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10/29/2022 12:00:00 PM

Mostra 2022: Regra 34

Mostra 2022: Regra 34

Regra 34
Imagem: DIVULGAÇÃO

Logo no início de “Regra 34”, em um diálogo de Simone, protagonista do filme e uma amiga, via videochamada, é dito que é necessário ressignificar certos símbolos históricos, devido a sociedade que vivemos, deveríamos refazer algumas coisas de maneira a mudar esses símbolos.

O diálogo é sobre uma prática de BDSM, Simone é uma mulher negra, advogada que acabou de ser aprovada na prova de defensoria pública, e que faz lives realizando algumas práticas sexuais como maneira de completar a renda. A pessoa que disse isso da ressignificação a ela é uma mulher branca e alguém branco falando o que alguém preto deve fazer é algo frequente nas 1h40 do filme dirigido e escrito por Júlia Murat.

10/28/2022 06:30:00 PM

Mostra 2022: Nada de novo no front

Mostra 2022: Nada de novo no front

Imagem: DIVULGAÇÃO

Há muitos filmes de guerra por aí, de várias guerras em diferentes períodos históricos e há algo que sempre chama a atenção nesses filmes, a ideia de glamour no ato de ir para guerra, o heroísmo envolvido nisso, uma suposta glória que provavelmente nunca chegará nos soldados que lutaram.

Isso ocorre principalmente nos filmes que abordam guerras mundiais, como “O resgate do Soldado Ryan” ou para citar um exemplo mais recente “1917”. Há uma noção de heroísmo ali que faz as pessoas enxergarem a guerra dentro daquele filme como entretenimento e não como algo real.

10/27/2022 05:32:00 PM

Mostra 2022: Carvão

Mostra 2022: Carvão

Carvão
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Sobreviver é muito difícil

Não sei até que ponto a vida de Irene (Maeve Jinkings) difere da vida de outros brasileiros pelo país. Claro, o caminho da personagem principal de “Carvão” tem suas particularidades, mas o principal, a essência dele, é muito parecida com a de qualquer pessoa tentando ter o mínimo nos tempos em que vivemos.

Dirigido e escrito por Carolina Markowicz, Irene é uma mulher que cuida do filho, do marido e do pai doente. Após uma proposta contraditória, mas difícil de recusar, Irene passa a esconder um traficante em sua casa e carvoaria, em uma pequena cidade do interior de algum estado do Brasil.

10/26/2022 06:10:00 PM

Mostra 2022: Fire of love

Mostra 2022: Fire of love

Fire of love

O que faz o coração da Terra bater? Seu sangue fluir?

As coincidências propostas pela vida, isso é, quando elas são propostas, são estranhas, pois como entender quando duas pessoas nascem na mesma época, tem o mesmo interesse, se apaixonam e mantém sempre, através pura e simplesmente de sua relação, o fogo do amor aceso?

Não a toa, “Fire of Love” tem esse título. O documentário de Sara Dosa, conta a história de Katia e Maurice Krafft, dois vulcanologistas, que são os objetos dessa coincidência do amor. O casal estudava vulcões e os efeitos de suas erupções na terra, morreram juntos em uma delas no começo dos anos 90.

10/25/2022 05:50:00 PM

Mostra 2022: Paloma

Mostra 2022: Paloma

Paloma
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Um sonho é muito difícil de realizar, qualquer que seja, é algo que demanda muito tempo, na maioria das vezes dinheiro e dedicação para não apenas realizar o que se quer, mas para manter isso em sua vida por muito tempo, mesmo com os diversos obstáculos pelo caminho.

“Paloma” quer casar. Mãe de uma filha pequena e apaixonada por Zé, seu namorado, ela tem o desejo de um casamento como manda o figurino, vestido, véu, grinalda, na igreja. Porém, ela é uma mulher trans, vivendo no interior do Ceará, o que torna esse sonho difícil de ser realizado.

