Imagem: AdoroCinema / Diamond Films / Divulgação |
Todo país vende uma imagem sua para o mundo, esta nem sempre
condiz com aquilo que realmente o lugar é. Em geral, essa venda serve para
atrair as pessoas de outros lugares para os pontos desejados pelo vendedor,
México vende Acapulco e Cancun, os países do continente europeu vendem suas grandes
capitais, como Londres, Paris e Berlim, os Estados Unidos vendem cidades como Los
Angeles e Nova Iorque, além das localizadas na Flórida, como Miami e Orlando, a última devido a Disney.
Por morarmos no Brasil, historicamente falando temos uma
proximidade cultural com os Estados Unidos, aproximação esta, imposta de várias maneiras pelo país dominante (os EUA, claro), e assim, ao ver um filme que desconstrói o
paraíso localizado na Flórida, mostrando sua pobreza, crises sociais e pessoas comuns
tentando viver subjugadas pelo capital, é impossível não reconhecer como a
melhor forma de destrinchar uma nação, é que a nação mesma o faça.
“Projeto Flórida” é isso, uma desconstrução do suposto lugar
perfeito. Dirigido por Sean Baker, a obra acompanha Moonie (interpretada por
Brooklynn Prince), menina de seis anos de idade. Vemos suas brincadeiras com os
amigos e as tentativas de sua mãe Halley (Bria Vinalfe) de pagar o aluguel do
hotel onde moram, o estabelecimento é gerenciado por Bobby (representado por
Willem Dafoe).
A obra trabalha muito bem com a pobreza norte americana, que
praticamente não é mostrada por nenhum filme, e a partir disso faz uma critica
social pertinente e atual. Ao mostrar como Moonie vive, vemos como os programas
sociais (que existem em países como o Brasil, só para citar um exemplo), são
importantes para que a classe média baixa e baixa, consiga viver com o mínimo.
Logo, ao ver Halley vendendo perfumes em um hotel de gente
rica, ou dando golpes para vender supostas pulseiras de entrada na Disney sob o atrativo de serem um
pouco mais baratas, se torna fácil pensar (e comprovar) que se existissem mais
programas sociais nos EUA – um pais desenvolvido e sempre dominante devido ao
seu poder econômico – possivelmente as mães como a retratada na projeção
conseguiriam criar seus filhos em paz, com o mínimo? Sim, porém, sem precisar
cometer crimes.
Porque não, nunca será certo cometer crimes, e o grande
mérito do filme é mostrar isso. Como ferramenta para cumprir esse objetivo, a
profundidade de campo e o fato da protagonista ser Moonie são utilizadas. Toda vez
que algo errado acontece, o espectador nunca vê o ocorrido, pois a menina é
mostrada de costas e a profundidade de campo é retirada, logo, a única coisa
focada na tela é a personagem, o que ela presencia está embaçado, assim sabemos
que aquilo é errado, porém compreendemos o não entendimento da criança e o que o diretor
pensa sobre o fato.
Além disso, a fotografia é bem utilizada nesse ponto de “certo/errado”,
as cenas com as crianças exclusivamente na tela são mais claras, e os momentos
nos quais a criança divide um plano com um adulto, o quadro fica mais escuro,
deixando claro quem são os protagonistas.
Por isso, é justo falar como Brooklynn Prince rouba a cena
em quase todo o momento no qual aparece, pois ela consegue ser tudo aquilo que
uma criança na situação de vida dela é, simples, brincalhona, otimista e de fato, não sabe o que acontece, mesmo tendo uma noção bem detalhada sobre.
Além disso, Dafoe cria algo bom como o gerente do hotel, a atuação é boa e ele
aproveita bem o tempo de tela, porém, essa atuação não chega perto das melhores
de sua carreira.
“Projeto Flórida” é um filme necessário, além de fazer uma
crítica social inteligente, mostra como um país pode vender sua imagem muito
bem, a ponto de pensarmos que não existe pobreza nesses locais, e que é fácil
melhorar de vida indo para um deles. Além disso, mostra como as pessoas pobres
precisam sim de ajuda para viver, e as crianças precisam sim de qualidade de
vida e apenas pensar em brincar, como Moonie tenta fazer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário