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This critic is part of IFFR 2022 coverage
Acho inegável como uma figura tal qual Edoardo Scarpetta é
interessante, por mais que não seja surpreendente dentro da arte como um todo.
Um ator muito bem-sucedido, pai ausente para três filhos que ele nem mesmo
assumiu, acusado de plágio ao parodiar uma peça dramática de sucesso.
Essa é a história de The King of Laughter, dirigido por
Mário Martone e onde Scarpetta é interpretado por Toni Servillo. Acompanhamos a
briga jurídica do ator para provar que não plagiou peça alguma, ao mesmo tempo
acompanhamos suas diversas questões familiares.
Talvez a maior questão a ser abordada seja a do não desenvolvimento de ideias construídas pelo filme. Muitas vezes, ficamos confusos entre o principal ponto da obra, se é o teatro e como este é presente na vida da família Scarpetta ou se é a questão do plágio ou não de Edoardo. O não aprofundamento, a falta de foco entre uma coisa e outra, é prejudicial para o andamento da obra.
Se levarmos em consideração a duração do filme (2h12), é
triste como temos o tempo para o foco necessário nas duas ideias principais,
mas não existe um fio condutor direcional para dar vida a esses pontos. O único
fio estável na obra é a atuação de todo um bom elenco, mas principalmente de
Toni Servillo.
O veterano consegue imprimir a Scarpetta a personalidade
multifacetada necessária ao personagem, por mais que ele não tenha nada de
complexo ou surpreendente em muitos aspectos, como, por exemplo, ser um pai
ausente e trair a esposa. Há vários homens assim em diversas áreas, logo,
convenhamos que isso não é exatamente algo chocante, é algo que
precisamos ver como errado.
Essa função fica a cargo de seus filhos, que sabem como tudo
ali deveria ser tratado como algo estranho, pois Scarpetta faz questão de envolver
seu adultério no próprio teatro, é como se nada fosse escondido, apenas um
cenário de mais uma peça para as pessoas não participantes dela darem risada e
darem risada com Scarpetta do que ele faz com os filhos não assumidos e com sua
esposa.
Ver isso pelo tempo já citado, é meio cansativo, devido ao
não foco em uma ideia (também já citado). Os planos memoráveis do filme estão
nas peças e nas encenações, principalmente a inicial, onde entendemos o peso de
Scarpetta para o teatro e a influencia de sua fama, além de vermos como todos
os campos de sua vida estão unidos em um lugar só graças a seu esforço.
Simultaneamente, vemos nessa cena inicial, o teatro e as famílias
de Scarpetta interagindo, o amor pelo ofício e a raiva carregada pelo ator
devido a importância que seus filhos mais velhos não dão ao teatro e, claro,
vemos uma ideia, um caminho promissor a ser seguido, mas que tem como fim o
esquecimento no meio de trajetórias e escolhas confusas.
Não vou ser pedante ao falar que Mario Martone poderia ter
tomado outros caminhos, porque cada um sabe o que faz e escrever sobre algo é
muito mais fácil do que fazer esse algo. Porém, é impossível para mim não pensar no
filme que The King of laughter poderia ser e não é.
Texto que faz parte da cobertura da edição 2022 do
Festival de cinema de Rotterdam
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