Imagem: Netflix |
Há vários filmes nacionais de ação, ao contrário do que boa
parte do público brasileiro pensa, e isso se deve muito a duas coisas, os
filmes “Deus e o Diabo na Terra do Sol” e “Dragão da Maldade contra o Santo
Guerreiro” de Glauber Rocha, e aos anos 2000, devido aos dois filmes “Tropa de
Elite” de José Padilha.
Talvez, as duas primeiras projeções tenham servido de
influencia para “O Matador”, de Marcelo Galvão, primeiro filme brasileiro feito
pela Netflix. A obra conta a história de Cabeleira (interpretado por Diogo
Morgado), abandonado ainda bebê no meio do sertão, é criado por um matador e,
quando este desaparece, decide procura-lo e passa a seguir seus passos, ou
seja, ele também se torna um matador.
O filme tem diversas coisas boas em suas uma hora e 39
minutos de duração, muito disso se deve ao seu aspecto técnico, que enriquece a
obra de forma surpreendente. A fotografia, montagem e caracterização de
figurinos merecem um destaque a parte de tudo aquilo contado na projeção.
As cenas são todas muito bem definidas em relação a cor, no
sertão a claridade chega a ofuscar, e os planos gerais, abertos, servindo para
mostrar a paisagem árida do local, contribui para o ambiente se tornar ainda
mais brilhante, acalorado, em compensação, nas cenas noturnas, a paleta
arroxeada assume e vemos a noite com esse tom inserido de maneira leve, criando
uma bonita combinação entre a luz baixa das lâmpadas da cidade e da iluminação
natural.
Na montagem, há uma ousadia que contribui para a história,
porém também a prejudica, a estrutura do filme, de flashbacks e de flashbacks
contidos dentro deles mesmos, serve para se aprofundar em vários personagens –
como por exemplo Quatro Olhos e sua família, o Francês – porém, ao mesmo tempo que
isso é bom, o filme fica saturado de tantos personagens, porque esses são papéis secundários, não requisitando essa profundidade na abordagem, e,
como consequência, a história de Cabeleira fica de lado, prejudicando o ritmo.
Além disso, o recurso da narração em off fica em xeque, por
dois motivos, ele não é indispensável, é possível contar a história sem ninguém
narrando e porque, essa ferramenta se justifica apenas nos dez minutos finais
de projeção, ou seja, o conectivo entre um instrumento fílmico e a obra em si,
que deveria acontecer ao menos até o meio do filme, apenas é visto no fim, e
isso pode levar o espectador a pensar “Mas, quem é esse narrando a história? Como
ele sabe? Porque contar essa história?”.
Os figurinos são muito bem feitos e fieis aquela época retratada
na projeção, contribuindo na imersão do público na obra, assim como sua trilha
sonora musical, sendo pontual e potencializando o drama dentro das sequencias
de ação, um exemplo disso é o aumento da música nas cenas onde algum dos
personagens atira.
Portanto, apesar de sua estrutura ser uma faca de dois gumes,
“O Matador” é um ótimo filme, que prova a capacidade do cinema nacional em
fazer filmes de qualquer gênero, de comédia a drama, dos “cults” aos de ação.
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