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No decorrer da história, apesar de seus vários
acontecimentos marcantes, todos eles, ou a grande maioria deles, têm algo em
comum que é a luta de classes. Esta luta de classes sempre busca igualdade e
representatividade, mas, com o passar dos anos, e com o avanço da mídia, na
maioria das vezes as pessoas não sabem quando esta luta de classes acontece, ou
onde acontece, mas ela sempre está presente. Isso é justamente o que o filme
“Era o Hotel Cambridge” mostra em suas quase duas horas de projeção.
O filme conta a historia dos moradores da ocupação Cambridge
localizada no centro da cidade de São Paulo, que abriga várias pessoas, em um
prédio de quinze andares. O edifício abriga todo o tipo de gente, de todo
grupo étnico, de toda a localidade do Brasil e ainda refugiados vindos do
Congo, de Israel e de outros países que se encontram - ou não - em guerra.
É aqui que reside o maior ponto positivo do filme, que é a
imersão na vida dos moradores do prédio, o público passa a fazer parte daquele
lugar, seguindo os residentes através da câmera, e acompanhando todo o
cotidiano do lugar por todos os seus andares. E o que vemos? Vemos pessoas que
protestam contra um sistema usando a cultura, vemos peças de teatro, músicas,
poemas, desfiles, gravação de um vlog e principalmente, vemos empatia, todo
mundo se ajuda e principalmente, todo mundo ensina algo ao próximo, e é
justamente isso que é a vida, cada pessoa, independente de por quanto tempo ela
permanece em nossas vidas, ela deixa uma marca, algo que vai ficar e que sempre
iremos lembrar, ali, na ocupação, vemos gente deixando suas marcas em gente,
que poderia ser qualquer um.
E, já que poderia ser qualquer um, o que dizer de uma frase
de um dos refugiados, Hassan, que me chamou muito a atenção, ele diz que todos
nós, estrangeiros ou brasileiros, somos refugiados, é exatamente isso, nós
somos refugiados em uma sociedade hipócrita que diz querer mudar, mas que não
aceita o diferente, somos refugiados por conta de um sistema que não dá
educação e cultura para buscarmos saídas e somos refugiados nas nossas próprias
vidas, que unidas com esses aspectos, nos torna estrangeiros dentro de nosso
próprio país e principalmente estrangeiros dentro de nos mesmos.
Para falar das partes técnicas, enquanto assistia ao filme e
me encontrava imerso na vida daquelas pessoas, me lembrei de um documentário de
Eduardo Coutinho chamado Edifício Master, que trata justamente de moradores em
um prédio no estado do Rio de Janeiro. As temáticas dos filmes são diferentes,
mas nos dois, vemos como as pessoas, que são completamente diferentes tem que
viver lado a lado todo dia, o lado antropológico dos dois prédios é muito
semelhante nisso, ninguém é exatamente igual, todos tem aspectos em comum, e
são as diferenças que fazem todos conviverem e se tornarem iguais.
Isso fica evidente em “Era o Hotel Cambridge”, muito por
conta de sua montagem, com seus planos fechados focando nas pessoas, conseguimos
criar uma empatia não apenas com a historia de cada um, mas também, em relação
ao físico, todos nós, somos muito parecidos, e nos planos mais abertos vemos
onde a ação se passa, e nas cenas onde apenas são mostrados os lugares, como a
cena da escada, ou as cenas de contagem regressiva nos fazem conhecer o lugar
como se morássemos lá, além de que, como foi filmado, tanto as cenas que
mostram onde ocorre a ação, como as cenas que mostram e contam a vida das
pessoas, me lembrou muito o documentário “Os Palhaços” do Fellini.
Se não fosse este filme, provavelmente grande parte das
pessoas não conheceria a historia dos moradores da Ocupação Cambridge, pelo
simples motivo de que a mídia não mostra isso, logo, esta obra se torna
importante não apenas pela arte, mas por ser didática, e por mostrar o lado de
dentro de uma ocupação e principalmente, por expor algo que todo mundo sabe,
mas que parecem não saber: todo mundo é igual.
Sendo assim, “Era o Hotel Cambridge” além de ser um filme
incrível, que conta a história de forma soberba, é uma obra de arte didática,
aprendemos mais sobre como funciona uma ocupação, o porquê de ela ocorrer e
ainda vemos um lado que não será mostrado em qualquer lugar. É uma obra
necessária, de uma diretora, Eliane Caffé, que com certeza, além de saber muito
bem como contar uma historia, não o fez sozinha, as pessoas ali, os
personagens, a ajudaram bastante. Que filme necessário nos dias tão conturbados
de hoje.
Quero ver essa trama ,parece bom
ResponderExcluirGostei muito de como foi contado a história. Apesar de não concordar com o método , confesso que fui tocado pela história e me fez ir mais a fundo na questão da cidadania. É tudo muito complicado e nunca tem apenas um lado .
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