10/24/2022 06:03:00 PM

Mostra 2022: Terceira Guerra Mundial

Mostra 2022: Terceira Guerra Mundial

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Em dado momento de “Terceira Guerra Mundial”, o público se flagra pensando se aquela situação pode ou não acontecer na vida real. A resposta é que já acontece, pois o que Shakib passa durante as 2h00 de filme não é exatamente inédito, é apenas ignorado por boa parte das pessoas, para que consigam viver com sua própria inércia.

Dirigido por Houman Seyyedi, acompanhamos Shakib, um homem que deixa a mulher pelo qual é apaixonado para ir trabalhar de figurante em um filme sobre nazismo. Após chegar no local, o diretor o vê e decide que ele, um não ator, interpretará o papel de Hitler. Sem opção, Shakib precisa aceitar o papel, ao mesmo tempo em que lida com dívidas.

10/21/2022 06:34:00 PM

Mostra 2022: A Noiva

Mostra 2022: A Noiva

A Noiva
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As vezes quero morrer, penso que já vivi demais. As vezes quero viver tudo que ainda não vivi.

...

A vida é uma coisa tão insignificante.

Essas falas, ditas por Barbara, protagonista de “A Noiva”, mostram exatamente o que é o filme, uma obra que trata sobre morte, sobre prisão e sobre não estar onde se quer de fato estar. Algo que acontece com muita frequência com todos nós, em uma série de momentos nas nossas vidas.

A personagem principal do filme dirigido por Sérgio Trefaut, é uma mulher portuguesa que, esposa de um soldado do Daesh, se torna viúva dele e precisa lidar com um julgamento, pois foi presa pelo exercito iraquiano. Mãe de dois filhos pequenos e grávida de mais um, a ideia é que nós descubramos quem é essa jovem mulher.

10/08/2022 05:14:00 PM

Mostra 2022: Armageddon Time

Mostra 2022: Armageddon Time

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Em geral, eu não acho os filmes de James Gray ruins, mas eles não me cativam como fazem com boa parte das pessoas. Gosto muito de "We own the night" e "Ad Astra", mas menos dos outros trabalhos dele, mesmo dos mais aclamados como “Z - A cidade perdida” e “Era uma vez em Nova York”..

Logo, foi com baixa expectativa que assisti "Armageddon Time", ao contrário de alguns amigos. Confesso que isso fez minha experiência boa, pois não esperar algo e não criar ansiedade é sempre bom, mas ainda assim não posso dizer que gostei do filme.

Acompanhamos a história de Paul Graff (Banks Repeta), um jovem menino judeu que mora com sua família (pais, interpretados por Jeremy Strong e Anne Hathaway e irmão) e é muito próximo do avô, Aaron (Anthony Hopkins). Com o sonho de ser artista, o único amigo dele na escola é o menino negro Johnny Davis (Jaylin Webb). O filme retrata o cotidiano dessa família e da amizade dos meninos de maneira a documentar a Nova York antiga e como era viver na época de Guerra Fria e próximo da eleição de Ronald Reagan.

Talvez esse seja o filme mais frio de James Gray, por mais que a tentativa seja de ser o mais doce e pessoal. Isso porque tudo aquilo, tanto a vida do protagonista, quanto a da família dele é muito palatável, mas não cativou, ou, para ser honesto, não me cativou.

10/27/2021 06:48:00 PM

Mostra 2021: Ahed's Knee

Mostra 2021: Ahed's Knee

Ahed's Knee
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Em dado momento de “Ahed’s Knee”, vemos como a felicidade de Y, personagem principal do novo filme de Nadav Lapid nunca está no presente, sempre está no passado, da mesma maneira que as situações apresentadas a ele nunca são exatamente boas, seja devido a ele mesmo ou pelas pessoas ao seu redor.

Único motivo que temos para isso é a pressão sofrida pelo personagem na sua profissão. Y é um diretor de filmes, que foi a uma cidade pequena em Israel para um debate pós exibição de seu novo trabalho. Nessa viagem – que acompanhamos por 1h50 – vemos a trajetória do diretor em busca de felicidade e alívio, em meio as dúvidas que envolvem o seu trabalho e a situação política do país.

