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Texto que faz parte da cobertura da edição 2022 do Festival de cinema de Rotterdam
This critic is part of IFFR 2022 coverage
Todo relacionamento é fadado ao fim, seja devido a vida ou
pelo fim dela, todo relacionamento acaba, amizades, amores, tudo, absolutamente
tudo, acaba. O jeito é aproveitar enquanto você ainda o tem, ciente de que um
dia isso terminará e não será fácil esquecer e seguir em frente.
Clarisse (Vicky Krieps) pega suas coisas, entra no seu carro
e vai embora. Mathieu Amalric, diretor de “Hold me Tight”, usa a viagem dela
para nos inserir dentro de sua vida familiar, ela abandona seu marido, dois
filhos e parte em uma busca pelo desconhecido, lutando contra a saudade que
sente das crianças.
Amalric usa o tempo e a dúvida, tanto de Clarisse, quanto do espectador, para brincar e enganar seu público. Dentro do contexto de saudade, tudo é relativo e existe uma confusão entre o que é verdade e o que a nossa mente idealizou como sendo uma lembrança. A nossa saudade nos engana até mesmo em relação ao que de fato aconteceu, apenas para se retroalimentar e manter o ciclo de nostalgia vivo.
Logo, temos a base da lembrança e a dúvida de como aquilo
aconteceu. Amalric usa essa dúvida no espectador, para fazê-lo se questionar o
tempo todo do que está acontecendo ali, Clarisse abandonou a família? Ela
conheceu o marido daquele jeito mesmo? A filha dela de fato queria ser pianista
ou isso era um sonho fracassado da própria mãe?
Ao fazer nós pensarmos nisso e usar o tempo como ferramenta
estrutural para aumentar a dúvida, o diretor gera no público lembranças de sua
própria vida. É inevitável que a gente não se lembre de alguma situação, mesmo
que não seja igual àquelas vistas em tela, simplesmente pelo
sentimento de saudade gerado pelo filme.
Essas coisas não seriam possíveis sem a atuação de Vicky
Krieps, que serve o tempo todo como motor do filme e gerador da saudade e da
dúvida. Mesmo que não saibamos o motivo pelo qual ela foi embora, não é
possível questionar suas atitudes, porque não é possível questionar a saudade e
nem o amor que ela sente por sua família.
Porque tem certas coisas que não se questionam. Quando
alguém fala ou demonstra que está com saudade e isso é claramente verdadeiro da
parte da pessoa, a única coisa que o ouvinte pode fazer é ficar em silêncio.
Nunca entenderemos a saudade do outro ou o amor do outro, mesmo que esses
sentimentos sejam por nossa causa, é impossível saber o que isso significa para
a pessoa.
O tempo fica confuso, as lembranças vêm e vão, uns dias são
mais fáceis do que outros e todos os dias são difíceis, mas, mais cedo ou mais
tarde, todo mundo aprende a lidar com a saudade e com a confusão gerada pela
lembrança. Continua confuso? Sim, mas fica mais simples lidar com isso dentro
de si.
“Hold me tight” é um manifesto sobre saudade e
principalmente, um manifesto sobre finais e continuidade, sobre não ter opção e
seguir em frente sem esquecer de tudo o que passou, 1h40 que te deixam com mais
saudade ainda.
Texto que faz parte da cobertura da edição 2022 do Festival de cinema de Rotterdam
This critic is part of IFFR 2022 coverage
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