Imagem: IMOVISION / Divulgação |
Existem filmes que são metáforas para a sociedade, fazendo uma grande comparação entre fatos, com o objetivo de criar empatia e fazer o público entender sobre a atualidade, levando-o a refletir, mesmo de maneira indireta, para conscientizar, mostrar ou mesmo ensinar sobre alguma coisa.
Dizer isso de uma obra como “O Insulto” seria errado, não pela
projeção mostrar um pequeno exemplo de uma sociedade extremista, mas porque o filme dirigido por Ziad
Doueiri é real. E é real justamente por ser efetivo em expor atualidades, pessoas que não sabem deixar de lado coisas fúteis e capazes de aumentar uma discussão mínima, até boba, em uma batalha de direitos humanos.
Toni Hanna é um cristão libanês, mecânico, ele vive com a
mulher grávida em um apartamento não muito confortavel, Yasser Salameh é um refugiado palestino,
engenheiro, trabalhando na reforma de prédios e na parte hidráulica destes. Um
dia, após uma discussão por causa de uma calha, que Toni não desejava o
conserto desta (e isso é um dos trabalhos de Yasser) os dois se xingam e o
primeiro decide processar o palestino. Porém, antes dessa atitude, Toni teceu
comentários de cunho xenofóbico para Yasser.
A riqueza da obra está contida em sua realidade, vemos como
um problema simples e facilmente resolvível com um pedido de desculpas (de
ambas as partes) se torna algo grande devido ao ódio de um deles, sentimento
esse gerado por dois pontos: seguir uma ideologia política extremista e ser
totalmente cego em relação a esta e não escutar os outros ao seu redor, constantemente reforçando a necessidade de não causar mais problemas. Ou seja, pessoas
boas podem ser dominadas pelo ódio, basta puxar os pauzinhos certos, usando palavras
e discursos envolventes.
Porque sim, por incrível que pareça, Toni Hanna é um homem
bom, ele trabalha na sua própria oficina mecânica para sustentar a casa e
ajudar o pai, ele ama a mulher e a filha e gosta muito da sua vida. Logo, é
possível perceber como ninguém recua tanto na empatia por si só, há pessoas que
desejam o ódio para poder se desenvolver e conquistar seus objetivos em cima
disso.
Uma dessas é o advogado de Toni, um homem que pega o caso
não pelo trabalho em si, mas sim pela oportunidade de autopromoção e de criar
um show midiático. Claramente, ele se aproveita da situação para ganhar
dinheiro e clientes, não se importa nem um pouco com o cunho humanístico adquirido no decorrer dos fatos e muito menos com o discurso de ódio dito pelo seu cliente.
Não que Yasser esteja certo, nenhuma das partes está, era
necessário que a calha fosse consertada, devido a lei do país (a calha da casa
de Toni era considerada ilegal), porém, se o dono da casa disse que não queria
o conserto, Yasser deveria ter acionado a empresa para qual trabalha e aí, a
instituição tomaria as atitudes devidas e não o próprio funcionário decidir resolver
a situação na hora.
Além disso, tem a questão da fisicalidade, mesmo após um
comentário como o feito por Toni, bater nele foi errado da parte de Yasser,
pois a conversa (intermediada pelo chefe de Yasser) poderia ter transcorrido
sem maiores problemas, se não fosse a agressividade nas palavras de um e a
resposta física do outro.
Porém, a vontade de acabar com tudo aquilo fica clara em
certas coisas, de ambas as partes, como Toni ter ajudado Yasser a arrumar o
carro pós conversa com o presidente (isso mesmo, a situação chegou a esse ponto)
e nas olhadas de um para o outro, essas ocorrendo no tribunal.
A câmera se move bastante, o diretor investe em travellings
e poucos cortes. Em geral, esses costumam ser para trás, expondo
como a sociedade está cada vez mais em retrocesso. Os movimentos para o lado
são mais utilizados nas cenas do julgamento, para mostrar como se dá o conflito
entre os advogados e como a sala vai enchendo com o passar do tempo, igual as
proporções do fato.
Além de todo esse retrato, a trama de “O Insulto” sempre
fica mais complexa, quando o público pensa “bom, agora vai ser o julgamento
apenas”, algo acontece, seja entre os advogados, seja entre os requerentes. Esses
fatos, sempre acrescentam algo relevante para a história principal, por conflito
de interesses, uma acusação nova ou apenas pelo cansaço nítido de todos ali.
Cansaço de uma sociedade extremista e sem foco no próximo,
que ainda acha guerra uma solução viável e capaz de transformar algo fútil em
um acontecimento prejudicial para todos ao seu redor. “O Insulto” é um resumo
de onde estamos e infelizmente uma previsão da situação na qual podemos parar.
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