10/04/2021 12:00:00 AM

Crítica - Nashville Film Festival 2021: Ludi

Ludi
Imagem: DIVULGAÇÃO


Texto que faz parte da cobertura da edição 2021 do Festival de cinema de Nashville

This critic is part of Nashville Film Festival 2021 coverage

O capitalismo nos força a trabalhar cada vez mais, sem levar em conta o descanso e a saúde mental. Quando se é obrigado a fazer isso para sobreviver, acabamos nos esquecendo daquilo que importa, mesmo que trabalhemos também para dar as pessoas que amamos coisas importantes para elas.

Em situações como a de Ludi, personagem que dá título para o filme dirigido por Edson Jean, essa obrigação criada pelo capitalismo é ainda maior, pois ela é uma imigrante haitiana que precisa sustentar sua família na terra natal. Para isso, todo o dinheiro que ela ganha em seu trabalho como enfermeira, é mandado para eles. Assim, quando surge a oportunidade de ganhar um dinheirinho a mais cuidando de um paciente fora do hospital onde ela trabalha, ela aceita, mesmo sabendo que isso vai contra as normas da instituição.

Se ela aceita, é porque ela não recebe o necessário no hospital onde trabalha, o que além de gerar um debate sobre a má remuneração, também faz com que o público (no caso o brasileiro) reflita como o nosso sistema de saúde é algo do qual temos que ter orgulho, pois graças a ele e a leis trabalhistas do nosso país, os profissionais como Ludi não precisam fazer o que ela faz.

Porque ela sabe que está descumprindo as regras impostas pelo seu trabalho nos EUA, mas, a necessidade fala mais alto e uma grana a mais é sempre algo bom (como ela mesma fala em um dialogo), assim, ela faz o que ela julga que precisa fazer, mesmo que isso tenha um custo alto, como a falta de descanso, de lazer e de saúde mental, além de ter que aguentar as pessoas falando para ela se casar, apenas para citar um exemplo de coisas que ela escuta durante o filme.

Além de um acréscimo muito importante, o fato dela ser mulher com certeza influencia em como ela é tratada pela sociedade, vemos isso em uma série de situações dentro do filme, a cena do motorista de ônibus por exemplo, a oração que uma companheira de trabalho faz para ela, o assédio moral de Evans (também enfermeiro) e várias outras.

Junta-se todos esses pontos e isso aumenta a necessidade do trabalho, pois o poder aquisitivo é uma forma de “se livrar” de vários assédios impostos pela sociedade. Claro que o sistema não vai deixar Ludi sair dessa, o excesso de trabalho, como a própria reconhece em vários momentos, não a levam para lugar nenhum, a não ser para uma tristeza que não parece ter cura e a erros que custam muito caro para todos.

Ver esse filme após as eleições norte-americanas de 2021 pode fazer com que o espectador pense que esse tipo de situação acabou, talvez por querer acreditar nisso, talvez por uma mulher ser a atual vice-presidente do país em questão. Porém, além de não ter acabado para ninguém, Ludi é haitiana e esse é um recorte importante a ser feito quando se analisa a situação, se é difícil para o estadunidense, para o imigrante é muito mais complicado e para Ludi, mulher negra, é mais complicado, porque o estadunidense sempre vai se importar com ele em primeiro lugar.

Felizmente, filmes como “Ludi” podem fazer as pessoas entenderem como é importante pensar em seu próprio país e reconhecer as coisas boas que tem nele, de maneira a não cair na falácia que os Estados Unidos são os países que os sonhos se realizam. Se eles realizam é para aqueles que tem dinheiro, para as outras pessoas, principalmente negros, latinos e imigrantes, essa terra é o local onde os sonhos costumam acabar.

Texto que faz parte da cobertura da edição 2021 do Festival de cinema de Nashville

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