Imagem: DIVULGAÇÃO |
Texto que faz parte da cobertura da edição 2022 do
Festival de cinema de Rotterdam
This critic is part of IFFR 2022 coverage
Faz sentido que em um filme focado no sequestro de sinal de
rádio, boa parte das cenas sejam imagens de algum lugar de Montreal (cidade
onde a história se passa) com uma narração em off. É como se estivéssemos escutando
rádio e na maioria das situações, fazemos isso olhando algo que não tem nada a
ver com o que estamos ouvindo, por exemplo: escutar uma partida de futebol no
meio do trânsito.
Esse tipo de cena é predominante em “The Dream and the Radio”,
assim como é predominante a ideia de revolução, cujo casal principal e sua
amiga Beatrice, tem em comum e é o principal motor de sua amizade. Os três são
pessoas ricas e engajadas politicamente, ao conhecer Raoul, um ativista que rouba
sinais de rádio de grandes corporações, eles passam a se envolver com aquele
mundo.
Dirigido por Renaud-Deprés-Larose e Ana Tapia Rousiouk, a obra usa e abusa do experimental, para passar essa ideia de revolução aliada com o rádio e com a literatura (um dos personagens é escritor e Beatrice é viciada em ler), a narração em off mostra bem esse ponto, a personagem lê trechos de livros e dá um aspecto onírico ligado a história.
Os sonhos são, sem dúvida, a melhor coisa do filme, principalmente
se pensarmos naquela revolução planejada pelos personagens como algo inútil. Em
nenhum momento sabemos o exato motivo da revolução, da mesma maneira que não entendemos
as motivações dos personagens devido a seus privilégios.
Tudo o que vemos é muito elitizado e faz parte de uma
parcela da sociedade da qual eu não pertenço nem de maneira étnica e nem de
maneira ideológica, logo e acredito que isso também possa acontecer com o
espectador, é difícil haver algum tipo de identificação com os personagens e
com uma causa misteriosa.
Claro, pode parecer que eu estou sendo egoísta ao pensar em
filmes como pura e simplesmente uma maneira de identificação, porém, por mais
que o material oferecido por toda e qualquer arte seja objetivo, o mesmo para
todos que o consomem, nós o vemos de maneira subjetiva, com nossos próprios
olhos, a identificação ou não, faz parte da experiência.
Talvez os personagens não tenham uma identificação total com
várias coisas ali abordadas, o que pode servir de motivo para a revolução e o roubo de
sinais de rádio não ser de todo esclarecido, o que nos leva aos sonhos que em
sua maioria, não são apenas sonhos de quando se está dormindo, são projeções de desejos para o futuro, mesmo que eles tenham essas ideias, nos
momentos de sono.
Mesmo assim, é inevitável olhar aquilo e não pensar em como tudo é romântico no sentido ruim da palavra. Se fossem jovens de outra realidade e não brancos e ricos, tudo aquilo ali, com exceção do amor pela literatura e do amor um pelo outro, não faria sentido nenhum, pois se teriam coisas realmente importantes para se pensar. Assim, dentro daquela revolução misteriosa, fiquei procurando onde eu me encaixaria com aquilo e a resposta foi: não me encaixaria. Não é algo ruim e nem é um filme ruim, mas prejudica a experiência.
Texto que faz parte da cobertura da edição 2022 do
Festival de cinema de Rotterdam
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