12/31/2016 12:49:00 PM

Crítica: Animais Noturnos

Imagem do correio24horas.com.br
A arte nunca é a mesma para todos, cada um de nós, ao ler um livro e ver um filme, o interpreta de forma diferente do outro, isso traz mais valor a discussão posterior sobre a obra e a deixa mais interessante de ler e assistir. Além de que, seria bem enfadonho se todos nós pensássemos o mesmo sobre as obras de arte.

A interpretação e a justaposição próprias é o que faz a vida ser rica e diferente em vários aspectos para cada pessoa, e é justamente isso que faz “Animais Noturnos” de Tom Ford ser tão rico em detalhes e ser uma obra tão eficiente e desafiadora. O filme conta a história de Susan – interpretada por Amy Adams – que é dona de uma galeria de arte, casada com Hutton – Armie Hammer – que leva uma vida confortável, quando Susan recebe o manuscrito do livro de seu ex-marido Edward – Jake Gyllenhaal – que dedicou a obra a ela, obra que conta a historia de uma família – formada por Tony interpretado por Gyllenhaal, Isla Fisher que é a esposa deste e Ellie Bamber que é a filha - Susan começa a ler o livro e a identificar aspectos de sua vida pessoal na obra.




Tom Ford faz uso de uma montagem fluida e interessante para contar as historias do filme, sem essa montagem a projeção ficaria confusa e as interpretações que o público poderia ter seriam prejudicadas. Unido a montagem, estão as atuações ótimas de todo elenco, vemos em Amy Adams um olhar triste, arrependido, que ao mesmo tempo é pragmático e decidido, e em Jake Gyllenhaal, vemos dois personagens absolutamente iguais mesmo sendo abordados de forma inteiramente diferente, pois, em Tony – personagem de seu livro – vemos alguém triste e inseguro e em Edward vemos esses mesmos sentimentos, mas em um contexto diferente e justaposto de maneira perfeita com a historia.

Por falar em justaposição, é ela quem deixa o filme mais rico, pois está presente em toda a obra, nas cores das roupas de Susan que combinam com os lugares onde ela está, como, por exemplo, ela usar um vestido branco, em uma sala com moveis brancos, porém a parede vermelha combina com os cabelos da mulher que são da mesma cor, ou, ainda, a camisa branca de Tony combinando justamente com o lugar que ele está no livro e com o personagem com o qual está contracenando, que usa uma camiseta igual.

E principalmente, no fato de acompanharmos todo o filme-livro do ponto de vista de Susan, pois, graças a ela, percebemos como a montagem bem feita ajuda na justaposição dos elementos, vejamos, Tony é interpretado pelo mesmo ator que o ex-marido dela, porque a moça encontra aspectos do ex-marido que se parece com o personagem, assim como a filha dele é a mesma atriz que interpreta a filha de Susan no mundo real, o que expõe o medo que ela tem de perder a filha e ainda como a personagem do livro se parece com sua herdeira. Além de que, os sentimentos gerados pelo livro a fazem se lembrar de sentimentos que ela teve durante seu casamento com Edward, percebemos isso através de justaposições entre acontecimentos do livro e reações da mulher, quando Tony está no chuveiro, ela está no chuveiro, quando Tony está ofegante, ela está ofegante, ou, quando Tony grita, ela deixa o livro cair por conta do susto que tomou e ainda a insegurança do personagem a afeta na vida real.

São várias as justaposições da obra e enumerá-las aqui é impossível, porém, não é de se surpreender que Susan encontre aspectos da vida dela no livro, ou que faça com que os personagens tenham participado de sua vida de alguma forma, pois, todos nós fazemos isso até porque a arte nunca é a mesma para todos, cada um de nós, ao ler um livro e ver um filme, o interpreta de forma diferente do outro, isso traz mais valor a discussão posterior sobre a obra e a deixa mais interessante de ler e assistir.

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