10/25/2021 12:02:00 PM

Mostra 2021: Memória

Mostra 2021: Memória

Memória
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Quando eu assisto filmes de Hou Hsiao-Hsien, Edward Yang, Tsai Ming-Liang, eu sempre durmo. Anos depois, meus filmes fazem o público dormir. Eu acho que talvez esse seja um poder desses filmes, levar espectadores para outra dimensão, um estado de relaxamento, onde podemos deixar a nós mesmos para trás. - Apichatpong Weerasethakul (Tradução minha)

Lembrei dessa fala de Apichatpong Weerasethakul, no documentário “Flowers of taipei” quando assistia ao novo trabalho do diretor tailandês, “Memória”. Enquanto Jéssica (Tilda Swinton), bióloga, andava pela Colômbia em busca de uma série de coisas, da origem de um som que não a deixa dormir e de amizades para se distrair enquanto cuida da irmã.

Isso aconteceu porque na sessão na qual eu estava, várias pessoas dormiram durante o filme, acordaram e continuaram assistindo como se nada tivesse acontecido. Esse estado de relaxamento citado pelo diretor na fala e que essas pessoas atingiram, é algo que, imagino, Apichatpong não veria como algo ruim, na verdade, pelo contrário, talvez ele considerasse um elogio que um filme dele gerou isso em uma pessoa.

10/23/2021 05:21:00 PM

Mostra 2021: A Noite de Fogo

Mostra 2021: A Noite de Fogo

A Noite de Fogo
Imagem: DIVULGAÇÃO

As vezes, a vida é o escapismo para a própria vida e o crescimento é a única solução para que possamos descobrir a realidade. Em certo momento de “Noite de fogo”, dirigido por Tatiana Huezo, vemos Ana, a protagonista, fechando um olho para enxergar apenas com o outro em uma aula de biologia, cujo professor fez esse exercício para sugerir aos alunos olhar as coisas por outro ponto de vista.

Ana faz isso constantemente, por viver em uma vila que serve de mão de obra forçada para tráfico de drogas (a mãe dela e de suas amigas colhem papoula para o cartel fazer heroína), a ferramenta que ela tem para fugir da realidade é justamente a sua rotina, suas amigas, seu crescimento.

10/22/2021 07:52:00 PM

Mostra 2021: Os diários de Otsuga

Mostra 2021: Os diários de Otsuga

Os diários de Otsuga
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Levando em consideração que vivemos em um mundo cada vez mais acelerado, onde não paramos em quase nenhum momento, filmes como “Diários de Otsuga” são um alívio, pois nos faz pensar nesse ritmo e na efemeridade de tudo ao nosso redor, inclusive de nós mesmos e de nossos trabalhos.

Digo isso porque estruturalmente falando, o filme de Miguel Gomes e Maureen Fazendeiro ao mostrar os seus diários a partir do último dia, expõe como tudo de fato passa, ou ao menos passou para os envolvidos naquela filmagem, que durou alguns meses em um local aparentemente isolado em Portugal.

10/22/2021 12:54:00 AM

Mostra 2021: Jane por Charlotte

Mostra 2021: Jane por Charlotte

Jane por Charlotte
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Em 1988, quando Agnes Varda lança seu documentário “Jane B. por Agnes V.”, vemos uma jovem Charlotte Gainsbourg correndo pelos cantos da casa onde mora com seus pais, Jane Birkin (retratada no documentário) e Serge Gainsbourg (cantor e compositor famoso), enquanto sua mãe fala sobre a filha e a vida da família naquele momento.

“Jane B. por Agnes V.” deve ter sido terapêutico para Birkin de certa maneira, levando em consideração que ela fala para Varda coisas que, imagino, ela queria falar para a filha dela naquele momento, mas Charlotte nem daria a atenção devida, não por maldade ou algo assim, mas sim pela tenra idade, o momento certo não era aquele.

