Imagem: Pagu Pictures |
Na sociedade, apesar do egoísmo crescente, há pessoas
mantenedoras da empatia, da preocupação com o próximo. Muitas delas têm uma
condição de vida privilegiada e acabam gastando dinheiro para melhorar o mundo.
Gabriel Buchmann era uma dessas pessoas. Economista, decidiu
viajar o mundo, mais especificamente o continente asiático e o africano, com o
fim de viver como um não - turista e usar o aprendido em cada pais visitado
para um estudo sobre políticas públicas sociais que serviria para ajudar os
pobres. No fim da viagem, ele decidiu como último destino o Malawi, e depois de
subir uma montanha, dispensar o guia e se perder no meio do caminho de volta,
foi encontrado morto alguns dias depois.
A história de “Gabriel e a Montanha” é a dos últimos 70 dias
da vida de Gabriel. Dirigido por Fellipe Barbosa (do brilhante Casa Grande),
amigo de infância de Buchmann, o filme assume uma tarefa complicada: contar uma
história assumindo um ponto de vista ficcional (pois o casal principal é
interpretado por um ator e uma atriz) ao mesmo tempo em que usa o documentário,
pois a projeção foi filmada em todos os países africanos por onde o economista
passou e conta com depoimentos das pessoas que ele conheceu.
Cumprindo a tarefa relatada no parágrafo acima com sucesso,
o filme consegue não idealizar o personagem principal – algo muito comum em
filmes biográficos – e por ser dirigido por alguém que o conheceu, esse aspecto
é um ponto positivo grande. Vemos Gabriel com a personalidade complexa comum
das pessoas, ele busca o tempo inteiro viver como um nativo, fazendo amizade e
conquistando todos de maneira fácil, dormindo no chão da casa deles,
dividindo a cama pouco tempo depois de os conhecer e ajudando as comunidades
como pode. Também vemos como ele poderia ser ruim, as cenas com a namorada
deixam isso bem claro, em determinados momentos ele foi sexista, machista e “unilateral”
(a palavra usada pela moça), assim, além de multifacetar o personagem, o
diretor expõe a cumplicidade do casal, nenhum dos dois é perfeito, mas ambos
tentam corrigir os erros.
Essa complexidade é possível graças à atuação de João Pedro
Zappa (Gabriel) e Caroline Abras (Cristina), ambos são inteligentes para evocar
as personalidades de seus papeis e mais do que isso, eles buscam explorar o
outro personagem, fazer com que seus pensamentos sejam revelados pelo outro e
nunca apenas por si mesmo.
Os depoimentos de cada pessoa que conheceu Gabriel são
encaixados devido a uma decisão inteligente de Barbosa, ao invés de colocar
cada personagem em frente a câmera para falar, ele primeiro apresenta o
personagem dentro do drama (ou seja, conversando com Gabriel ou com Cristina) para depois, com
o som em off, expor aquilo que foi dito sobre o rapaz pela pessoa apresentada
anteriormente. Esse tipo de decisão, alternada com as cenas, levam a comoção,
ao sentimento de empatia pelas pessoas que o conheceram e que sentiram a dor de
sua morte.
Logo, quando Cristina fala de sua despedida de Gabriel, é fácil
se identificar com a dor sentida pela mulher, quando um dos guias fala como o
jovem o ajudou, é simples perceber como ele marcou a vida das pessoas e com o
filme introduzindo as fotografias reais que Buchmann tirou em sua viagem, é perceptível
como ele levava o estudo a sério e como a viagem era importante para ele.
Portanto, “Gabriel e a Montanha” é um filme sobre a vida,
sobre as sensações que esta traz e sobre as montanhas que cada um de nós sobe
todo dia em busca de algo melhor, para gente ou para mundo, e nesse caso, não faz
a menor diferença.
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