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This critic is part of IFFR 2022 coverage
As vezes o mundo para, simplesmente para. Isso acontece por
uma série de motivos, mas no caso de Julie, protagonista de The Worst Person in
the world, dirigido e escrito por Joachim Trier, foi devido a esperança
repentina que surgiu para ela em dado momento da trama.
O mundo dela parou e ela correu. Ela correu em direção a
aquilo que ela pensava ser o ideal naquele momento, sem se importar com o que
viria depois, apenas pensando no agora, correndo e correndo e correndo, sem
parar, até que ela chega no ponto o qual acredita ser o certo, ele prova ser o
errado e ela volta a correr, mas dessa vez, sem o mundo parar.
Como todo jovem (ou a menos a maioria deles), Julie, que tem
30 anos (ou está próxima dessa idade), ela vive tentando, indo de coisa em coisa,
esperando que em algum momento, o mundo dela pare e sinta esperança novamente.
Para muita gente, esse momento de o mundo parar por esperança, não acontece,
porém pouco importa, o caminho é o mesmo tanto para os que tiveram esse privilégio,
quanto para aqueles que não tiveram, é a tentativa.
Pois Julie quer, assim como todos nós, correr por um mundo
parado, onde cada pessoa cuida de suas próprias vidas e onde cada preocupação é
a sua própria preocupação e não a do outro. Muitas vezes a pausa é necessária,
mesmo não sendo desejada e assim como a protagonista, queremos esquecer disso e
nos forçar a continuar tentando.
Talvez a não tentativa seja uma tentativa apesar de tudo. O
não movimento, a inércia, seja, paradoxalmente, uma tentativa de movimento, um
teste para a mudança, uma volta no quarteirão pessoal do mundo. Provavelmente,
Renate Reinsve (atriz que interpreta Julie), também passe pelos dilemas de sua
personagem, talvez, o que mexa com o público nesse filme seja o fato de vermos
os nossos dilemas na tela.
Vemos a inércia e o movimento trabalhados de forma conjunta,
novamente de maneira paradoxal. Isso é possível através de momentos em que o
mundo para, mas sabemos que ele não parou, pode ter parado para nós, claro, mas
não de maneira geral. Nós podemos desejar a inércia, mas o mundo nos força a se
mexer, mesmo não querendo de forma alguma a fazer isso.
Esse ciclo de movimento, o diálogo de nós com nossas
tentativas, de nossas reflexões com a maneira que nós as trabalhamos, pode ser
como a fumaça de cigarro passado de uma pessoa para a outra ou como o efeito de
um entorpecente, de um orgasmo, como se a gente fizesse parte de um fluxo
constante, de um ciclo imbatível, que irá nos destruir no final independente do
caminho que nós escolhemos.
Esse fluxo combinado a essa inércia nos lembra sempre que
nós somos os vilões de nós mesmos, que assistimos a nossa vida de camarote, que
somos coadjuvantes de nossa própria vida e dentro dessa tristeza, dessas
inúmeras tentativas e do papel principal negado a nós, raramente o mundo vai
parar, tentaremos quase tudo em nossas trajetórias por simples obrigação e
tentaremos esquecer de alguma forma que tudo é um ciclo, tudo é um fluxo e tudo
volta, assim como vemos acontecer com Julie. Inevitável.
Texto que faz parte da cobertura da edição 2022 do Festival de cinema de Rotterdam
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