10/21/2021 06:28:00 PM

Mostra 2021: Deserto Particular

Mostra 2021: Deserto Particular

Deserto Particular
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Confesso que no início de “Deserto Particular”, filme de Aly Muritiba e representante do Brasil no Oscar 2021, eu estava receoso, como o homem negro que sou. A obra, que acompanha o policial Daniel (Antônio Saboia), me deu a impressão que seria mais um filme sobre racismo e tentando, de certa maneira, “limpar” a figura de um policial agressivo.

Felizmente, meu receio acabou quando o personagem faz sua viagem para Sobradinho, em busca de Sara, uma mulher que ele conheceu na internet e após ela passar a ignorar ele depois de um bom tempo conversando (e isso acontece após ele ser pego no flagra de uma agressão em serviço), o faz ir até a cidade dela e procurá-la, largando seu pai doente e sua irmã mais nova.

10/18/2021 08:57:00 PM

Mostra 2021: Um herói

Mostra 2021: Um herói

Um herói
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Em dado momento de “Um herói”, novo filme de Asghar Farhadi, eu lembrei de seu – possivelmente – melhor trabalho, “A separação”, obra na qual fiquei o tempo inteiro me perguntando como toda aquela situação não tinha chegado, em nenhum momento, até o conflito físico entre alguns dos personagens homens. Para mim, esse confronto era inevitável e felizmente Farhadi não usou essa solução para sua história.

No novo trabalho do diretor iraniano, temos sim, brigas físicas, mas, ao contrário do filme de 2011, eu pensei que a situação apresentada pelo diretor era facilmente resolvível através de uma conversa. Isso porque é algo bem simples, que foi tornado complexo pelas pessoas envolvidas. Rahim, um homem que saiu temporariamente da prisão e foi ver sua família, acha uma bolsa com moedas de ouro e após tentar vender o conteúdo (e falhar), ele decide devolver a bolsa para a dona. Ao devolver, o homem fica famoso por ter sido, pura e simplesmente, honesto.

O que revela duas coisas: a honestidade está em falta e como as pessoas criam, frequentemente tempestade em copo d’agua. Claro, Rahim poderia ter pagado sua dívida com o dinheiro (dívida essa que é o motivo dele estar preso), mas escolheu, após falhar na venda do ouro e interpretar isso como um sinal, fazer o mínimo e retornar a bolsa para sua dona.

Digo “fazer o mínimo”, pois Farhadi faz algo que sempre fez em seus filmes (com exceção de “Todos já sabem”), ele mostra como pessoas podem ter pontos de vista diferentes e estarem certas em suas opiniões sobre o mesmo assunto. Isso soou centrista, mas não tem como o espectador culpar o credor de Rahim por querer o dinheiro de volta, da mesma forma que o protagonista usar o filho pequeno como forma de comover as pessoas e fazerem essas sentirem dó dele, é algo no mínimo questionável.

Farhadi joga essas opiniões conflitantes em seu filme de maneira organizada, onde assim como em uma situação na vida real, os fatos e opiniões não são expostos ao mesmo tempo, cada pessoa tem sua própria agenda e nunca põe o interesse do outro acima de seus próprios. É uma competição socialmente aceita por todos nós, que competimos basicamente o tempo todo.

Para perceber isso, é só prestar atenção em como a direção da prisão muda com Rahim após a devolução da bolsa e da “fama” dele, como a associação que media sua condicional também muda após uma série de fatos envolvendo dinheiro e como Rahim tenta se manter firme em meio a tudo aquilo.

Vemos que ele acredita em sua honra e honestidade, quando ele se vê amparado por várias pessoas (inclusive as citadas acima) ele acha que é o único certo, então, quando a situação muda e ele percebe que cada um dos envolvidos tem interesses próprios, Rahim parece ter dificuldades de adaptação a nova situação apresentada.

