10/16/2017 12:37:00 PM

Crítica: O silencio e a música unidos em um filme musical: “Baby Driver” e a inteligência de um diretor

Baby Driver
Imagem: Sony Pictures
Friedrich Nietzsche em determinado momento de sua vida disse que “sem a música, a vida seria um erro”. E realmente, todos nós precisamos de algo com o qual possamos nos apegar, de forma que tenhamos algo firme quando alguma coisa ruim acontecer, algo no qual se apoiar.

Sem dúvida, a música é um desses apoios, e não é um apego inédito ou restrito a apenas poucas pessoas, mas, no caso de Baby, personagem principal do novo filme de Edgar Wright, a música ultrapassa a definição da palavra “apoio”, é mais como um destino, uma religião, talvez um estilo de vida.




“Baby Driver – Em Ritmo de Fuga”, conta a história de Baby, interpretado por Ansel Elgort. Motorista de fuga que trabalha para um criminoso chamado Doc (Kevin Spacey), o jovem está sempre escutando música devido a uma necessidade de prazer – e posteriormente é descoberto que por uma questão de saúde. Sendo chamado de Baby por conta de suas feições juvenis, o rapaz se envolve em um trabalho arriscado quando é obrigado a trabalhar com Bats, representado por Jamie Foxx.

A obra é inteligente em todos os aspectos técnicos, de forma que as sequencias de ação envolvendo carros – e quase todas elas envolvem – são perspicazes ao manter o espectador sempre atento, usando de movimentos de câmera inteligentes em criar tensão, enquadramentos e cortes perfeitos para não deixar o espectador perder nada e som para que entendamos de qual ponto de vista temos que acompanhar a cena em questão.

Os movimentos de câmera são ousados para um filme do gênero ação igual a “Baby Driver”, vemos diversos travellings para frente, para que o público observe o que vem a seguir na perseguição, até porque não há necessidade de focar na perseguição, sendo que acompanhamos os acontecimentos pelo ponto de vista de Baby, assim, esses simples movimentos de câmera para frente, além de expor outro viés de todo um acontecimento, serve como flash forward, saberemos o que vem a seguir, mas desconhecemos como isso acontecerá.

E esse foi apenas um de vários exemplos que poderiam ser dados, há a panorâmica na cena na qual uma perseguição de carros acontece em um estacionamento, há um contra-plongeé (filmar de baixo para cima) apenas para mostrar o prédio onde a cena seguinte acontecerá, há o ponto de vista subjetivo (o público vendo como se fosse o personagem) em determinados momentos de certas perseguições.

Esse último aspecto nos leva aos outros dois pontos citados, enquadramentos e cortes e o som. Ambos estão ligados com o ponto de vista. Pela montagem notamos como é importante em um filme de ação que o público enxergue o que está acontecendo, sem que a câmera se mova muito rápido, impossibilitando a completude da sequencia. Isso fica bem claro em duas cenas do filme, que são subsequente uma a outra, a primeira perseguição, que ocorre na cena inicial, tem pouquíssimos cortes, e os que têm são para mostrar as reações de quem acompanha Baby no carro e  a posição de seus perseguidores, a outra cena de exemplo, é aquela que vem logo a seguir a essa: Baby vai comprar café, e antes disso vemos sua caminhada até a cafeteria, toda rodada em plano sequencia (sem cortes, apenas a câmera acompanhando o personagem), isso serve para que o espectador note como a música faz parte da vida do rapaz (com partes da letra aparecendo nas paredes dos locais por onde ele passa) e também nessa cena, o filme mostra a que veio, como se a obra nos dissesse “não sou um filme de ação insana, com cenas incrivelmente rápidas e com um herói perfeito”.

O som, nesse filme é extremamente necessário, já que os pontos de vista do filme são quase todos subjetivos, e pelo personagem principal escutar música sempre, a obra se torna em todo o tempo, uma projeção musicada. Então para isso é necessário que tenhamos um oposto, o silencio. É através dele que o público percebe qual personagem acompanhar na narrativa, se quando não escutamos música é para enxergarmos a cena do ponto de vista de Doc ou de Bats, ou de algum outro personagem, quando escutamos (o que é na maior parte do tempo de projeção), temos que assistir a cena do ponto de vista de Baby.

O que, aliás, Ansel Elgort se mostra um ator talentoso encarando Baby, o rapaz carrega confiança no olhar e ao mesmo tempo ele leva prazer no seu jeito de andar, prazer em escutar música e principalmente em dirigir escutando música. Ao mesmo tempo, ele é multifacetado ao expor as inseguranças que tem toda vez que fala com Debora (representada por Lily James), moça por quem está apaixonado, demonstra medo ao falar com Doc ou com Bats e confiança a cada vez que supera algum dos medos citados.

Há duas frases que podem resumir essa excelente película de Edgar Wright, uma pertence ao diretor francês, da nouvelle vague, Robert Bresson que diz “o cinema sonoro inventou o silencio”, aqui vemos a música e o silencio unidos como um só. A outra frase é “sem a música, a vida seria um erro”, o autor? Você conheceu por esse texto, e convenhamos que ele tem razão. 

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