Imagem: DIVULGAÇÃO / Universal |
Em dado momento de “Licorice Pizza”, Gary (Cooper Hoffman)
telefona para Alana (Alana Haim). Anos 70, tudo explodia em luzes e sons, Bowie
fazia sucesso nas rádios, novos 007 eram lançados constantemente nos cinemas, o
barulho dos fliperamas consumia as ruas e o trânsito era ainda mais caótico.
Gary liga, Alana atende, silêncio. Telefone desligado, ligam de novo um para o
outro, ele atende, silêncio. Não importava o que seria dito, não importava se
algo seria dito, o importante era apenas estar ali, um para o outro, juntos
caso precisassem.
O problema é que ele tem 15 anos e ela 25. Mas o fato deles ficarem confortáveis um com o outro para manterem o silêncio entre si, sem sentirem a necessidade de nenhum som, é algo de causar inveja. Dirigido e escrito por Paul Thomas Anderson, acompanhamos esses dois em meio a luta pela vida, ele é ator, ela faz o que tem chance de fazer, ambos são sozinhos e correm em meio ao vazio por algo que nem ao menos sabem o que é.
Essa corrida dentro da confusão não tem espaço, não cabe
barulho, mas barulho é tudo o que ouvimos e muitas vezes ficamos sorrindo inconscientemente,
porque vemos algo real, algo próximo de nós, essa luta por conseguir lidar com
o próprio silêncio, por querer ter alguém para compartilhar o silêncio ou
apenas ficar em silêncio.
É inegável as formas com as quais PTA trabalha com isso e
com a constante tensão do falar, do se expressar, provavelmente são nesses
momentos onde a diferença de idade fica mais clara. Bom, claro, em geral, a
sociedade permite que homens sejam tratados como meninos mesmo quando são
homens e Gary é um menino e age com imaturidade, até característico da
idade, mas não menos irritante, o choque com Alana é justamente essa confusão
entre a maturidade dela (não apenas devido a idade, ela claramente não era tão boba
quando tinha 15 anos) e a paz que Gary, apesar de tudo, faz ela sentir.
As confusões dos dois parecem se encaixar de alguma forma,
inexplicável para gente, público, mas plausível para eles, Gary e Alana, por
estarem vivendo aquilo. Passamos boa parte do tempo de nossas vidas querendo compartilhar
nossas confusões e silêncios e apenas quem tem a sorte de
conseguir algo assim, é capaz de entender o que os personagens passam.
Claro, muitas vezes até encontramos isso em outras pessoas,
o mundo tem uma quantidade considerável de gente e é esperado e até natural,
que encontremos alguém com quem possamos ficar em silêncio, para, um tempo
depois, o barulho voltar a ocupar aquele espaço e a relação acabar. Algumas
pessoas já passaram no “meu” teste, não estou imune a isso.
Talvez por isso, as rotinas de Gary e Alana sejam tão
próximas? A vida dos dois é repleta de pessoas, Alana é abordada por vários
homens, em várias situações diferentes, todos com o mesmo nível de maturidade,
Gary também tem outras meninas, da idade dele, que do jeito delas e claro, com
atitudes comuns para pessoas de 15 anos, acabam atraindo o jovem. Mas em nenhum
momento eles encontram a paz que encontram um no outro, nessas pessoas.
Em meio a constante luta por paz e silêncio, provavelmente
nunca perdoarei PTA por ser tão bom em manipular o público. Além de ficarmos
sorrindo em uma série de momentos (primeiro encontro deles, por exemplo) e
chocados em outros momentos (Alana dirigindo um caminhão sem combustível),
somos levados a torcer por aquela relação mesmo com a idade e imaturidade de
Gary.
Imagino que isso funcione devido a já citada paz que eles
encontram um no outro. O silêncio que permite que eles fiquem deitados juntos
num colchão de água, que não falem nada em uma ligação telefônica, que procurem
um ao outro dentro de seus vazios e que corram no meio da rua, apenas para
estar ali, em silêncio, no meio da confusão, juntos.
Porque o importante é se sentir confortável dentro do seu
silêncio. Achar alguém que fique confortável com você é lucro, sorte. Eu vou
continuar fazendo meu teste, continuar achando que não vai dar certo, lidar com
meu silêncio, confusão, não achar paz e continuar pensando que isso aqui
deveria ser uma folha em branco.
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