Imagem: DIVULGAÇÃO |
This critic is part of Glasgow Film Festival 2022 coverage
Tentei não pensar em timing quando comecei a ver Ashgrove.
Filme que aborda uma crise em relação ao estoque de água no mundo e cientistas
tentando resolver isso a todo custo. Claro, o diretor e um dos roteiristas,
Jeremy LaMonde, deve ter pensado nessa história durante a pandemia e apenas
trocou o principal causador da crise.
Porém, ao abordar principalmente a iminente separação do
casal Jennifer Ashgrove (Amanda Brugel) e Frank (Jonas Chernick), LaMonde
escolhe trabalhar esses cenários menores, onde focamos nas pessoas que vivem
durante esse momento de crise, lidando com suas próprias crises e não com a
crise em si, como veríamos em um filme-catástrofe, por exemplo.
Ashgrove é uma cientista que após apagar devido ao excesso de trabalho, vai passar um tempo com seu marido em uma fazenda. É lá que o diretor mostra ao público como esses dois não se amam mais já a um tempo e nesse cenário vemos um relacionamento fadado ao fim.
Talvez, devido a crise da água, o casal tenha decidido ficar
junto por mais tempo ou por algum outro motivo que não sabemos e nem precisamos
saber. O importante, é que sabemos do perigo do mundo acabar ao mesmo tempo em
que vemos o mundo daquele casal acabar, apenas eles não tem a coragem
necessária de perceber isso e tomar a atitude esperada, até aguardada por eles,
que é acabar com aquilo de vez.
Isso fica muito claro através da atuação de Brugel e Chernick.
Ambos se comportam como se aquele relacionamento fosse uma obrigação a cumprir
e não algo que eles fizeram por livre e espontânea vontade. É como se eles
tivessem uma lista de coisas a fazer para passar o dia juntos (até vemos
parcialmente isso em certa cena) e quando essa lista acabar, eles finalmente
atingem um estado próximo a paz.
Porque paz é impossível na situação deles, não é o que eles
querem. Eles não querem ter paz um com o outro, eles querem ter paz sozinhos,
porém nenhum deles tem a coragem necessária para tal. É como se o apagão que a
personagem principal teve devido ao trabalho, tivesse atingido o casal devido a
falta de vontade em permanecer juntos.
Levando em consideração que muitas vezes, em vários
cenários, mesmo com o mundo acabando, em crises muito sérias, você esquece
dessas coisas e passa a focar no que é seu, “Ashgrove” se torna um retrato
interessante desse microcenário. Pode acontecer o que for lá fora, a vida ainda
continua dentro de você.
Texto que faz parte da cobertura da edição 2022 do Festival de cinema de Glasgow
This critic is part of Glasgow Film Festival 2022 coverage
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