2/18/2019 12:00:00 AM

Crítica: Border

Border
Imagem: DIVULGAÇÃO
Pensar em “Border”, filme dirigido e co escrito por Ali Abbasi, é pensar em um filme que trabalha vários temas usando a forma metafórica, o subtexto e não a explicitação dos fatos que deseja abordar durante as suas uma hora e quarenta e cinco minutos de projeção.

Acompanhamos Tina, interpretada por Eva Melander, uma guarda de alfandega do aeroporto da cidade onde vive. Ela tem um sexto sentido, devido a um raio que a atingiu quando criança, ele consiste numa intuição, que apenas ao olhar ou sentir o cheiro da pessoa, ela sabe se essa pessoa cometeu ou cometerá um crime no futuro próximo. Ao abordar, usando essa habilidade, Vore (representado por Eero Milonoff) e não encontrar provas de nenhum crime, ela passa a investigar o rapaz mais de perto, para descobrir o que há de diferente.

Abbasi trabalha esse subtexto de temas, ao mesmo tempo em que não tem nenhum medo de abraçar a fantasia que o filme propõe, ou seja, a obra entende o que é e o que deseja ser e usa o roteiro e principalmente a montagem para trabalhar isso junto a seu público.

Essa montagem efetiva se deve aos temas variados. Vemos Tina como uma mulher independente e que se sente fora da sociedade apenas por ser quem é, ela vai mudando isso na medida em que se descobre e se aceita como aquilo que é e como membro de um grupo estável de pessoas que existe e merece respeito.

A auto aceitação, nesse caso, está ligada a proximidade de Tina com os animais, que para ela são muito mais do que simples criaturas, são amigos e porque não dizer, família. Logo, a partir dessa questão, vemos como a questão do gênero, para ela, é algo muito importante.

Importante porque isso a define como um ser e levando em consideração que no reino animal, o conceito de macho e fêmea é algo relativo, as vezes o macho é o líder e as vezes a fêmea é a líder da sociedade, inclusive no aspecto da relação sexual, vemos como para Tina, faz diferença esse ponto e como ela se torna uma líder, tanto do próprio corpo em relação ao outro, quanto líder social, vide cena final.

Porém, mesmo com esses dois subtemas importantes, ainda há espaço em “Border” para um terceiro assunto, no caso, o filme trabalha com o racismo. No caso, quando Tina descobre quem é, ela percebe como sofreu preconceito durante toda a sua vida, seja em casa, começando pela relação dela com o pai, ou na relação dela com os humanos – vendo o filme, essa frase fica mais clara – que sempre a trataram com agressividade, inicialmente pela fisicalidade e aparência dela, porém, depois vemos que é muito mais do que isso.

Em relação a aparência, o filme faz um trabalho excelente na construção desta apenas com a maquiagem, usando poucos efeitos especiais no rosto de Melander e Milonoff (o filme faz os dois serem parecidos devido a um ponto importante na história que não pode ser contado aqui), o rosto mais cheio dos dois, o corpo mais avantajado e forte de Tina, foram feitos com um detalhismo que merece destaque e a câmera de Abbasi ajuda nessa atenção.

Muito mais do que um filme de fantasia, sem medo de abraçar seu gênero e abordando temas sérios de forma metafórica e inteligente, “Border” foi uma grata surpresa no ano passado e no Oscar deste ano. Ao pensar que 2018 foi um ano em que grandes filmes foram minoria, essa projeção não será apenas uma obra que foi lançada para ser esquecida. Pelo contrário!

Veja o trailer aqui:

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