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Texto que faz parte da cobertura da edição 2021 do Festival de cinema de NashvilleThis critic is part of Nashville Film Festival 2021 coverage
Em situações como a de Ludi, personagem que dá título para o
filme dirigido por Edson Jean, essa obrigação criada pelo capitalismo é ainda
maior, pois ela é uma imigrante haitiana que precisa sustentar sua família na
terra natal. Para isso, todo o dinheiro que ela ganha em seu trabalho como
enfermeira, é mandado para eles. Assim, quando surge a oportunidade de ganhar
um dinheirinho a mais cuidando de um paciente fora do hospital onde ela
trabalha, ela aceita, mesmo sabendo que isso vai contra as normas da
instituição.
Se ela aceita, é porque ela não recebe o necessário no hospital onde trabalha, o que além de gerar um debate sobre a má remuneração, também faz com que o público (no caso o brasileiro) reflita como o nosso sistema de saúde é algo do qual temos que ter orgulho, pois graças a ele e a leis trabalhistas do nosso país, os profissionais como Ludi não precisam fazer o que ela faz.
Porque ela sabe que está descumprindo as regras impostas
pelo seu trabalho nos EUA, mas, a necessidade fala mais alto e uma grana a mais
é sempre algo bom (como ela mesma fala em um dialogo), assim, ela faz o que ela
julga que precisa fazer, mesmo que isso tenha um custo alto, como a falta de
descanso, de lazer e de saúde mental, além de ter que aguentar as pessoas
falando para ela se casar, apenas para citar um exemplo de coisas que ela
escuta durante o filme.
Além de um acréscimo muito importante, o fato dela ser
mulher com certeza influencia em como ela é tratada pela sociedade, vemos isso
em uma série de situações dentro do filme, a cena do motorista de ônibus por
exemplo, a oração que uma companheira de trabalho faz para ela, o assédio moral
de Evans (também enfermeiro) e várias outras.
Junta-se todos esses pontos e isso aumenta a necessidade do
trabalho, pois o poder aquisitivo é uma forma de “se livrar” de vários assédios
impostos pela sociedade. Claro que o sistema não vai deixar Ludi sair dessa, o
excesso de trabalho, como a própria reconhece em vários momentos, não a levam
para lugar nenhum, a não ser para uma tristeza que não parece ter cura e a
erros que custam muito caro para todos.
Ver esse filme após as eleições norte-americanas de 2021 pode
fazer com que o espectador pense que esse tipo de situação acabou, talvez por
querer acreditar nisso, talvez por uma mulher ser a atual vice-presidente do
país em questão. Porém, além de não ter acabado para ninguém, Ludi é haitiana e
esse é um recorte importante a ser feito quando se analisa a situação, se é difícil
para o estadunidense, para o imigrante é muito mais complicado e para Ludi,
mulher negra, é mais complicado, porque o estadunidense sempre vai se importar
com ele em primeiro lugar.
Felizmente, filmes como “Ludi” podem fazer as pessoas
entenderem como é importante pensar em seu próprio país e reconhecer as coisas
boas que tem nele, de maneira a não cair na falácia que os Estados Unidos são
os países que os sonhos se realizam. Se eles realizam é para aqueles que tem
dinheiro, para as outras pessoas, principalmente negros, latinos e imigrantes,
essa terra é o local onde os sonhos costumam acabar.
Texto que faz parte da cobertura da edição 2021 do Festival de cinema de Nashville
This critic is part of Nashville Film Festival 2021 coverage
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