da edição 2021 do Festival Fantasia

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