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Texto que faz parte da cobertura da edição 2022 do Festival de cinema de Rotterdam
This critic is part of IFFR 2022 coverage
Assim como a personagem título, interpretada por Lea
Seydoux, quando isso acontece, o primeiro passo a se tomar é aprender a
disfarçar sua tristeza, para não preocupar os outros, principalmente quem
amamos. Você se priva muitas vezes dentro dessa ideia de disfarce e aprende a
esquecer constantemente de como o mundo se tornou ridículo.
Bruno Dumont, diretor e roteirista desse filme, trata esses momentos da forma adequada para pessoas não tristes entenderem a protagonista. A cidade super colorida, as roupas da personagem, toda aquela brincadeira frequente entre ela e sua assessora, essas pequenas coisas, microcenários de alegria falsa, são bem trabalhados pela obra.
Ninguém entende esse sentimento a não ser pessoas que também
o sentem. Não a toa, a casa onde France, seu marido e filho vivem, é enquadrada
daquela maneira a fazer parecer que o local é pequeno. Não é a casa que é
pequena, mas France que se sente pequena ali, ignorada, presa, tanto por um
marido frio e um filho distante, quanto pela fama através de seu trabalho como
jornalista, que foi o que a levou a ter aquela casa.
A fama foi o gatilho para a personagem assumir sua
personalidade triste. O estúdio, onde ela deveria se sentir bem, se torna
apenas um local qualquer a partir do momento em que ela entende que precisa
lidar com a sua tristeza e disfarçá-la para não machucar ninguém. Muitas vezes,
ela até parece esquecer como ela é boa em sua profissão, uma das várias fases
que a tristeza faz a pessoa passar.
O esquecimento a leva até a esquecer como ela dirige suas
matérias de forma tão natural que nem parece que ela estudou para aquilo. Mas,
ela não estudou para dirigir sua própria vida e seus sentimentos, claro, ninguém
estudou. Talvez por isso somos enganados o tempo inteiro por nós mesmos e pelos
outros. Por isso, imagino, há cenas no filme que levariam ao riso em outra ocasião
(como a cena em que a senhora fala para ela que viu a chanceler alemã), mas dentro da história, elas são sérias e levam o público a pensar “meu deus, pare de falar”.
Porque tudo o que France deseja, assim como pessoas que
lidam com o sentimento ali apresentado, é silêncio, o anonimato. O barulho da
cidade grande é irritante, os constantes pedidos de foto para France incomodam
tanto o espectador quanto a protagonista e o silêncio da cena do retiro e de
uma cena especifica no estúdio, trazem paz, mesmo que elas não tenham
exatamente esse objetivo.
Os pequenos momentos de paz são frequentes e rápidos, a perspectiva desse silêncio pacificador, a expectativa que criamos para tê-lo causa ansiedade antes de o atingirmos e alívio no momento em que ele chega. “Tudo passa em 24 horas” diz a assessora de France em certa cena. Ela está errada e a olhada de France é a resposta perfeita, nem tudo passa em 24 horas, a tristeza mesmo, fica.
Texto que faz parte da cobertura da edição 2022 do Festival de cinema de Rotterdam
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