Esses interesses próprios, assim como as opiniões conflitantes e certas citadas acima, também são válidos. A associação mediadora não pode ajudar Rahim se esse impede (involuntariamente) eles de fazerem seu trabalho (ajudar presos e suas famílias), da mesma forma que a direção da prisão, que estava em busca de fama, não pode largar a administração da penitenciaria, para, pura e simplesmente ajudar o protagonista.

Da mesma maneira que o credor precisa ser pago, porque sem o dinheiro, como é que ele vai viver e pagar as contas? No fim, ter seus próprios interesses não é o problema, o problema é quando eles entram em conflito. Pensando em “A separação”, a briga é apenas argumentativa, em “Um herói” essa briga avança para o físico, quando o desespero dos envolvidos é tão forte, que eles externalizam isso do único jeito que julgam possível.

Assim, ficamos pensando o tempo inteiro em quem está certo ali e principalmente, qual lado assumir, sentimento despertado em outros filmes do diretor. Ao que tudo indica, “Um herói” pode ser o retorno de Asghar Farhadi aos bons trabalhos, após “Todos já sabem”, sabíamos que o próximo filme seria melhor. Agora, é esperar o próximo. 

10/16/2021 12:00:00 AM

Mostra 2021: Pegando a estrada

Mostra 2021: Pegando a estrada

Pegando a estrada
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Em dado momento de “Pegando a estrada”, há uma cena em que o filho mais novo – que deve ter por volta de uns 6, 7 anos – deita-se em cima do pai e começa a conversar com ele sobre heróis. A relva que os absorve passa a se transformar em estrelas e assim vemos o céu noturno daquele local, tratado como destino pela família protagonista do filme.

Não sei até qual ponto a obra de Panah Panahi é de certa forma uma ferramenta para suprir coisas, relações e conversas, que ele não teve com seu pai, Jafar Panahi, consagrado diretor iraniano (até porque, não sei da relação dos dois). Também não sei se caso o filme seja uma ferramenta substitutiva de algo, se o realizador fez isso de maneira consciente, apenas pode ser uma ideia que eu vi dentro do meu ponto de vista.

10/13/2021 04:18:00 PM

Mostra 2021: Má sorte ou pornô acidental

Mostra 2021: Má sorte ou pornô acidental

Má sorte no amor ou pornô acidental
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É no mínimo interessante e até arriscado, que se faça um filme de comédia (com cenas de sexo explícito), nos tempos atuais e em um país conservador como a Romênia. Talvez, Radu Jude já tivesse a ideia desse filme há tempos e apenas o ano de lançamento veio a calhar com o momento atual e adaptações foram feitas, mas, ainda assim, é interessante.

“Bad luck banging or loony porn” acompanha Emilia, uma professora de história que teve um vídeo de sexo com seu marido publicado na internet. Esse vídeo chega nos pais de seus alunos que exigem uma reunião para decidir se a demitem da escola ou não. O filme se desenrola em torno desse vídeo e da sociedade atual, usando a pandemia como um de seus temas.

Fica clara a intenção de Jude em contar uma história que faz uma crítica, usando a comédia como ferramenta, à sociedade romena. Seja através da rotina de Emilia – que acompanhamos na primeira parte das três do filme -, ou usando o segundo ato, que é basicamente um dicionário com termos relacionados a história do país ou com palavras que o diretor acha engraçadas.

Através de imagens de arquivo e vídeos de celular, esse ato do filme é o mais interessante e é onde vemos a ideia de Jude de fato funcionar, ou melhor, “funcionar”, porque não dá para saber o que é ironia e o que é sério dentro das explicações dos termos não históricos e tem coisas que as pessoas podem achar de mal gosto ou desnecessárias para a obra.

Mas, ainda assim, é melhor esse ato do que os outros dois. O primeiro ato (que começa após vermos o vídeo vazado integralmente) é a rotina de Emilia, que percebemos ter mudado completamente depois do ocorrido e o terceiro ato é a reunião de pais na escola, onde vemos um retrato daquela sociedade, que é muito próxima a sociedade brasileira.

