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Michael Haneke não é um diretor qualquer, nunca foi, seus filmes sempre tratam de assuntos do passado (A Fita Branca, 2008, onde a Alemanha pré - nazismo é exposta), do presente (Amor, 2012 e A Professora de Piano, 2000, respectivamente abordando o fim da vida amorosa de um casal e o início da vida de um outro casal), do futuro (O Video de Benny, 1992, onde um menino é viciado em filmar tudo) e por fim, o presente fazendo uma previsão do futuro (Cache, 2005, uma família é vigiada constantemente e recebe fitas de suas vidas).
Tendo isso em consideração, percebemos como Haneke é capaz
de criar algo original partindo de coisas aparentemente inóspitas, usando sua inteligência
aliada a um elenco sempre competente, para criar filmes difíceis, incômodos, o
cinema dele não é para qualquer um e é isso que o faz ser um dos grandes na
profissão.
Logo, ao ver o elenco fortíssimo de “Happy End”, seu mais
novo projeto, pensei que veria mais uma de suas obras originais, fortes e
marcantes, até porque, uma projeção de Haneke, tendo como história a rotina de uma família francesa, com Isabelle Huppert e Jean-Louis Trintignant no elenco, é algo para se
ansiar.
Talvez eu tenha criado muita expectativa, e esta não se
cumpriu. O filme conta a história de Eve (interpretada por Fantine Harduin),
menina de 13 anos, quando esta vai morar com o pai, Thomas, na casa da família onde
moram Trintignant e Huppert. Huppert é a cabeça da empresa do pai e está
enfrentando uma crise devido a um desabamento em uma das obras financiadas pela
indústria, Thomas nunca fez o papel de pai para sua filha, assim como Huppert
nunca foi mãe para seu filho Pierre. A projeção parte desta premissa um tanto
quanto caótica.
A câmera no filme está constantemente vigiando alguém, vemos isso pelo ponto de vista subjetivo, ou seja, de quem está com o aparelho
na mão, por isso as diversas interfaces de câmera de celular são frequentes.
Porém, mesmo quando essas aparências tecnológicas não estão lá, a câmera permanece
estática, parada em um ponto e se movimentando para os lados, frente e trás (os
travellings), assim, o espectador fica com a sensação de que há alguém vigiando
os personagens o tempo todo, exatamente igual a “Cache”.
Há certos desdobramentos na história que lembram “Amor”,
como por exemplo, o personagem de Trintignant (que também estrela “Amor”) ser
um homem mais velho, já doente, desejar morrer e ter seus filhos mais jovens
cuidando dele, lembrando que, assim como na projeção de 2012, Isabelle Huppert
também é a filha dele neste “Happy End”, isto confirma a alusão.
As relações familiares são muito similares a “O Vídeo de
Benny”, são frias, as falas entre os personagens são apenas as necessárias, não
há afeto, carinho, o existente são as tentativas de sentir algo real, alguma
coisa que sirva para aproximar de fato todas aquelas pessoas, desde dos irmãos,
passando pelos filhos e até mesmo os empregados da casa.
Já de “A Professora de Piano”, a carta escrita pela
personagem de Huppert no filme, cheia de desejos eróticos, com tendência ao
masoquismo, são modernizadas pelas mensagens recebidas por Thomas nas suas
redes sociais, inclusive, essas mensagens tem o texto parecido com aquele escrito na famosa carta
da projeção de 2000.
Logo, como foi possível perceber, existem tantas referências
a outros filmes e elas são tão fortes e frequentes, que, quando vemos, “Happy
End” acaba unindo pequenas coisas de outras obras para criar a sua, e o público
(principalmente aquele que já assistiu as obras citadas), fica pensando “Isso
está em tal filme”, “Ah, parece aquele filme lá”, isso faz o tempo passar
depressa e quando vemos, pronto, os créditos finais começam a subir.
Se há algo original em “Happy End” é a relação de Thomas com
Eve, porque esta não existe e está começando agora, devido à crise pela qual a
mãe da menina está internada, sendo esse é o motivo dela ir morar com o pai. Talvez,
se o filme focasse nessa relação, teríamos mais uma daquelas obras de tirar o
chapéu, tão comuns na carreira de Haneke.
Bom, o jeito é esperar por um “Happy End” nos próximos filmes
desse diretor, ou não, vide a carreira dele.
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