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Imagem: Divulgação |
Um serviço prestado pelo cinema de maneira recorrente é o de
mostrar culturas totalmente distantes de seu público, fazendo-os assim, ao assistir
um filme de outro país, uma pessoa mais esclarecida e consequentemente, com mais
empatia.
Empatia que “Felicité”, dirigido por Alain Gomis, tenta
conseguir de maneira natural e orgânica, mas acaba falhando por ser uma projeção
estruturalmente confusa, tanto no seu roteiro quanto nos cortes, levando o
espectador a não entender a mensagem (ou as mensagens), que o filme deseja
passar.
Felicité é uma cantora, mãe solteira e com um filho de dezesseis
anos para criar. Ao receber uma ligação, ela descobre que o filho está hospitalizado,
precisa de uma operação o mais rápido possível e para piorar, o jovem rapaz
corre o risco de perder a perna, tudo isso devido a um acidente, assim a mulher
passa a tentar conseguir dinheiro para o processo cirúrgico.
Acidente nunca especificado, não sabemos o que aconteceu,
como aconteceu ou porque disso, ou seja, falta aprofundamento na história e isso
não é pertencente apenas a essa seção. Nunca sabemos os sonhos de Felicité, mesmo
os mais simples ficam implícitos como, por exemplo, o desejo de ter uma vida confortável
com uma família estruturada, porém, em relação a carreira, nunca fica exposto
se ela gosta de cantar ou se faz apenas pela necessidade.
Essa falta de aprofundamento está presente em todos os personagens,
demonstrando uma não preocupação do roteiro com o desenvolvimento da obra, nem
com a história primária – apenas uma hora do filme é dedicada a sinopse escrita
no terceiro parágrafo dessa critica – nem com as secundárias, não sabemos nada
sobre o rapaz que ajuda a protagonista e mesmo a aparência de querer um
compromisso sério com ela não se consolida.
Junto a isso, há a montagem falha em alguns momentos, um
sonho de Felicite no qual ela caminha em uma floresta usando um vestido branco,
recorrentemente aparece sem nenhuma justificativa e poderiam ser várias, por
ela ver vários animais no sonho, ela entende que a sociedade é formada por
animais? Por ela caminhar sempre em direção ao nada, indica a confusão da vida
e o fato de ela não saber o que fazer?
Nenhuma dessas perguntas é respondida, e nenhuma justificativa para o sonho é
apresentada na projeção, assim como a cena do coral, onde aparecem uma
orquestra tocando e uma mulher (que não é a personagem principal) cantando, seria
esse um sonho da protagonista? Cantar em um ambiente mais próprio para a
música? Novamente, o filme não justifica o porque dessas cenas.
Isso torna a obra confusa, pois os casos citados acima aparecem
de repente, partindo de um corte seco, seguindo uma cena absolutamente comum,
como a mãe visitando o filho no hospital ou (e principalmente), a mulher cantando
no bar, para um público que pouco se importa com o trabalho desta.
Portanto, “Felicité” é um filme com potencial, tanto para
fazer um retrato, quanto para passar mensagens conscientizadoras, mas não consegue
realizar ambos os objetivos devido a sua confusão estrutural e cenas sem motivo
algum.
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