7/18/2022 12:00:00 AM

Fantasia Festival: Employee of the month

Imagem: DIVULGAÇÃO

Texto que faz parte da cobertura da edição 2022 do Festival Fantasia

This critic is part of Fantasia Festival 2022 coverage

Se “The Office” tivesse sangue, provavelmente seria o filme “Employee of the month”, dirigido por Veronique Jadin. O filme, assim como a série, se passa em um escritório de pouco rendimento, que vende produtos de limpeza (na série eles vendem papel), onde Inês e sua estagiária (Michael e Ryan), entre vários serviços prestados, tem como principal função destruir as provas que o seu chefe comete fraude financeira.

Após Inês pedir um aumento e não o conseguir (sendo que todos os funcionários homens conseguiram sem nem pedir), ela e a estagiaria, em um acidente, matam o chefe e assim dão inicio a jornada de esconder o corpo e todas as provas que as conectam com o crime, tudo isso durante um dia comum de trabalho.

 
Jadin usa a comédia, principalmente aquela mais alternativa, para abordar tanto a relação entre funcionário e patrão, funcionários dedicados demais sem receber por isso, quanto a disparidade salarial entre homens e mulheres dentro do mercado de trabalho, no caso do filme (também existente na vida), com mulheres fazendo a mesma função que os homens e recebendo consideravelmente menos por um trabalho menor.

Inês se encaixa em tudo o que foi descrito acima. Uma funcionária competente, que faz mais do que precisa, não recebe por isso e ainda ganha menos do que seu companheiro de trabalho folgado que sai mais cedo, trabalha quando quer e ainda reclama do café que a protagonista faz porque quer, não porque precisa.

Se a personagem principal muda de comportamento e passa a pensar diferente em relação ao seu trabalho, é devido a amizade com a estagiária, que mostra para ela como o que ela faz é exagerado e não condizente com a função. A cena em que Inês fala “você pode construir uma carreira aqui” e a estagiaria começa a rir, é justamente a reação do público, porque, bom, como é que alguém pode pensar que vai construir uma carreira e ter um trabalho estável triturando papel? (Mas, talvez possa, claro)

Muitas vezes, por mais que tenha 1h17 de duração, o filme parece não ir para lugar nenhum, apenas aumentando a violência, com o público tendo a certeza do que acontecerá no final da obra. Se por um lado isso torna o filme previsível, por outro lado, através da comédia de erros e do ar de paródia assumido desde o começo, o filme sempre ganha folego e deixa o público imerso na obra.

“Employee of the month” (funcionário do mês em português”, é um filme que mostra bem como o sistema vigente é destrutivo, porém, também mostra como a única forma de fazer isso mudar são as pessoas criando consciência sobre sua relação com o trabalho. Claro: cada um faz o que precisa para conseguir viver e muitas vezes nós aceitamos pequenas coisas que são erradas, porque precisamos do dinheiro a cada começo de mês. Mas talvez com pequenos passos, isso possa ser mudado. No caso de Inês foi com um grande (e criminoso) passo.

Texto que faz parte da cobertura da edição 2022 do Festival Fantasia

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