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Imagem: DIVULGAÇÃO |
Texto que faz parte da cobertura da edição 2021 do Festival de cinema de NashvilleThis critic is part of Nashville Film Festival 2021 coverage
O tempo passa e as pessoas sempre mudam, mesmo aquelas que
um dia chegamos a conhecer muito bem. As vezes a vida promove reencontros e as
vezes as próprias pessoas organizam essas reuniões, de maneira a amarrar uma ponta
solta dentro de si mesmo para poder seguir em frente e estar em paz.
Isso não é fácil e representa um desafio, mas é algo que
traz paz e é necessário, para esse sentimento, a sensação ruim de algo sem
terminar, passe. Kris decide encontrar sua ex-namorada Naomi devido a isso,
pois ela achava que lhe devia algo, uma explicação sobre o motivo de seu
abandono, que ocorreu devido a Kris ter decidido realizar a transição.
As duas mulheres têm um encontro de uma noite em “See you then”, dirigido por Mari Walker. Nesse encontro, o objetivo é que Kris tenha essa conversa final com Naomi, sua ex-namorada da época de faculdade. Já casada e com filhos, enquanto Kris mora sozinha e saiu de um relacionamento recentemente, as mulheres discutem sobre a vida, sobre seu próprio relacionamento e claro, sobre o que aconteceu com elas quando namoraram.
É difícil pensar em “See you then” de uma forma distante,
não que eu queira isso ou ache que deva fazer isso, mas é esse um tipo de filme
o qual as pessoas buscam se distanciar de sua história justamente por se
identificar muito com o fato gerador do reencontro entre as duas, uma ponta
solta é algo que todos nós temos ou teremos em algum momento de nossas vidas.
Logo, vemos ali a dificuldade de seguir em frente por mais
que se tenha esse desejo. As duas tem coisas uma da outra, porque em geral,
relacionamentos – independente de amor ou amizade – deixam marcas das pessoas
em nós e vice-versa. Nunca seremos os mesmos após uma amizade ou um amor sair
de nossas vidas, porque nós como pessoas mudamos e mudamos os outros.
Isso é o que faz a humanidade ser o que é, o fato de
podermos, apenas sendo nós mesmos, mudarmos uns aos outros de maneiras que
muitas vezes nem percebemos, mas que no fundo sabemos que temos essa força e sabemos
como essa mudança nasceu. Kris e Naomi nunca mais foram as mesmas depois de seu
namoro, Naomi e Jim (seu marido) nunca serão os mesmos devido a presença de um
na vida do outro, o mesmo serve para Kris e seu ex-namorado.
Walker é hábil ao passar isso para o público e fazer o
espectador entender que não é possível ele se distanciar, por mais doloroso
que isso seja, pois o que vemos no filme, dadas as devidas proporções, claro, é
o que somos como pessoas. Fazemos o que fazemos sabendo do que somos,
mesmo que não queiramos ser aquilo que nos tornamos.
Em dado momento, Kris fala para Naomi uma frase que esta
dizia no primeiro encontro de suas vidas: “arte requer verdade”. Não só a
arte requer verdade mas a vida requer verdade. É preciso ser verdadeiro para ser
corajoso e encarar a si mesmo e é preciso ser verdadeiro para fechar uma ponta
solta e admitir que precisa seguir em frente mesmo sem querer isso.
“See you then” é um retrato de nós mesmos em tela, assim
como todo filme é um retrato das pessoas na tela. Ao querermos nos distanciar
de nós mesmos apenas criamos um ciclo de autoenganação e é difícil acreditar
que nós não fazemos ou não queremos fazer isso, porque sim, nós nos enganamos todos
os dias como forma de sobreviver. É difícil aguentar a si mesmo.
Texto que faz parte da cobertura da edição 2021 do Festival de cinema de Nashville
This critic is part of Nashville Film Festival 2021 coverage
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