10/01/2021 12:00:00 AM

Crítica - Nashville Film Festival 2021: Green Sea

Green Sea
Imagem: DIVULGAÇÃO


Texto que faz parte da cobertura da edição 2021 do Festival de cinema de Nashville

This critic is part of Nashville Film Festival 2021 coverage

Se uns querem lembrar, outros querem esquecer. Com certeza é o caso de Roula, dono do restaurante que abriga Anna, uma mulher que perdeu a memória e não se lembra de quem é. A única memória que ela tem é a da cozinha: além de gostar de cozinhar, ela faz isso muito bem, o que acaba por fazê-la atingir um certo sucesso no restaurante desse homem desconhecido.

Dirigido por Angeliki Antoniou, “Green Sea” é um filme que aborda justamente essa dúvida entre esquecer e lembrar através desse conflito de pessoas. Se Anna quer a todo custo voltar a saber quem é, Roula faz de tudo para esquecer de quem é por puro e simples arrependimento de quem se tornou.

Esse esquecimento voluntário é a principal ideia do filme, pois várias daquelas pessoas, que frequentam aquele restaurante simples (mas com comida boa após Anna começar a trabalhar lá), tentam fazer o mesmo pelo mesmo motivo de Roula, arrependimento. Em meio a isso, Anna acaba até por esquecer de sua amnesia, se adaptando perfeitamente a vida naquele lugar.

Isso faz com que a ideia de vida cresça na obra. Se por um lado, muitas daquelas pessoas acham o que Anna fez algo um tanto quanto incomum – pois não há motivo para ela se adaptar aquele lugar sabendo que é outra pessoa – por outro lado, a escolha que Anna fez de tentar lembrar de si mesma se adaptando a uma nova vida é algo que causa inveja nas pessoas ao seu redor devido a plausibilidade dessa escolha.

Porque não viver e ao mesmo tempo em que faz isso, tentar relembrar da sua vida anterior a perda de memória? Além de fazer sentido de um ponto de vista de pessoas que gostam de viver (é claramente o caso de Anna), também se encaixa na fluidez da obra e no debate que quer gerar, boa parte do esquecimento que aquelas pessoas buscam vem do fato de não gostarem de viver ou não gostarem de suas vidas atuais.

Ao pensar nisso, vemos como é difícil para aquelas pessoas aceitarem pequenas mudanças que Anna faz na rotina do restaurante como a música ou até mesmo o quadro, o mar verde “que vai até o jardim do eden”. Jardim do Eden que é um símbolo da criação do mundo na bíblia, o restaurante de Roula, se torna, de certa maneira, o símbolo da recriação da memória de Anna e da união de duas vidas residentes na mesma pessoa.

Pessoas que são plurais e multifacetadas, da mesma forma que aquele quadro que para os outros frequentadores do restaurante fora Anna, é apenas uma bagunça e não uma maneira de se verem através da arte. Ao pensar no papel que o nome “Mar verde” (tradução do título) tem para Anna, também é possível perceber o mar como símbolo da finitude, tanto ela, quanto Roula e os clientes deste, sabiam que Anna mais cedo ou mais tarde lembraria de sua vida e os abandonaria.

Em compensação, o público fica em xeque, pois ambos os argumentos dessa discussão fazem sentido. O bom é que assim como em toda arte, o cinema permite que argumentos contrários convivam entre si e o cinema dá a liberdade de escolha para o público, assim como a diretora desse filme deu para Anna a liberdade de escolher entre a sua vida passada e a vida atual, mesmo que no fundo, Anna sempre soubesse qual seria sua escolha.

Texto que faz parte da cobertura da edição 2021 do Festival de cinema de Nashville

This critic is part of Nashville Film Festival 2021 coverage

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Copyright © 2016 Assim falou Victor , Blogger