10/31/2017 04:15:00 PM

Crítica: “Happy End” e o exagero nas referências

Happy End
Imagem: Divulgação

Michael Haneke não é um diretor qualquer, nunca foi, seus filmes sempre tratam de assuntos do passado (A Fita Branca, 2008, onde a Alemanha pré - nazismo é exposta), do presente (Amor, 2012 e A Professora de Piano, 2000, respectivamente abordando o fim da vida amorosa de um casal e o início da vida de um outro casal), do futuro (O Video de Benny, 1992, onde um menino é viciado em filmar tudo) e por fim, o presente fazendo uma previsão do futuro (Cache, 2005, uma família é vigiada constantemente e recebe fitas de suas vidas).

Tendo isso em consideração, percebemos como Haneke é capaz de criar algo original partindo de coisas aparentemente inóspitas, usando sua inteligência aliada a um elenco sempre competente, para criar filmes difíceis, incômodos, o cinema dele não é para qualquer um e é isso que o faz ser um dos grandes na profissão.


Logo, ao ver o elenco fortíssimo de “Happy End”, seu mais novo projeto, pensei que veria mais uma de suas obras originais, fortes e marcantes, até porque, uma projeção de Haneke, tendo como história a rotina de uma família francesa, com Isabelle Huppert e Jean-Louis Trintignant no elenco, é algo para se ansiar.

Talvez eu tenha criado muita expectativa, e esta não se cumpriu. O filme conta a história de Eve (interpretada por Fantine Harduin), menina de 13 anos, quando esta vai morar com o pai, Thomas, na casa da família onde moram Trintignant e Huppert. Huppert é a cabeça da empresa do pai e está enfrentando uma crise devido a um desabamento em uma das obras financiadas pela indústria, Thomas nunca fez o papel de pai para sua filha, assim como Huppert nunca foi mãe para seu filho Pierre. A projeção parte desta premissa um tanto quanto caótica.

A câmera no filme está constantemente vigiando alguém, vemos isso pelo ponto de vista subjetivo, ou seja, de quem está com o aparelho na mão, por isso as diversas interfaces de câmera de celular são frequentes. Porém, mesmo quando essas aparências tecnológicas não estão lá, a câmera permanece estática, parada em um ponto e se movimentando para os lados, frente e trás (os travellings), assim, o espectador fica com a sensação de que há alguém vigiando os personagens o tempo todo, exatamente igual a “Cache”.

Há certos desdobramentos na história que lembram “Amor”, como por exemplo, o personagem de Trintignant (que também estrela “Amor”) ser um homem mais velho, já doente, desejar morrer e ter seus filhos mais jovens cuidando dele, lembrando que, assim como na projeção de 2012, Isabelle Huppert também é a filha dele neste “Happy End”, isto confirma a alusão.

As relações familiares são muito similares a “O Vídeo de Benny”, são frias, as falas entre os personagens são apenas as necessárias, não há afeto, carinho, o existente são as tentativas de sentir algo real, alguma coisa que sirva para aproximar de fato todas aquelas pessoas, desde dos irmãos, passando pelos filhos e até mesmo os empregados da casa.

Já de “A Professora de Piano”, a carta escrita pela personagem de Huppert no filme, cheia de desejos eróticos, com tendência ao masoquismo, são modernizadas pelas mensagens recebidas por Thomas nas suas redes sociais, inclusive, essas mensagens tem o texto parecido com aquele escrito na famosa carta da projeção de 2000.

Logo, como foi possível perceber, existem tantas referências a outros filmes e elas são tão fortes e frequentes, que, quando vemos, “Happy End” acaba unindo pequenas coisas de outras obras para criar a sua, e o público (principalmente aquele que já assistiu as obras citadas), fica pensando “Isso está em tal filme”, “Ah, parece aquele filme lá”, isso faz o tempo passar depressa e quando vemos, pronto, os créditos finais começam a subir.

Se há algo original em “Happy End” é a relação de Thomas com Eve, porque esta não existe e está começando agora, devido à crise pela qual a mãe da menina está internada, sendo esse é o motivo dela ir morar com o pai. Talvez, se o filme focasse nessa relação, teríamos mais uma daquelas obras de tirar o chapéu, tão comuns na carreira de Haneke.

Bom, o jeito é esperar por um “Happy End” nos próximos filmes desse diretor, ou não, vide a carreira dele. 

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