Imagem: Bananeira Filmes |
“Tudo é sobre sexo, menos sexo, sexo é sobre poder”, essa
frase de Francis Underwood, personagem de Kevin Spacey na série House of Cards,
da Netflix, pode ser usada para definir como se dão as relações de poder na
sociedade.
Claro, muitas coisas podem ser acrescentadas nesse contexto,
como por exemplo, a corrupção e a vontade de algo melhor. Lucrécia Martel, após
nove anos sem lançar um filme, explora em “Zama” essas relações de poder e como
elas acontecem sempre da mesma forma, mesmo no período colonial.
Don Diego de Zama (interpretado por Daniel Gimenez Cacho) é
um corregedor do governo espanhol da época colonial. Morando em uma pequena
cidade da Argentina, ele deseja ser transferido, e, para isso, aceita qualquer
tarefa que o governador da cidade lhe de, para conseguir a tão desejada carta
de transferência assinada pelo rei.
É bacana como o filme usa dos aspectos sonoros para
ambientar e prender seu público, de forma a sentirmos simpatia por um personagem
que não é simpático, não por falta de carisma e sim pelas atitudes. Até porque,
ele discrimina índios, mesmo tendo engravidado uma, ele é casado e deseja
outras mulheres, e, claro, é um homem corrupto, fazendo de tudo para subir de
cargo.
Assim, os sons se fazem essenciais no entendimento da
narrativa, porque mostra o que Zama sente naquele momento, se ele fica surpreso
com algo, a música aumenta de forma que até assusta quem assiste, já nos casos
nos quais ele fica chocado, o som que estava sendo escutado naquela cena se
repete, seja esse uma música (quando ele e um outro homem brigam) ou quando ele
descobre, por uma fala de outro personagem, que algo não esperado aconteceu (o
momento o qual Luciana fala para ele a primeira negação de sua transferência,
ele escuta a fala dela de forma embargada e repetida).
Visualmente falando, a composição dos ambientes também se dá
pela fotografia, as cenas rodadas a noite são muito escuras, o que dá uma cara
real para o momento, levando em consideração a não invenção da eletricidade
naquela época e, nos planos mais claros, a luz ofusca, de tão clara que é,
graças ao clima tropical do lugar onde o filme se passa.
Porém, apenas desses pontos positivos, o filme se alonga
mais do que era necessário, há cenas (a sequência onde Diego fica doente, por
exemplo) altamente dispensáveis, alguns planos duram mais do que o comum para
uma temática como a abordada e devido a isso, a projeção se torna arrastada e
cansativa, isso prejudica fortemente o andamento do filme.
Ora, os primeiros 40 minutos são perfeitos porque mostram
como o desejo sexual, ligado a corrupção e a ambição podem cegar uma pessoa, os
próximos 40 minutos não acrescentam em nada, pois não mostram nem a solidão do
personagem e nem as relações de poder as quais o filme vinha tratando, na última
meia hora a projeção volta a ganhar folego e a tratar daquilo abordado no seu
primeiro ato.
Portanto, Lucrécia Martel fez um bom retorno, mas poderia
ter sido melhor, ela é inteligente e elegante em seus filmes (basta assistir “A
Mulher sem Cabeça” para confirmar), assim, sabendo do que ela é capaz, “Zama”
poderia ter sido melhor, apesar de seus (muitos) bons momentos.
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