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Texto que faz parte da cobertura da edição 2022 do Festival de cinema de Rotterdam
This critic is part of IFFR 2022 coverage
Em vários momentos de “The Island”, dirigido por Anca Damian,
eu pensei que o Robinson Crusoé da diretora estivesse alucinando. Isso não é
ruim, é uma possibilidade concreta dentro de todo o surrealismo utilizado na
obra, que é uma das várias adaptações do livro para o audiovisual e a primeira –
pelo menos a primeira que eu vi – que é uma animação.
Talvez ser uma animação seja a principal motivação para a
maneira que a diretora aborda sua história e sua adaptação. Ao acompanharmos
Robinson e sua vida na ilha, vemos que as coisas mantidas da história clássica,
como o diário (é um livro escrito em formato de diário) e a invasão de outras
pessoas é bem útil para a mensagem de que tudo é adaptável mesmo quando já foi
adaptado anteriormente.
No caso, os invasores da ilha são refugiados e isso demonstra como é importante trazer histórias clássicas para o contexto político atual. Claro, por mais que a adaptação seja funcional e o surrealismo seja divertido de assistir e escutar (muitas cenas do filme são musicadas), pode ser que a estrutura canse um pouco.
Isso se dá devido ao excesso de surrealismo, o que leva o
público ao lado bom já abordado de pensar que aquilo é uma alucinação do
protagonista devido a solidão, ao mesmo tempo em que o lado ruim, a dúvida nunca
esclarecida de ser ou não ser uma alucinação, pode tirar um pouco o espectador
da obra.
Mas, o uso da animação como ferramenta é ótimo,
principalmente porque não há medo de ousar e entende como não é necessário se
manter fiel ao material que adaptou e muito menos fiel a uma maneira realista
de abordar uma história de ficção. Cinema é mentira afinal de contas, assim
como boa parte (senão todas) as formas de arte também são.
Anca Damian faz um bom trabalho nesse filme, que com certeza
vai entreter o espectador por muitos momentos. Por mais que o excesso canse um
pouco, não tenho nada contra um cinema que se assume como mentira e o principal
mérito de “The Island” é esse, não ligar para esse realismo que parece ter
dominado o cinema nos últimos anos.
Texto que faz parte da cobertura da edição 2022 do
Festival de cinema de Rotterdam
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