3/06/2022 12:00:00 AM

Glasgow Film Festival: Happening

Happening
Imagem: DIVULGAÇÃO

Texto que faz parte da cobertura da edição 2022 do Festival de cinema de Glasgow

This critic is part of Glasgow Film Festival 2022 coverage

Anne tem uma prova. Para essa prova, por mais que ela seja estudante de literatura, ela não precisa estudar, mas precisa de ajuda. Esta é negada a ela pelas pessoas que ela pensava poder confiar, seu médico, suas amigas, ela não pode contar a seus pais e o pai do bebê que ela carrega não se importa em ajudá-la a conseguir o aborto que deseja, apenas se importa que ela consiga.

Essa é a história de “Happening”, dirigido por Audrey Diwan. Acompanhamos a busca de Anne para conseguir fazer algo que quer, por mais que a sociedade a julgue por isso de maneira continua. Porque naquela época (e hoje também e nem sei se em menor grau), esse tipo de coisa eram acontecimentos no sentido da palavra “Happening” em inglês, coisas que chamam atenção demais, que movem um grupo de pessoas contra alguém.

Anne precisa lutar contra essas coisas sozinha. Ela não pode contar para ninguém, pois aí seria taxada de coisas que ela não é, mas que a sociedade faz acreditar que mulheres com vida sexual ativa, são e ela precisa resolver isso de alguma forma, mesmo que essa forma tenha o mesmo fim daquela que seria a ideal, mas não o mesmo meio.

Várias mulheres morrem todos os anos devido ao aborto não legalizado, se Anne tivesse dinheiro e apoio, provavelmente ela não teria passado pelo que Diwan mostra em seu filme. Muitas vezes, claro, para quem entende a situação pela qual a protagonista passa, nos vemos fechando os olhos, colocando a mão no rosto, não queremos ver aquilo.

Da mesma maneira que, infelizmente, ver e entender aquela situação é uma maneira de discutirmos (ainda mais) as coisas que Anne e várias mulheres passam. Também serve para, caso alguém (principalmente homens) ainda não tenham entendido, começarem ao menos a compreender.

Tanto a direção de Diwan, que nos faz inevitavelmente entender a situação e sentir raiva das pessoas ao redor de sua protagonista – como por exemplo, os médicos com quem Anne passa – quanto a atuação de Anamaria Vartolomei – levam o espectador para o mesmo caminho, a empatia.

Caso não se sinta empatia e não fique com raiva em certas cenas, como a da discussão na praia e não sinta pelo menos um pouquinho de esperança, mesmo de maneira desconfiada, no final do filme, é possível que esse espectador pense igual muitas das pessoas com as quais Anne se relaciona, pensam e isso é um problema.

“Happening” traz a tona uma luta ainda atual e que infelizmente ainda mata muitas mulheres ao redor do mundo. O filme de Audrey Diwan mostra como boa parte da sociedade precisa parar de julgar mulheres por escolhas que são unicamente delas. Anne não precisava ter tido essa prova, ela precisava e buscava apoio, a única prova que ela precisava era a de literatura.

Texto que faz parte da cobertura da edição 2022 do Festival de cinema de Glasgow

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