11/18/2022 06:52:00 PM

Crítica - Até os ossos

Até os ossos
Imagem: DIVULGAÇÃO / Warner

 “Teremos mais 60, 70 anos, disso?”

Não sabemos o que é esse “disso” a qual Maren (Taylor Russell) se refere, a personagem principal de “Até os ossos” está em busca de se encontrar, de descobrir quem é e para ela, essa procura é mais difícil do que o comum, já que é uma jovem canibal e apenas isso satisfaz seu corpo em relação a alimentação.

A solidão da personagem, por mais que ela tenha a companhia de Lee (Timothee Chalamet) é algo com o qual Luca Guadagnino (diretor do filme) trabalha muito bem, já que o canibalismo que vemos muitas vezes durante as 2h10 de duração, não fica em foco, não é o ponto principal, esse ponto é a autodescoberta.

Algo que Kathryn Bigelow em “Near Dark” trabalha muito bem, no caso, em um filme de vampiros. Essa solidão é muito próxima da gente. Acho que se sentir perdido e cansado não é algo inesperado ou surpreendente para qualquer um de nós, vemos isso em Maren o tempo todo.

E nenhuma pessoa é uma “salvação” ou um ponto confiável, elas são no máximo um balsamo, um breve momento em nossas vidas que logo acabará e seremos obrigados a voltar para nós mesmos. Nós, assim como Maren, temos apenas as nossas coisas, os nossos gostos, afazeres, vontades e falta dessas, sentimentos. As pessoas são volúveis e por mais que sejam boas e são, como Lee é para ela, no fim de tudo, é a gente com a gente.

Maren descobre isso aos poucos, o que é normal, cada um demora uma quantidade de tempo própria para saber disso. A caminhada dela tem muito mais dúvidas do que certezas, exatamente como a nossa e se dentro disso muitas vezes ela encontra o desejo e a esperança, logo ela percebe que tudo é passageiro, tem um fim e ela estará sozinha na estrada novamente.

Estrada a qual ela percorre sem opção, não tem como ela ficar em um lugar fixo já que o canibalismo deixa tantas evidencias (só vermos como eles ficam sujos após cada morte), então a casa dela é não ter casa e infelizmente, caso ela queira viver, isso é algo com o qual ela deve lidar.

Além de ter que se proteger dos perigos criados por pessoas como Sullivan (Mark Rylance) e como ela é sozinha, isso se torna difícil. Porém, dentro da solidão há aprendizado e o filme deixa claro que ela vai aprender a lidar com tudo o que vier pela frente.

Porque no fim das contas, a gente aprende a lidar com o que vem pela frente, sempre damos um jeito, estamos sozinhos numa estrada longa a qual não escolhemos estar e muito provavelmente teremos mais “60, 70 anos disso”, assim como Maren terá e da mesma maneira que é solitário para ela, é solitário (e para mim cansativo e penoso) para nós.

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