Imagem: DIVULGAÇÃO |
This critic is part of SIFF 2022 coverage
Logo no início de “Wildhood” somos inseridos em um universo
de violência. Conhecemos Lincoln e seu irmão Travis, quando os dois são pegos
pela polícia e presos após tentarem roubar algo, apanham dos policiais e assim
que chegam a delegacia e seu pai vai busca-los, apanham do pai também.
Pensamos no que virá a seguir no filme dirigido por Bretten
Hannam e esperamos que seja algo também violento e provavelmente situações de dor vividas
por esses dois irmãos, principalmente se pensarmos que Lincoln tem origem indígena.
Mas acompanhamos a trajetória desse quando ele descobre que sua mãe está viva e
decide procurá-la, após o pai dizer por anos que ela havia morrido.
Então, o que poderia ser algo extremamente violento, se transforma em um retrato sensível de autodescoberta, uma jornada pelo Canadá em busca não apenas de sua mãe, mas em busca de si mesmo e de saber quem é e isso é potencializado após Lincoln encontrar em Pasmay, um jovem viajante que decide acompanhar os irmãos na viagem, um possível amor dentro de sua caminhada.
No mundo aberto e bonito que Lincoln encontra, tanto em si
mesmo, quanto nas pessoas ao seu redor e na própria paisagem, vemos um leque
infinito de possibilidades para ele, assim como vimos, em algum momento de
nossas vidas, essas possibilidades se abrindo para nós, seja internamente ou
nas pessoas que cruzam nosso caminho.
Facilmente temos empatia pelo protagonista justamente devido
a essas possibilidades e por pensarmos no que seriamos caso tivéssemos feito
algo diferente ou não tivéssemos feito algo, ou tivéssemos ido para um outro
caminho que nem imaginamos qual seria. Dentro da solidão de Lincoln há
possibilidades e escolhas que também se apresentaram para nós.
Ele tinha muito bem definido aonde queria ir, por mais que
achasse que não tinha e ainda teve a sorte de descobrir novas coisas durante
esse caminho e nem todos temos essa sorte, até porque, ele foi levado a coisas
boas, a pessoas boas, a lugares que nunca conheceria e nem imaginava que existia.
A vida é como se fosse a dança que Pasmay ensina a Lincoln
em certo momento do filme. Sempre dando um passo e tentando equilibrar o corpo,
para quase cair e se apoiar no outro passo, dado com a outra perna. Pisamos em
ovos o tempo todo, inevitavelmente, muitas vezes caímos e os quebramos, quase
sempre nos reerguemos e recuperamos o equilíbrio.
Se as vezes nos é oferecido violência, as vezes também nos
é oferecido amor. Para Lincoln, foi oferecido ambas as coisas e a chance de descobrir sua origem. Descobertas podem ser doces e trazer equilíbrio,
efêmero, sim, mas ainda assim um chão, uma base e como a vida não tem base
nenhuma, é bonito ver alguém encontrando parte da sua.
Texto que faz parte da cobertura da edição 2022 do Festival de cinema de Seattle
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