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Imagem: DIVULGAÇÃO / Warner |
“Teremos mais 60, 70 anos, disso?”
Não sabemos o que é esse “disso” a qual Maren (Taylor
Russell) se refere, a personagem principal de “Até os ossos” está em busca de
se encontrar, de descobrir quem é e para ela, essa procura é mais difícil do
que o comum, já que é uma jovem canibal e apenas isso satisfaz seu corpo em relação a alimentação.
A solidão da personagem, por mais que ela tenha a companhia
de Lee (Timothee Chalamet) é algo com o qual Luca Guadagnino (diretor do filme)
trabalha muito bem, já que o canibalismo que vemos muitas vezes durante as
2h10 de duração, não fica em foco, não é o ponto principal, esse ponto é a
autodescoberta.
Algo que Kathryn Bigelow em “Near Dark” trabalha muito bem, no caso, em um filme de vampiros. Essa solidão é muito próxima da gente. Acho que se sentir perdido e cansado não é algo inesperado ou surpreendente para qualquer um de nós, vemos isso em Maren o tempo todo.
E nenhuma pessoa é uma “salvação” ou um ponto confiável,
elas são no máximo um balsamo, um breve momento em nossas vidas que logo
acabará e seremos obrigados a voltar para nós mesmos. Nós, assim como Maren,
temos apenas as nossas coisas, os nossos gostos, afazeres, vontades e falta
dessas, sentimentos. As pessoas são volúveis e por mais que sejam boas e são,
como Lee é para ela, no fim de tudo, é a gente com a gente.
Maren descobre isso aos poucos, o que é normal, cada um
demora uma quantidade de tempo própria para saber disso. A caminhada dela tem
muito mais dúvidas do que certezas, exatamente como a nossa e se dentro disso
muitas vezes ela encontra o desejo e a esperança, logo ela percebe
que tudo é passageiro, tem um fim e ela estará sozinha na estrada
novamente.
Estrada a qual ela percorre sem opção, não tem como ela
ficar em um lugar fixo já que o canibalismo deixa tantas evidencias (só vermos
como eles ficam sujos após cada morte), então a casa dela é não ter casa e
infelizmente, caso ela queira viver, isso é algo com o qual ela deve lidar.
Além de ter que se proteger dos perigos criados por pessoas como
Sullivan (Mark Rylance) e como ela é sozinha, isso se torna difícil. Porém, dentro
da solidão há aprendizado e o filme deixa claro que ela vai aprender a lidar
com tudo o que vier pela frente.
Porque no fim das contas, a gente aprende a lidar com o que
vem pela frente, sempre damos um jeito, estamos sozinhos numa estrada longa a
qual não escolhemos estar e muito provavelmente teremos mais “60, 70 anos disso”,
assim como Maren terá e da mesma maneira que é solitário para ela, é solitário
(e para mim cansativo e penoso) para nós.
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