Imagem: DIVULGAÇÃO |
This critic is part of IFFR 2022 coverage
“Yamabuki é uma flor que cresce nas sombras”, diz em certo
momento, um personagem do filme que leva o título da flor. A maioria das pessoas cresce nas sombras,
isso caso elas consigam crescer. Claro, crescer é diferente de florescer, então,
é até fácil ter algo parecido com uma flor que cresce nas sombras.
Dirigido por Juichiro Yamasaki, o filme conta a história de
três personagens que se cruzam em suas vidas devido a caminhos em comum, um
homem que trabalha com construção, sua esposa e a personagem título, uma jovem adolescente
que se engaja em protestos silenciosos em Okinawa.
Todos eles querem buscar algo no qual podem se agarrar, onde vejam algum tipo de futuro. Yamasaki liga essas buscas em diferentes fases da vida de maneira bem efetiva, gerando identificação no espectador, através da união entre esses caminhos. A vida nada mais é do que essas constantes tentativas e erros, até que a pessoa se cansa e para de tentar.
De certa forma, todos ali pararam de tentar por algum
motivo, mesmo que tenha sido de forma inconsciente. As flores param de crescer
em algum momento e podem voltar caso a vida permita. Se o casal volta a crescer
nas sombras devido ao amor que sentem um pelo outro, por mais que seja através
da frustração que isso acontece, Yamabuki experimenta esse crescimento ao
encarar a vida sem a mãe, falecida quando a menina era pequena.
Por isso, imagino, a escolha do diretor de usar imagens granuladas.
A vida é granulada daquela maneira, cinza igual a construção que o homem
trabalha e onde acha algo importante para a sua família, escura tal qual a
relação de Yamabuki com seu pai, incapaz de crescer mesmo nas sombras.
A constante busca pelo futuro, a briga contra si mesmo, são
temas potencializados pelo diretor através do silêncio. Um bom exemplo para a
ilustração disso é Yamabuki e sua vontade de amar, quando descobre que o colega
de escola gosta dela, ao mesmo tempo em que tem medo de se entregar a esse
sentimento, talvez porque nunca teve um exemplo próximo a ela de como isso pode
ser bom ou apenas por medo mesmo.
Ao não negar esse silêncio e não negar o medo que os
personagens sentem, o diretor faz um filme real e cru, assim como a vida é. Há
vários cenários ali que contribuem para isso – o casal é de sul coreanos vivendo no Japão, as olimpíadas
– tudo isso, assim como a vida, é incontrolável e silencioso como os caminhos
seguidos por aqueles personagens.
A flor yamabuki cresce nas sombras, mas nem todo mundo é
capaz de crescer. Por mais cruel que seja, o trabalho de Juichiro Yamasaki
mostra isso muito bem. Nem todo mundo consegue seja lá o que for, as
possibilidades de conseguir são menores do que as de não conseguir e tentar é
extremamente cansativo.
Texto que faz parte da cobertura da edição 2022 do Festival de cinema de Rotterdam
This critic is part of IFFR 2022 coverage
Nenhum comentário:
Postar um comentário