7/13/2022 04:21:00 PM

Crítica: O telefone preto

Imagem: Universal Pictures

Uma história de fantasmas como há muito tempo eu não via, O Telefone Preto garante tensão, bons sustos e algumas surpresas.

Por Raissa Ferreira

Como uma grande fã de filmes de terror e que passou muito medo com O Exorcismo de Emily Rose (2005) e A Entidade (2012), criei algumas expectativas para o novo longa de Scott Derrickson e felizmente, tive uma boa surpresa com toda a experiência. A história parece tirada de algum livro de Stephen King, mas na verdade é inspirada na obra de seu filho, Joe Hill. As semelhanças estão lá a todo momento e parece que ninguém sabe contar uma boa história de fantasmas como essa família.

Na pequena cidade onde crianças estão desaparecendo aos montes, seus nomes e rostos são estampados em papéis colados pelas ruas, que em breve ficarão velhos e serão substituídos por outros cartazes de outra criança desaparecida. A polícia é incompetente e a cada nova criança raptada uma nova desesperança surge. Finney e sua irmã Gwen estão no centro dessa onda de crimes enquanto tentam sobreviver em um lar abusivo, com um pai alcoólatra, e lidam com as previsões que a pequena menina tem em sonhos, como sua mãe. Os dois são envolvidos no caso dos sequestros quando a polícia resolve contar com as visões de Gwen para tentar solucionar os crimes, o que parece absurdo mas reforça o ponto de que as autoridades aqui são incompetentes. 

Na verdade, todos os adultos são um tanto inúteis no longa, tal como eram em IT, clássico do horror, e cabe às crianças, vivas ou mortas, fazerem justiça. Assim como o arco do irmão do sequestrador que investiga amadoramente os crimes, mas não percebe que o assassino vive em sua própria casa, não vemos professores defendendo as crianças da violência dentro e fora da escola, não vemos ninguém a não ser as próprias crianças tentando lutar suas batalhas.

Enquanto Gwen tenta solucionar o caso sozinha, usando seus sonhos, ela entra em um embate com sua fé. A briga com Deus não é uma novidade nos filmes de terror, mas em O Telefone Preto, as discussões da menina com Jesus são um destaque. Assim como não há adulto que possa ajudar, ela se irrita com a ineficácia de Jesus ao atender suas preces e permitir que seu irmão seja mais uma vítima. As quebras de tensão no longa se dão pelos momentos divertidos da menina afrontosa que é praticamente uma adulta, forçada a crescer antes da hora.

A direção de Derrickson cria em nós empatia por todos aqueles pequenos personagens e uma tensão enorme a cada nova tentativa de Finney de escapar do cativeiro. Quando o assustador e sádico sequestrador vivido por Ethan Hawke o joga em seu porão vivemos momentos cada vez mais estressantes e assustadores. Através do telefone preto desligado, Finney consegue se comunicar com os espíritos dos outros meninos que foram sequestrados e assassinados e é assim que as crianças se unem e resolvem algo que os adultos não conseguem.

O filme usa alguns poucos jumpscares, mas bem usados. Os fantasmas dos meninos podem nos lembrar de outro clássico do terror, já que eles são retratados com naturalidade. O menino, apesar de assustado, traz a humanidade de volta para aquelas almas perdidas, lembra seus nomes, suas histórias, os trata com os colegas, amigos e vizinhos que eles foram em vida. Se ninguém sabia o nome desses meninos em vida até aparecerem nos jornais, Finney se lembra, se o estado foi incapaz de proteger e salvar essas crianças, Finney honra suas memórias, se fortalece para lutar com a ajuda deles e resolve o caso da única maneira que deveria ser resolvido.

Com algumas boas surpresas, o filme foge de alguns clichês de personagens tomando decisões não muito inteligentes em longas de terror e entrega uma bela história de fantasmas, que também critica um sistema que abandona e deixa vítimas conhecidas sem nunca dar um nome nem um rosto para quem tira suas vidas.

Acompanhe o trabalho da Raissa aqui

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