O mais novo longa dos irmãos Dardenne apresenta aquilo que
eles sabem fazer de melhor, que é o estudo de personagem. A obra conta a
historia da médica Jenny Davin, que trabalhando em um consultório, decide não
abrir a porta para uma pessoa que tocou o interfone após o expediente da médica
ter acabado. Porém, depois da recusa da doutora, a mulher que tocou, morre, e
não se sabe quem ela é.
Aqui vemos uma profissional altamente dedicada, interpretada
por Adele Haenel, que começa o filme de forma otimista, e com o decorrer da
projeção passa a sentir culpa por não ter atendido o interfone. A culpa da moça
é o motor para todas as atitudes dela, por conta desse sentimento, ela passa a
investigar para descobrir a identidade da vitima, pergunta para todos os seus
pacientes, para as pessoas que conhece e com isso vemos a empatia que a personagem tem pelas pessoas.
Empatia que provavelmente a levou a escolher a profissão
dela, mas que ainda assim ela reprime, falando para seu estagiário ser distante
dos pacientes e não ter emoções durante um diagnostico, essa repressão se torna
culpa, porque, se ela não usasse a distancia como principio médico, a porta
teria sido aberta e a garota provavelmente estaria viva.
A repressão pessoal dela é muito bem exposta pelo figurino,
sempre usando um mesmo casaco cinza que está velho, sempre com camisetas e
blusas básicas, que tem uma cor só, isso mostra como ela não se abre ao mundo,
porém a cor das camisetas que variam entre o azul claro e o vermelho representa
vontade de ser mais aberta e de mudar em relação aos outros.
Os Dardenne usam aqui uma fotografia básica, que é escura, e
que mostra a cidade de Liege sempre nublada e ameaçando chover, além de estar
sempre frio, apesar de esse ponto da critica parecer uma previsão do tempo isso
faz diferença na história, a vida de Jenny é nublada, não vemos a família dela
(Caso a tenha), não vemos amigos dela, ela é sozinha, sem nenhum tipo de
relação de proximidade, a não ser com o estagiário, a qual ela estraga nos primeiros
cinco minutos de filme, e com os seus pacientes, com os quais é gentil, apesar
de ser firme nas consultas.
A culpa, ligada com a vida nublada da moça, nos dão os
motivos pelos quais ela se importa tanto em descobrir a identidade da vitima,
como ela tem proximidade com os seus pacientes e a desconhecida poderia ter
sido uma delas, ela se importa em descobrir alguém com o qual ela poderia vir a
ter uma relação.
Com a fotografia crua, a ausência de trilha sonora, o clima
de suspense é instaurado no filme de forma orgânica, o público se envolve e tem
vontade de descobrir quem é a vitima, o que ela fazia e o que realmente
aconteceu com ela para ter batido em estabelecimento qualquer durante a
madrugada.
Os irmãos Dardenne criam um suspense investigativo que foge
dos padrões, com a atmosfera crua e falta de ação, eles acertam em passar uma
realidade nos casos de desaparecimento, e ainda, colocam um belo estudo de
personagem no enredo. Aqui, conseguimos ver que as duas Palma de Ouro em Cannes
não são a toa, eles sabem como contar historias usando formas de linguagem
diversas.
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