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Texto que faz parte da cobertura da edição 2021 do Festival de cinema de NashvilleThis critic is part of Nashville Film Festival 2021 coverage
Dirigido por Angeliki Antoniou, “Green
Sea” é um filme que aborda justamente essa dúvida entre esquecer e lembrar através
desse conflito de pessoas. Se Anna quer a todo custo voltar a saber quem é,
Roula faz de tudo para esquecer de quem é por puro e simples arrependimento de
quem se tornou.
Esse esquecimento voluntário é a
principal ideia do filme, pois várias daquelas pessoas, que frequentam aquele
restaurante simples (mas com comida boa após Anna começar a trabalhar lá),
tentam fazer o mesmo pelo mesmo motivo de Roula, arrependimento. Em meio a
isso, Anna acaba até por esquecer de sua amnesia, se adaptando perfeitamente a
vida naquele lugar.
Isso faz com que a ideia de vida
cresça na obra. Se por um lado, muitas daquelas pessoas acham o que Anna fez
algo um tanto quanto incomum – pois não há motivo para ela se adaptar aquele
lugar sabendo que é outra pessoa – por outro lado, a escolha que Anna fez de
tentar lembrar de si mesma se adaptando a uma nova vida é algo que causa inveja
nas pessoas ao seu redor devido a plausibilidade dessa escolha.
Porque não viver e ao mesmo
tempo em que faz isso, tentar relembrar da sua vida anterior a perda de memória?
Além de fazer sentido de um ponto de vista de pessoas que gostam de viver (é
claramente o caso de Anna), também se encaixa na fluidez da obra e no debate
que quer gerar, boa parte do esquecimento que aquelas pessoas buscam vem do
fato de não gostarem de viver ou não gostarem de suas vidas atuais.
Ao pensar nisso, vemos como é difícil
para aquelas pessoas aceitarem pequenas mudanças que Anna faz na rotina do
restaurante como a música ou até mesmo o quadro, o mar verde “que vai até o
jardim do eden”. Jardim do Eden que é um símbolo da criação do mundo na bíblia,
o restaurante de Roula, se torna, de certa maneira, o símbolo da recriação da
memória de Anna e da união de duas vidas residentes na mesma pessoa.
Pessoas que são plurais e
multifacetadas, da mesma forma que aquele quadro que para os outros frequentadores
do restaurante fora Anna, é apenas uma bagunça e não uma maneira de se verem
através da arte. Ao pensar no papel que o nome “Mar verde” (tradução do título)
tem para Anna, também é possível perceber o mar como símbolo da finitude, tanto
ela, quanto Roula e os clientes deste, sabiam que Anna mais cedo ou mais tarde
lembraria de sua vida e os abandonaria.
Em compensação, o público fica em
xeque, pois ambos os argumentos dessa discussão fazem sentido. O bom é que assim
como em toda arte, o cinema permite que argumentos contrários convivam entre si
e o cinema dá a liberdade de escolha para o público, assim como a diretora
desse filme deu para Anna a liberdade de escolher entre a sua vida passada e a
vida atual, mesmo que no fundo, Anna sempre soubesse qual seria sua escolha.
Texto que faz parte da cobertura da edição 2021 do Festival de cinema de Nashville
This critic is part of Nashville Film Festival 2021 coverage
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