10/24/2018 02:13:00 AM

Crítica: Não me Toque

Não me Toque
Imagem: DIVULGAÇÃO
Criar intimidade com alguém é difícil, mas, ainda assim, as pessoas tentam fazer isso, pois todos nós temos necessidade de nos relacionar com o outro. Seja amor ou amizade, o toque é algo essencial e ajuda a criar confiança dependendo do grau em que a relação estiver.

Vencedor do Festival de Berlim de 2018, “Não me Toque” é um filme sobre a criação de intimidade e confiança, mas, principalmente sobre a falta destas e mais importante ainda, sobre a falta do toque. Dirigido por Adina Pintilie, a obra conta a história de Laura, uma pessoa que não gosta de ser tocada em nenhuma circunstância, ela decide fazer um tipo de terapia corporal diferente, acompanhando as sessões de terapia de dois homens que são amigos (um deles deficiente) e contratando garotos de programa, assim, a relação entre ela e essas pessoas a faz mudar de atitude em relação ao toque.


A diretora usa cenas claras e câmera próxima para tentar criar a intimidade da atriz com o público e gerar questionamentos sobre a relação humana que são bem interessantes, como, por exemplo, tem um momento ideal para começar uma relação, seja ela qual for? Há algum mal em não gostar de ser tocada em nenhuma situação?

Para isso, a diretora usa a tática de entrevistas de documentário, falando com a atriz e entrevistando-a como se a obra fosse um filme de não ficção, isso ajuda a mostrar como é comum as pessoas terem curiosidade a respeito das outras e para criar ritmo, já que Pintilie usa cortes secos e poucos movimentos de câmera, na tentativa de deixar o filme mais dinâmico.

Mas, apesar de ritmada, a projeção é bem lenta e o roteiro não apresenta uma unidade na história, com uma estrutura não linear e beirando o experimental, já que, com exceção da dificuldade de Laura em ser tocada e do desejo dela que isso aconteça, não sabemos mais nada sobre a personagem, o que dificulta a geração de empatia com o espectador.

Nem a câmera próxima, que a diretora usa com frequência e os planos abertos e claros, que servem para entendermos melhor o ambiente e a situação de vida de Laura, ajudam nesse aspecto, já que três arcos são estabelecidos e apenas um deles é fechado, o da protagonista.

Ainda assim, o filme discute a relação entre pessoas de forma interessante, criando reflexões em cima de sua personagem principal, até porque, Laura sente o que todos nós já sentimos em algum momento de nossas vidas, pois é difícil se abrir, dizer o que sente e confiar em alguém, pois nós temos medo de fazer isso, é complicado descobrir o seu próprio corpo e como nós, fisicamente, guardamos nossos sentimentos em lugares que nem sabemos da existência, portanto, as cenas onde a câmera mostra as pessoas se tocando, se aproxima da pele e das imperfeições humanas, o filme expõe como o ser humano é igual em seus defeitos físicos.

Fora que na maioria das cenas, o corpo mostrado é o masculino, como em boa parte dos filmes, o corpo é o feminino, a diretora quebra uma parte do ciclo de objetificação da mulher, ao inverter o que é exposto nas cenas de nudez que ela cria na projeção.

“Não me Toque” é um filme que poderia durar menos, poderia ter uma história menos experimental e poderia abordar todas essas questões de forma diferente, um pouco mais dinâmica talvez, com um enredo mais compreensível, mas, tem seus pontos positivos e uma diretora que constrói as reflexões que quer de forma muito bem-feita. Porém, a projeção poderia ser melhor.

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