Imagem: DIVULGAÇÃO / Warner |
Honestamente, eu não sabia o que esperar de Barbie. Claro que a campanha massiva de marketing de um filme tão aguardado fez as pessoas criarem expectativas, mas eu não sabia a expectativa que criar e nem o que esperar.
Sim, eu sabia que o novo filme de Greta Gerwig seria um filme com muita comédia e piadas dentro da história da boneca mais famosa do mundo, mas o que eu definitivamente não sabia, é que Barbie iria tratar sobre mudanças.
"A vida é mudança" diz Gloria (America Ferrera), personagem do mundo real para Barbie (Margot Robbie) em certo momento e nós estamos acompanhando uma. Após entrar em crise existencial e passar a pensar sobre morte, Barbie decide ir ao mundo real e encontrar sua dona, o que ela acredita ser a chave para resolver seus problemas e voltar a ter a vida perfeita na Barbieland.
Essa viagem é uma que todos nós fazemos enquanto pessoas. Todo mundo passa pelo processo de autodescoberta e Gerwig usa isso para criar sua ligação com o público, fazendo com que nos vejamos em Barbie em algum aspecto.
A diretora primeiro estabelece o universo colorido da Barbieland, para após isso inserir Ken (Ryan Gosling) e o existencialismo dentro da comédia construída por esse estabelecimento de mundo e personagens de nomes iguais (todos na Barbieland se chamam Barbie ou Ken, com exceção de Allan, interpretado por Michael Cera).
Se a comédia é muitas vezes pastelão, lembrando até diretores que Gerwig admitiu ter se inspirado (como Jacques Tati), o universo rosa é pensado de maneira a não esquecermos que aquilo não existe, que estamos vendo um mundo de brinquedo.
O real naquele mundo de brinquedo é o que aqueles personagens sentem e os medos que Barbie tem, as ansiedades dela em um mundo aparentemente perfeito. Essas ansiedades são geradas na personagem não apenas devido ao seu medo da morte (e a descoberta que essa existe), mas também devido ao capitalismo e claro aos homens da Mattel que controlam o universo Barbie no mundo real.
A cena da caixa na Mattel faz esse comentário sobre como muitos dos medos de Barbie são gerados pelo capitalismo, claro que no mundo real os piores medos que ela passa são devido à presença masculina, mas é como se essa cena fosse um resumo, uma concretização dos medos da personagem.
Essa concretização continua quando Ken descobre o mundo real e gosta dele pelos mesmos motivos que Barbie o odeia e fica claro o quanto os dois agem diferente perante o mesmo, até porque o mundo é diferente para mulheres e para os homens.
A diferença retratada faz com que lembremos que as nossas crises existenciais têm uma clara discrepância no que diz respeito ao gênero e não à toa os Ken fazem o que fazem usando o patriarcado como principal motivação (o que não aprofundarei porque me falta conhecimento para tal).
E se essa discrepância leva ao belíssimo final do filme e a também bela cena onde Barbie chora pela primeira vez e descobre que chorar é bom e o alívio trazido ao botar esse sentimento para fora, é porque a mudança aconteceu em Barbie e porque nós nos lembramos que em algum momento essa mudança também aconteceu em nós.
Barbie faz a gente perceber que há várias situações na vida em que temos escolha e somos levados a não pensar que temos e foi bom lembrar por 1h50 de algo tão bonito quanto o sentimento de liberdade e esperança. E um pouco disso, unido a um pouco de empolgação, não faz mal a ninguém ocasionalmente.
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