Asghar Farhadi trata em seus filmes histórias reais, de
pessoas reais em ambientes reais, é um estudo de personagem, assim como Ingmar
Bergman e Abbas Kiarostami, o importante nos filmes de Farhadi não são os
aspectos técnicos, mas sim os sentimentos, a empatia que cada personagem gera.
A força de “O Apartamento” é justamente essa, o filme conta
a história de Emad e Rada, um casal, que são atores em uma peça de teatro, “A
Morte do Caixeiro Viajante”. Os dois tem que sair de seu apartamento, pois o
prédio corre o risco de desabar, por conta disso, eles se mudam, na nova
morada, alguém invade a casa, e ataca a mulher no banheiro.
Usando uma história horrível para gerar uma reflexão que já
deveria ter sido embutida em todos nos há muito tempo, a obra trata justamente
das consequências do ataque a Rada na vida do casal. A mulher passa a ver o
mundo com um olhar de desconfiança, o que é esperado por qualquer um que tenha
decência, e passa a ter medo, medo de ficar sozinha em casa, de sair sozinha e
até de trabalhar Porém, ela luta, ela passa a enfrentar tudo isso, mostrando
um amor pela vida que surpreende, expondo uma força que inspira e, além disso,
ela ainda lida com a pressão velada das pessoas que perguntam de forma direta
ou indireta porque ela não vai a policia, mas, ela dá sempre a mesma resposta,
seja com seu silencio ou com sua voz que é a seguinte: Para que ir a policia,
sendo que vão falar que a culpa é minha?. E sempre fazem isso, em qualquer lugar
do mundo, parece que as pessoas insistem em culpar as vitimas! Um absurdo!
Porém, o marido dela, Emad, não faz isso, inclusive, pelo
contrario, ele a apoia e a respeita totalmente, ao mesmo tempo em que está
profundamente abalado pelo acontecido, ele tenta viver da melhor maneira
possível, e tenta ajudar a mulher a viver também, mas ele sabe que é
extremamente difícil.
O que nos leva a falar da atuação perfeita de Shahab
Hosseini, que ator fabuloso, o tom sensível com o qual fala com a mulher
durante todo o filme comove, a forma como trata as pessoas é exemplar, e o amor
pela arte que ele mostra é sensacional, sempre buscando ensinar literatura aos
seus alunos e propagando o teatro para as pessoas. A atuação de Hosseini, que
ganhou o premio de melhor ator em Cannes neste ano, é uma das melhores nesse
ano, por conta da sensibilidade do personagem.
Taraneh Alidoosti que interpreta Rana mostra força o tempo
todo, força no seu trabalho, por conta da influencia que tem no elenco da peça,
força em casa, exposta muito bem na cena da mudança, e força em seu silencio, e
na vontade de dar continuidade a vida, e essa é sem dúvida motivada pelo amor
que sente por sua profissão e por seu marido.
Farhadi faz uma critica a sociedade machista e até mesmo as
cenas de humilhação pública que frequentemente acontecem no oriente médio, de
forma inteligente, elegante, usando as cores e principalmente usando o cinema e
o teatro unidos em uma obra que encanta pela sua força, pelo elenco e pela
metalinguagem, e choca por conta de sua história, que, infelizmente é tão real,
e tão próxima das nossas rotinas. Filme imperdível, didático e necessário.
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