Há todos os tipos de pessoas naquela reunião, inclusive o espectador é capaz de prever o comportamento das pessoas em relação a postura deles caso eles fossem brasileiros e não romenos. Ou seja, vemos que o pensamento atual que domina muitas das bolhas sociais são mundiais e não ocorrem apenas aqui, o que torna tudo mais sério.

Por ser um aspecto sério, não sei até que ponto o timing foi bom para lançar um filme de comédia que aborda isso. Nada daquilo é engraçado, uma mulher teve a privacidade violada e a reunião serve mais como humilhação pública do que qualquer outra coisa, as pessoas representadas ali existem no nosso dia a dia e fazem parte de tudo o que está acontecendo e a comédia não acrescenta em nada ao filme a não ser um riso envergonhado quando a obra acaba.

Falar no final da projeção que “o filme é uma piada” é necessário ao mesmo tempo que é um paliativo para possíveis reações negativas que a obra terá no futuro. Esse pensamento também se encaixa nos três finais que a obra apresenta (isso não é spoiler). Se o timing foi errado é algo que apenas saberemos no futuro, mas, talvez nem tenhamos futuro, o jeito é pensar no agora.

 

12/21/2020 12:00:00 AM

Crítica: A Febre

Crítica: A Febre


A Febre
Imagem: DIVULGAÇÃO 

A maior febre que alguém pode ter é a de não ser você mesmo. Esse tipo de coisa causa problemas inimagináveis, mas, quando se vive em um país como o Brasil, isso acontece com mais frequência do que se imagina, o que gera solidão e inevitavelmente, tristeza.

Justino (Regis Myrupu) é um personagem triste, porém, mais triste ainda é o fato que o protagonista de “A Febre”, dirigido e escrito por Maya Da-Rin não é apenas o protagonista desse filme, mas, na verdade, é uma representação de vários indígenas que passam pela mesma coisa que ele passa.

11/30/2020 12:00:00 AM

Crítica: Valentina

Crítica: Valentina

Valentina
Imagem: DIVULGAÇÃO 

As vezes, o espectador é levado a pensar que filmes sobre negros, LGBTQIA+ e mulheres, são obras que contam histórias de sofrimento passados por essas pessoas e superados ou não por elas. Isso acontece devido a um sistema que usa essas pessoas para vender e apenas para isso, não para contar histórias de fato. Sendo assim, assistir "Valentina" é um alívio, pois claro, assim como toda pessoa, a protagonista tem problemas e problemas sérios, mas, o que vemos é pura e simplesmente vida.

Vida de uma menina trans que quer, novamente, assim como toda pessoa, viver. Dirigido e escrito por Cássio Pereira dos Santos, acompanhamos a personagem título (interpretada por Thiessa Woinbackk), quando essa se muda para uma nova cidade e precisa do pai desaparecido para poder se matricular com o nome social na nova escola.

11/23/2020 12:00:00 AM

Crítica: Babenco - Alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou

Crítica: Babenco - Alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou

Babenco - Alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou
Imagem: Imovision / DIVULGAÇÃO 

É simbólico pensar que devido a arte, o autor dessa nunca morrerá, mesmo depois que ele morre. Graças ao trabalho que fica, o autor ou autora sempre estará presente no imaginário das pessoas, principalmente das pessoas que conheceram o autor ou autora, ou melhor, que conviveram com ele.

“Eu imagino um jantar, onde eu não estou lá, mas as pessoas não sabem que estou vivo, em Hong Kong, em um belo apartamento”. Imaginar isso é ter, de certa forma, fé, crença de viver um pouquinho mais, mesmo quando tudo indica que isso não vai acontecer. Se imaginar vivo, um jantar do seu próprio velório, talvez seja a maior prova da vontade de viver de Hector Babenco.

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